quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Tarefas Importantes (21 março 2008)

É muito comum você ver na TV matérias sobre o trabalho das pessoas e sempre ouvir que as"tarefas mais importantes" devem ser desempenhadas pelos mais capacitados e receber salários mais elevados... se isso não é dito assim explicitamente, vem embutido nas entrelinhas. É o senso comum agindo ? perversamente. Isto significa que, em nossas sociedades capitalistas, o trabalho manual ainda é tido como desvalorizado, porque não exige especialização e anos de formação educacional. Aqui, claro, se incluem os trabalhadores rurais, especialmente! - são aqueles que receberam da tradição, ou seja, da família, o manejo necessário para lidar com a roça ou com a criação...
Essa ideologia não quer ver a realidade ou quer encobrir a realidade - o fato de que é o trabalho na terra que produz o essencial para a vida e a sobrevivência, o alimento de todo santo dia! Afinal, por mais valorizado que seja o trabalho nas áreas das comunicações e da informática, ainda não comemos (apenas) informação.
A divisão da sociedade em classes nos leva a definir as classes sociais pelo lugar que elas ocupam no processo de produção e, confirmando Karl Marx, pelo lugar na formação social durante o desenvolvimento da luta de classes.
Sim, as relações sociais são históricas e são produzidas pelos seres humanos. Portanto, são passíveis de mudança e transformação. Já é hora de compreendermos a necessidade de uma consciência de classe, adequada ao momento de transição que vivemos, esse longo período de passagem ao modo de produção socialista. Isto, se desejamos realmente superar a ideologia dominante,ainda alimentada pelos vapores do funcionalismo, de origem norte-americana... que gosta de nos enganar com coisas do tipo "a necessidade universal de estratificação em qualquer sistema social" ou "as sociedades precisam da desigualdade social porque a competição motiva os indivíduos na estrutura social"...
- Não !
A formação social não precisa da desigualdade social. A estratificação social aparece, nessa ideologia, não como algo produzido pela maneira como a sociedade produz seus meios de subsistência (modo de produção), mas como razão justificável e justificadora da própria "estrutura social". - Isto é ideológico. A estratificação é um fenômeno da superestrutura: são fixações sociais e jurídicas, mentais, de certas relações de classe. São racionalizações ou justificações do sistema econômico existente, ou seja, uma ideologia.. São fósseis das relações de classe, quando muito.
Na verdade, a estratificação social tem sua história e se insere no processo da luta de classes. As posições de classe fazem parte da luta de classes. A desigualdade não é uma função; ela é produzida por uma ordem estabelecida e funciona... no processo de dominação de uma classe por outra, pela que detem o poder de Estado e dos meios.
"Estratificação" é uma palavra da geologia e significa sedimentação de terra ou de rochas, que se solidificam formando estratos, ou camadas.
Essas palavras dizem bem o nível ideológico desses termos, dessa escolha. Na formação social, tal sedimentação em camadas ou estratos não é natural, é consequência de coação, repressão, luta de classe. Não flui ao vento ou às águas. É algo histórico e consequente da ignorância. Algo que se relaciona com a ética, ou melhor, com a falta de ética, algo desumano. E, portanto, passível de ser revolucionado.
A formação social está em processo, é dinâmica. Não é uma rocha. Só o que temos que fazer é transforma-la. Lembre-se: as classes só existem em relação umas com as outras. Da forma como o "senso comum funcionalista" fala, parece que as camadas são colocadas sucessivamente, como as substâncias de um terreno ou solo... Ocorre que a formação das classes sociais não se dá através da estratificação. Esse tipo de sociologia se origina da ideologia burguesa, que quer a formação social, chamada "sociedade", eternamente sedimentada... uma classe se consiste quando toma consciência de si mesmo e atua para si.
Função é a contribuição que um elemento cultural presta para a perpetuação de uma configuração socio-cultural. Então, a desigualdade seria uma causa da formação capitalista e não a consequência. Na verdade, ela realimenta o processo de exploração da classe trabalhadora.
Para o funcionalismo, a sociedade é um grande mercado que interage em harmonia, em graus. Não há conflitos.
Trabalhar na terra é a tarefa mais importante.Uma sabedoria que, atualmente, mais do que nunca, possui um valor extraordinário - afinal, precisamos salvar a vida no planeta! Por isso, reafirmo aqui, mais uma vez, aquelas minhas palavras de ordem:
- Terra para quem nela trabalha, de uma maneira ecologicamente sustentável. O chão e o planeta.
- Viva o MST ! Não pode haver proteção ambiental sem a regulamentação da questão fundiária.
- Todo indivíduo é necessário, mesmo sem o "estatuto do emprego", e tem direito à seguridade social.

Joyce Pires.

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