sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ESSA MANTRA (15 outubro 2009)

Estava no pátio aberto na luz
E logo ao primeiro som da mantra
Os gaviões começaram a gritar
E ficaram assim, a cada sílaba
Sagrada, correspondendo até o fim
E então me levantei e liguei na fm
E Ela cantava Tua e só tua
É... sou tão e somente tua
Assim, o eco
Um ecoar da sabiá
Um cântico romântico
Como se a minha voz
Pudesse alcançar
Além de todas as outras
E te encontrar fora de mim
Enfim vajrasambava
Só tua, sou tua, sim
Sou assim mesmo Romântica
E tal e tanta
Tão belo tantra
Essa mantra.

(Lógica e Tal - Joyce Pires)
O POVO É O OCEANO
A GUERRILHA É O PEIXE.

MAO TSÉ DONG
VORAZ (11 julho 2001)

Quando penso em você
Sinto uma fome imensa
Quando penso em você
Tenho uma sede imensa
Sede nordestina
De escaldantes desertos
Quando penso em você
Ah, tenho uma vontade imensa de viver.

Quando penso em você
Sinto uma fome VOraZ !


- Muitas serão as palavras
para dizer o pedido, o Desejo: Voz !


(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 289, em 11 julho 2001)
UM TEMPO (05 junho 2003)

As fotos pararam o tempo
Os fatos passaram
As coisas mudaram, a vida mudou
E as fotos ali, parando o tempo
Não sabem, não poderíamos saber
O tempo, perdido, em que fomos
Uma da outra...
E o tempo parado no instante da foto
O amor ali no seu rosto
E no toque de meu dedo ao fotografar:
Luz, câmera... e o instante parado
Fixado na mente e no corAção
As fotos pararam o tempo
Os fatos passaram
As coisas mudaram, a vida mudou
Só o amor ficou, insistindo
Ali, estacionado na vaga
Do tempo
Naquela foto em branco
E preto
Ali, na vaga, tão pouco
Tempo.

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
música 345, em 28 agosto 2003)
UM LIVRO, UM TIJOLO (17 DEZ. 03)


Um livro, um tijolo
na parede da construção de si mesmo
assim, ocupando no espaço da criação
seu lugar impresso.
Um livro, entre tijolos
na parece da sala iluminada
completando a esfinge tebana
que se transfigura então
na forma humana.
Um livro, tijolo entre livros
na estrutura implícita
se revelando agora
na espessura explícita.
Um livro entre livros
no corpo do dragão
são as veias plenas de néctar
seiva da sabedoria
escolhas para uma vida.

(Magnífica - Joyce Pires - letra
da música 374, em 27 jan.04)
TUDO AGORA (13 março 04 )

Tudo em mim agora é mir agem
Fábulas de La Fontaine
Que eu lia no Tesouro de capa azul
Da minha Juventude
Tudo em mim é miragem
Agora te vendo assim agindo entre estrelas
E recriando jóias raras e óbvias
No azul do céu
Tudo agora em mim
E miragens de marés
Saltando sobre as areias
Dessa praia entre nós
Tudo é miragem, é maria
Em mim agora
Atravessando os ares
Cortando os mares
Miragens e luz
Tudo em mim
Tudo
Agora


(Magnífica - Joyce Pires
Letra da música 380,em 23 março 04)
SIGNIFICADO (01 junho 2001)

Deve ter algum sentido, não?
Essas sombras assim no chão
Finas folhas que a brisa toca
Vem e vão, ao sabor das nuvens
Que encobrem o sol
Escrevo sobre a face e as origens
Nesse sorriso de esfinge
E me resolvo em seus enigmas
E me revolvo em seus enigmas
Serenamente.
Mas, se você vier, vai ser diferente.

Me entregar numa certeza
Dentro desses tons que passam
E encontrar nas sombras
O vento e o ponto:
O significado.

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 260, em 01 junho 2001)
POR VOCÊ (04 OUTUBRO 2002)

Por você fiz coisas que jamais
Poderia supor ser capaz
De fazer... e refazer
Por você me virei pelo avesso
Fui verso e reverso, côncavo e reconvexo
E coloquei o meu coração entre aspas
E deixei as roupas nas arcas
Fui embora sem dizer
Cavei bem fundo, com prazer
Por você seria fluxo e refluxo
Faria coisas que jamais
Poderia supor ser capaz
E no âmbito do desejo
Ah, o desejo

O toque do teu beijo
Entre folhas verdes e amarelas
Eu te vejo
Por você
Faço isto, isso e aquilo
E tudo e muito mais
Por um abraço, um laço, esperas
Entre as flores e todas as suas cores
E através de você

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 329, em 05 outubro 2002)
POR MIM E POR VOCÊ (17 JULHO 2009)

Essa febre, essa febre
Por você, mulher da magia
Insanidade plena
De delícias
Essa febre não será extinta
Mesmo que o mundo desabe
Não! Essa febre por você irá comigo
Quando voarmos ao paraíso
E lá reinará constelação
Coroa de Estrelas
Fio luminoso em nossas mãos
Para entrar no labirinto
E sair direto ao infinito.


(Lógica e Tal - Joyce Pires
Letra da música 406, em 11 ago.09)
O QUADRO DE CÉZANNE (12 abril 2009)


Hoje subi na mata, Atlântica
até a nascente, lá nas pereiras
onde jorra uma fonte sob as pedras
Fui reconstruir o poço, soterrado pelas chuvas
de onde recebo a água cristalina
que abastece a casa

E na volta, descia a colina
com alguns galhos de eucalipto sobre o ombro
para usar no fogão-a-lenha
e na mão a foice companheira
quando meus olhos viram a casa
agora, sem a varanda coberta
Só o pátio de luz e a fachada, nua:

Tijolos, na parede dos fundos da casa
A chaminé do fogão, incompleta
O quarto semi-coberto, ao lado do pátio...

Parei ali, no caminho
E olhei a novidade
A casa assim tão diferente
Metamorfoseada
Após a completa dissolução

A casa iluminada assim como está
Lembra uma pintura...

- Ah, sim, é um quadro de Cézanne !


(Diário do Bardo - Joyce Pires)
O ABRAÇO (maha mudra ) - (01 dezembro 1998)

Acordei de repente, com um sol na cabeça
A luz era muito clara e brilhante
E alguém dizia o meu nome
Uma voz jovem e doce
Mas não sei dizer de quem.
Logo percebi que amanhecia
Escutei os primeiros pássaros:
O bem-te-vi, a sabiá, a cambaxirra
E a pequena cuíca, andando no piso do sótão.
E pensei, ainda em êxtase
Que é bom viver assim, realizada.
E como é tão bom poder abraçar
Alguém que a gente ama
Um corpo conhecido, íntimo
Que se reconhece pelo tato
Que o nosso corpo reconhece, na região
Do peito, no fundo dos braços:
O jeito, a forma, o calor, a pressão,
O amor, a paixão... e o cheiro.
Ah, como é assim tão bom. Imagina.
Levantei, abri a porta da sala
E ali na varanda e no jardim
Lá estavam elas
As flores azuis
Dos agapantos, das hortências
E de minhas violetas siderais
For your furs. (*)

(*) se não quiser pronunciar em inglês,
pode substituir o verso por:

Para os seus carnavais.

(Tântricos e outros cânticos – Joyce Pires
Letra da música 116, em 01 dez.98)
NÃDA (05 SETEMBRO 2001)

Se você não vem
As cambaxirras não cantam
Meu verso fica tonto
As saras não curam
Se você não vem
Os morcegos se alimentam
As andorinhas não chegam
E ficamos tristes
A coelha, o beija-flor e eu, hem
Se você não vem
Não vêm as artes
Os dias e as noites se partem
Em mil cacos em mim
Se você não vem
Nada se termina
Se você não vem
A tela da alma se congela:
Nada se conserva
Nada se preserva
Se você não vem:
No aquário, o peixe nada.


(Magnífica - Joyce Pires – letra
da Música 306 , em 05 set. 01)
FOGO... SEM HUMMUS (14 SET 2009)

Ele chegou, archote na mão
e foi passando a chama sobre o chão .
Logo tudo queimava :
o mato, as árvores ainda não cortadas
os bichos, cobras, minhocas, caracóis, sapos
sangue-sugas, tatus, jatutás, ninhos
o capim, as bromélias, as melissas
as mudas, as flores, as sementes
E ele continuava cercando a vida
com sua tocha ardente cruelmente
“preparando” o terreno ... para plantar.
Nessa troca simbólica me dissolvia,
queimei com as plantas e os animais
tudo o que preservara ali naqueles 20 mil m2
de chão, que vendi para sobreviver
evaporou nesse Estado sem aposentadoria
Sorria:
você está sendo filmado.
(Lógica e Tal - Joyce Pires)
ELES PODEM (29 set.09)

O meu querido ex-Professor Alberto Dines
Vem observando do seu Observatório
Que a Imprensa manipula as informações e as notícias
Mas o que o Dines não diz completamente
É que a Imprensa Dominante manipula e desinforma
Com tanta perfeição
Porque os jornalistas são burgueses
E o que eles falam é realmente
O que eles sentem e pensam
Ideologicamente de acordo
Com os seus próprios interesses de classe.

O jornalista que agora comemora com seu livro
Os 40 anos da ditadura jornalística...
Sabe que a realidade não é exatamente aquela
Que ele mostra na TV...
Ele sabe que a governabilidade depende
Do poder de persuasão e da sua presunção...
É por isto que eles podem.


(Lógica e Tal - Joyce Pires)
DOMINGO, O ÚLTIMO (?) PÔR-DE-SOL DO GRANDE EU

(19 abril 2009)

São quase cinco horas da tarde de um belo dia muito azul de outono e o sol está quase desaparecendo atrás dos ciprestes... e dos últimos eucaliptos – inclusive, Ela, a grande árvore, my own. Hoje talvez seja o último pôr-de-sol que ela dividirá comigo. Amanhã devem cortá-la. Não mais a sua cabeleira de folhas prateadas. Não mais seu tronco de camurça macia, avermelhada... Suas belas formas, em grandes galhos-abraços: não mais. Amanhã, no chão. Depois, desmembrada, esquartejada, um Dioniso-zagreu. Árvore órfica.
Mas, metamorfoseada, poderá vir a ser até uma ... casa ! Ao menos, um telhado: linhas, caibros, ripas, tábuas. Quem sabe, móveis. Ou, talvez, com sorte, um barco, um mastro, ou mesmo o revestimento. Com certeza não será apenas lenha.
Agora, o sol se avermelha e as folhas do Grande Eu rebrilham luminescentes. Belíssima árvore: serena, com aquela tranqüilidade dos seres que já compreenderam. E ficará na memória, nas músicas, em fotos...
Vai tombar com um estrondo, como um trovão. E depois, cortada; e seus pedaços, em toras bem medidas... serão arrastados até ao caminhão. Árvore, gigante, dará muito lucro ate o fim desse processo. A mim, alimento.
E das suas raízes renasceremos, Ela e eu.


(Diário do Bardo - Joyce Pires)
DESVIO (30 Outubro 1996)

A todos vocês proscritos
Deserdados, malditos
Aos miseráveis
Que se escondem nos buracos
Embaixo das pontes
Atrás das grades
A vocês pobres queridos
Benditos
Bem-amados meus rebeldes
Deixo esse canto de vida
Que começa a murmurar nas fontes
Entre as folhas das árvores
Na voz dos bichos e das matas
Deixo a paz das gaivotas rosadas
Que mergulham nas águas douradas
Do grande oceano verde e amarelo
Azul
e branco.


(Tântricos Poemas – Joyce Pires
Letra da música 76, em 13 out.98)
CORPO SUTIL (13 nov.03)

Um caracol é uma espiral
E a sua forma geométrica
Está para o material
Do que ele é constituído
Assim como o que ele é
Jorrou do que ele não poderia ter sido.
Um caracol é uma casa
Colada num próprio corpo
Finca pé
no chão ao alcance da mão.
Um caracol é uma espiral
Embora alguns não o consigam reconhecer
E ele continuará o sendo
Assim mesmo naturalmente um ente
Da natureza
Quer você queira ou não.
Um caracol é uma espiral
deslizante
Na folhagem espessa do brejo
Um vislumbre exuberante
De sutilezas.

(Magnífica - Joyce Pires - letra da
Música 364, em 14 nov. 03)
BOLA (26 agosto 2009)

Como chamar Arte um esporte
onde seres humanos chutam
uma esfera ?!
Que arte será essa
feita de chutes no símbolo feminino ?
Porque tudo que é redondo,
esférico, circular... é sagrado
representa a Terra, a mãe
e a mulher ! a força criadora, a fonte !
Esse esporte parte de uma relação
arquetipicamente equivocada,
é uma demonstração efetiva da violência
contra a mulher e a delicadeza
e não me venham com aquele tipo de justificação
de que esportes socializam
porque na verdade
o futebol é paradigma
de uma civilização machista,
violenta e autoritária:
é algo que realimenta a desumanidade.

(Lógica e Tal - Joyce Pires)
AZUIS (08 DEZEMBRO 2002)

Elas estão de volta em nosso jardim
As flores azuis e seus tons
Outra vez, aqui e no fundo de mim
Elas, as mais belas
E meus olhos despertos se lançam
Avançam sobre os vários planos
Das encostas da mata e das montanhas
No declive, as copas das árvores
Meu olhar ascende ( nas folhas, o vento)
E delineia seu vulto verde
Que me veste a alma e contemplo
E é tanta serenidade, essa calma
Que me despe a alma
De qualquer temor ou medo
Seu relevo
No quadro da janela
E não há mais nada
Nem mesmo a saudade
Somente essa calma serenidade
Entre elas, as mais belas
Em primeiro plano, e adiante o vale...
E em volta desse azul, o outro azul
Lá do azul do céu.

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 332, em 09 dez 02)
AUDIÇÃO (10 janeiro 2000)


No centro da minha casa
vivem as andorinhas
na chaminé da lareira, às vezes caem
no meu coração: à noite. Solto, quando clareia.
Elas chegam na primavera, em setembro
e ficam por oito meses, e se amam
partindo em maio, no outono. Eu espero.
São minhas perséfones.
Aqui colocam seus ovos
e chocam seus filhos.
Eu escuto quando eles nascem
seus pios de fome, logo cedo
quando amanhece. No tom certo...
e seus trinados, quando adormecem.
Ouço as asas dos pais
ao entrarem na chaminé
e o ruído das ondas do mar
quando saem em direção ao céu
alçando o vôo por entre os tijolos
do pilar. Voam, depois, em círculos
em volta da casa e desaparecem no olhar.

Vivem comigo há 28 anos. Enquanto ficam
não acendo o fogo: mesmo no frio. Cuido delas.

...........

(Hathanoir – Joyce Pires – letra da música
189, em 25 fevereiro 2000)
AUDIÇÃO (10 janeiro 2000)


No centro da minha casa
vivem as andorinhas
na chaminé da lareira, às vezes caem
no meu coração: à noite. Solto, quando clareia.
Elas chegam na primavera, em setembro
e ficam por oito meses, e se amam
partindo em maio, no outono. Eu espero.
São minhas perséfones.
Aqui colocam seus ovos
e chocam seus filhos.
Eu escuto quando eles nascem
seus pios de fome, logo cedo
quando amanhece. No tom certo...
e seus trinados, quando adormecem.
Ouço as asas dos pais
ao entrarem na chaminé
e o ruído das ondas do mar
quando saem em direção ao céu
alçando o vôo por entre os tijolos
do pilar. Voam, depois, em círculos
em volta da casa e desaparecem no olhar.

Vivem comigo há 28 anos. Enquanto ficam
não acendo o fogo: mesmo no frio. Cuido delas.

...........

(Hathanoir – Joyce Pires – letra da música
189, em 25 fevereiro 2000)
ASSUNÇÃO (31 agosto 2009)

Ação de assumir: dignidade.
A divindade encarnou em si
a natureza humana.
A natureza humana atravessou
e alcançou a plena realização,
breve manifestação.
Logo, ouvem-se acordes:
um piano, violas, violetas
e a melodia
É o grande oceano azul
leve manto circulante
sobre a terra virgem.

(Lógica e Tal – Joyce Pires)
ANTES (22 set.04)


Tantas coisas contidas
Que precisavam aflorar
Antes de mim
Sonhos todos trabalhadores
Sonhados caprinos sonhos
Antes de mim
Músicas retidas
Corpos torcidos
Bocas amordaçadas
Antes de mim
Agora realizadas
Foi preciso dio niso
Que eu me expusesse
Assim tão grande canja de anjo
Imensa completa exposição
Uma geração inteira exposta
Pra conseguir
A realização
Antes de mim
Ambígua, antígona
Antes de mim artes
Todas, antes.

(Magnífica - Joyce Pires – letra
da música 392 , em 20 nov.04)
AINDA... ( 24 out.04)

Ainda é algo
Na dimensão do tempo
É o que permanece
Nas histórias, na gente
Ainda é o que fica
Na percepção
Na intuição
No fluir da vida.
Ainda é aquilo conteúdo motivo
Sabe deus porque
Que os homens insistem em fazer:
A violência contra a sua espécie
Contra a própria natureza
A estupidez obstinada
Ainda persistente
Desvairada
Ainda que absurda
Ainda sem criatividade
Essa desvairada insanidade
Devastação anti-eco-lógica-mente
Ainda ... são todos os sentidos.

- Ao Pablo Neruda, com amor. -

(Magnífica - Joyce Pires
Letra da música 395,em 29 dez.04)
ABARCA (14 março 2004 )

Tenha calma
Porque há o momento do espanto
E o da compreensão
Tenha calma
Mesmo quando o mundo se dilatar
Espremendo você por dentro
Revirando suas entranhas
Tenha calma
Porque a vida é ainda maior
Apesar de qualquer limite
Daquilo que tanto nos pesa
Do que se apega ou que nos despreza
Tenha calma
Quando não conseguir deter o que transita
Não se desespere, flua com ele
E serenamente atue
Deixe que as agressões se interpenetrem
E se neutralizem sem tocar em você
Tenha calma mesmo agora
Ao soar a última hora:
O princípio da consciência tudo abarca
O rio, as margens, o fluxo, a terra, o céu
O sol, o mar e a barca.


(Magnífica - Joyce Pires
Letra da música 378, em 15 março 04)
OPUS DIAMANTE (13 e 17 maio 2000)



A orquídea cattleya brotando obstinada

Úmida e purpúrea Flor


Cobrir seu corpo com delícias
Enluarar você de carícias
Bem mais que um sonho
Pura magia, uma certeza: alegria
Despertar com você lá de dentro da noite
Todo esse sentimento
Preservar no momento nosso amor
Nossa vida mais que humana Ah, tão humana
O sentido da vida a beleza da vida

Flor

No tronco do xaxim do meu jardim
Força espontânea
Rosa numinosa
Nosso sonho operário
Nascendo sorrindo
Nesse outono vermelho tão verde
Terceiro milênio.


(Teia Poética - Joyce Pires - letra
da Música 193, em 17 maio 2000)
SALTO : A DANÇA DO CORAÇÃO (01 abril 2009)

Leve e saltitante, salta e jorra de repente
Efervescente Dioniso.
Salta como cabrito, seu coração palpita.

- A Dança do Coração, em grego, se chama Salto, “pedesis” - o coração assustado bate com o pé no diafragma, dançando sobre as entranhas... Coribantes. Também o phallós é um coração palpitante; como a Terra. Dioniso é a potência úmida e cintilante da Vida indestrutível.

O salto dionisíaco é a força da vida coletiva que se manifesta e faz o nosso coração dançar. É uma força de trabalho espiritual: de purificação. Catarse.
O trabalho, a prática do Yoga, chama-se Kriya-yoga. Kriya quer dizer ação. Kriya-yoga é “ioga do fogo”, equivalente tibetano da Kundalini-yoga dos hindus. É yoga das energias - Raja.

A Kundalini é um aspecto da potência transcendental (cósmica ou coletiva) que precede e nutre todo o universo: é a potência da vida.
Kundalini é sempre linear e central. Quando desperta, ascende pelo sushumnã, o canal sutil dentro da coluna vertebral (medula); e aparece no Anahata-chakra (centro do coração), onde é uma Deusa realmente luminescente, com quem podemos nos comunicar. Não é aquela serpente enrolada do primeiro chakra - Muladhara. A Deusa Kundalini está sentada na postura do lótus (padmasana) e canta o “som essencial”, OM, a essência de todos os sons (Shabdabrahma), o som que permite a manifestação de todas as cores.
A pessoa que possui esse nível de consciência conhece um equilíbrio muito delicado entre seu corpo e seu psiquismo.

Trabalhar com Dioniso é uma dança, que exige total entrega, persistência e dedicação... e leveza. Dioniso nos torna flexíveis, receptivos. Ele dissolve; é o Lysios, aquele que afrouxa todos os laços, os nós energéticos; ele quebra qualquer barreira. É o deus da metamorfose ou transformação. Quando um dançarino segue uma espiral do labirinto de Ariadne, ele sempre retorna ao ponto de partida. As espirais são Zoé, palavra greco-cretense para “difuso” e quer dizer “vida coletiva” ou “vida infinita”, que não sofre interrupções e permeia todas as coisas. Zoé é Dioniso.
No labirinto, os circuitos são árduas errâncias mas são também um caminho de iniciação. O labirinto é um espaço de procissão e não de desespero. As espirais apontam para um centro e quando o alcançamos encontramos a passagem para a Luz.
A palavra cretense Dapuritojo é esse “caminho para a luz” e é o nome da Deusa Ariadne, a grande mãe do mundo Egeu, que concede a alma humana, que faz de um vivente um indivíduo, com uma biografia específica (Biós). A consciência que Ariadne proporciona é uma consciência expandida, aquela que transcende... a imagem.

- Para a Senhora do Labirinto
Todos os potes de mel.

Meditemos:
Linguagem significa cultura e filosofia; coletivo. O ser humano é um processo; é o processo de suas próprias ações, de seus atos. Somos os criadores de nós mesmos, da nossa vida e do que podemos vir a ser. O ser humano pode se fazer. Todo ato histórico só pode ser realizado pelo homem coletivo, numa unidade social e cultural.


(Diário do Bardo - Joyce Pires)
TANGENCIAL (05 setembro 2001)

Roça
Roça-me, toca-me num só ponto
No horizonte de minha superfície
Terrena –
Os primeiros raios do sol.

Me tange a lira, tangerina
Fustiga, ver-gasta
Tangente, dormente.
Você, dissimulada, sonsa
Oculta semente, nonsense
Tangenciada. Quiabo, te abro !

Eu, pra lá de Bangladesh
No delta do rio Padma
Tibet, Mongólia, Nanquim
Solidão ? - capim-limão.
Negando, me adia, manhosa
Se esconde, me-enerva
Tangenciando a terra.

Você
Solua
Eu
Soulove.


(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 307, em 08 setembro 2001)
SOULOVE (1985)


Sou a gueixa que te cuida e adora
Capaz de intensas carícias e do maior prazer
E de dar pra você
Mas também sou teu homem
Que te devora e consome
Sou a correnteza do rio
Que lambe teu corpo macio
Sou o fogo que queima tuas noites de insônia
E te procura de dia pra te dar fantasia.
NOSSOS DEUSES ( 28 JUNHO 2001)

Se você deixar posso misturar
Seus deuses com os meus
Se você quiser posso enriquecer
Meus deuses com os seus.
Se você entrar nos meus desatinos
E quiser ficar comigo
Será bonito, será a paz.
E se mesmo assim
nós seguirmos juntos
Em nossos caminhos
A diversidade
Será um bom motivo.
A felicidade será um bom motivo
A diversidade será um bom motivo.

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 286, em 28 junho 2001).
MUITOS PASSADOS (02 nov.2003)

O que passou é passado, pretérito
Nem sempre perfeito, liquidado.
Imperfeito agora
Porque foi quando eu estava em outra.
Mais que perfeito quando foi
E eu já não estava.
E o futuro, do pretérito ?
Ah condição irrealizável :
Morreria se não viesses...


(Magnífica - Joyce Pires
Letra da música 365, em 18 nov.03)
ELE É O CARA (10 out.2009)

Ontem, 9 de outubro, completamos 42 anos
Do assassinato do CHE
Quando organizava na Bolívia
A nossa luta de libertação: foi morto
Pela burguesia aliada dos usa-cia
E ontem, o Nobel da Paz foi concedido
Ao negro presidente Obama, o mulçumano
Agora no poder do norte americano.
O prêmio, mais do que ao passado
Parece chegar como uma súplica
Ou um compromisso com a paz –
Paradoxo duplo, porque as guerras
Continuam no novo governo demo
Inclusive no Afeganistão e na Colômbia
... nobel da paz antecipado ?
Mais uma promessa tragicômica
Porque o presente não se entusiasma
A realidade está aí escancarada :
-É, ele é o anti, ele é o cara !


(Lógica e Tal - Joyce Pires)
É UMA QUADRILHA (18 set 2009)

Cartórios de Registros de Imóveis
escriturários, despachantes
e funcionários das Fazendas e Prefeituras
engenheiros e arquitetos
agrimensores e topógrafos...

E você, que construiu sua própria casinha branca rural
a partir de uma simples concepção pessoal
quando precisa registrar o terreno
é obrigado pelo Estado burguês
a pagar a toda essa engrenagem
(inclusive o arquiteto fictício)

por uma “planta” que eu mesma fiz
há mais de 35 anos... e pagar muito !
Porque agora estou precisando vender ! :
além de não me aposentarem por idade
as engrenagens estatais querem que eu pague
por um serviço que eu mesma fiz.

O Estado é uma quadrilha
de bandidos bem armados
na armadilha do Estado.

(Lógica e Tal – Joyce Pires)
SER E VIDA (05 abril 2009)


- O que nós pensamos e dizemos ou escrevemos às vezes é realmente algo repleto de conteúdos, com significações surpreendentes.
Devemos reler certas coisas que são ditas de forma espontânea, mesmo quando inseridas num texto “teórico”.

O final da Introdução a “Dialética da Natureza”, escrita por F. ENGELS – o anjo Frederico - em 1875-76 e publicado em 1925... cuja 2ª. Edição de 1952, em Moscou, causou imensa surpresa - já que em 1923, outra referência à dialética da natureza havia provocado tamanha condenação (ao filósofo húngaro Gyorgy Lukács, chamado de idealista pelos espíritos mais pragmáticos – paradoxalmente...) é um desses textos que devemos sempre reler, porque ali vamos encontrar, como diria o próprio Engels, a ponta do fio de Ariadne. Vamos ler:

(...) temos a certeza de que a matéria será eternamente a mesma em todas as suas transformações, de que nenhum de seus atributos pode jamais perder-se e que por isso com a mesma necessidade férrea com que há de exterminar na Terra sua criação superior, a mente pensante, há de voltar a criá-la em algum outro lugar.

_ Bom, então podemos ficar seguros disso. Zoé !

Engels, meu Anjo querido, está nos dizendo que a matéria voltará a nos criar; mesmo que sejamos destruídos aqui na Terra, a matéria criará a Mente Pensante em outro lugar.
Engels já estava com a intuição e não sabia.
Vamos ver esse texto mais de perto :

A dialética da natureza consiste no fato de que a Natureza move-se num fluxo eterno e cíclico. (Tempo cíclico é o “tempo mítico” ou “sagrado”, aquele que sempre recomeça, retorna; e que se representa como um labirinto : quem entra sempre volta ao início – se tiver o fio de Ariadne ; encontra a luz no pátio central e faz o caminho de volta. Sempre recomeça, ampliando a consciência).
Durante o seu discurso, Engels menciona os avanços das ciências naturais até o seu tempo, inclusive ressalta a descoberta do paralelo entre a história do desenvolvimento do mundo orgânico em seu conjunto (vida coletiva ou zoé) e a história do desenvolvimento de cada organismo individual (biós). E é nesse momento que utiliza uma metáfora muito significativa : “ o Fio de Ariadne que devia indicar a saída do labirinto no qual a botânica e a zoologia pareciam cada vez mais perdidas”. O insight queria já se manifestar... foi por um triz.
O eterno retorno.
Engels, o Anjo ecologista (apesar de estrategista).

E ele continua sua dissertação “dialética”, que o ser humano, a “criação superior da matéria”, com sua mente pensante, nasce de uma diferenciação, não só como indivíduo (o mais complexo produzido pela natureza) mas também no sentido histórico.
Quando a mão humana se diferencia e o homem toma uma atitude ereta, assenta-se a base para o desenvolvimento da linguagem articulada e do cérebro – que nos distinguiram do macaco (ou do ancestral humano...).
Da especialização da mão nasce a ferramenta e a atitude especificamente humana: o trabalho criativo.
Só o homem modificou o Planeta, a Natureza, animais, plantas... “a tal ponto que os resultados de sua atividade só podem desaparecer com a EXTINÇÃO GERAL DO GLOBO TERRESTRE “. E isto foi conseguido valendo-se da mão... que foi sendo melhorada pela ação do próprio trabalho
_ Aqui Engels foi premonitório. –

Paralelo ao desenvolvimento da mão, foi-se desenvolvendo o cérebro e a consciência das condições necessárias para obter resultados úteis, depois da compreensão das leis da natureza e enfim desse conhecimento nasceram os meios de ação sobre ela.
Com o homem nasce a História. Não a história passiva dos animais, mas a nossa, que é feita de forma consciente, ativa. E o que nos tirou do estado animal e nos torna humanos: a produção dos meios de subsistência, a produção social _ ... e que precisa de um plano, de organização (urgente !)
Dessa organização da produção (e da circulação) nascerá a “nova época histórica em que os homens e suas atividades criativas, especialmente as ciências naturais, alcançarão êxitos em face dos quais será ECLIPSADO TUDO o que foi conseguido até agora “ - outro insight não manifestado; ele quis dizer que realmente tudo será eclipsado...
E segue o texto:
“Mas, tudo o que nasce deve morrer”: um dia o calor do sol começará a decrescer, o gelo dos polos já não poderá derreter (quem dera !), a humanidade, cada vez mais amontoada no Equador não encontrará nem aí o calor necessário para a vida. A vida orgânica desaparecerá e a Terra morta, esfera fria como a lua, girará nas trevas e cairá sobre o sol, também morto.
Mas, a matéria em seu eterno movimento achará um jeito de retornar ao início e o fogo se acenderá novamente, concentrando todo o calor perdido no espaço, e a nebuloza incandescente recomeçará a produzir luz... e se contraindo e se esfriando etc,etc,etc.
A matéria será eternamente a mesma em todas as suas transformações e há de recriar a mente pensante. (Mas, isto é “religioso”: a regeneração periódica do mundo, a renovação cósmica; algo mítico !).
Engels queria reafirmar a dialética materialista e derrotar o idealismo e a metafísica. Mas, o que ele não sabia – porque a sua querida ciência natural (quântica) ainda não havia descoberto, é que MATÉRIA É ENERGIA E CONSCIÊNCIA. Fato que já era, aliás, uma intuição muito antiga, dos Tantra. Essa dialética aí nem mesmo o Anjo chegou a sonhar. Contrários complementares: Vida sempre Bela (*).
Aqui está a verdadeira Dialética, Realista, a grande síntese; o materialismo foi apenas a primeira negação. O realismo é superação dialética. (“Material” se refere a uma relação social organizada pela produção).
Engels nos dizia que a Natureza e o Trabalho criam o homem. A ênfase no trabalho era uma necessidade histórica: despertar a consciência da classe trabalhadora. A ênfase na Natureza era ZOÉ.

O movimento cíclico, que é justamente o movimento do eterno retorno, o tempo MÍTICO ou sagrado, é uma dimensão, a esfera da Psique. E é nessa esfera que a matéria se reconstrói e sempre recriará a VIDA, dialeticamente, assim como os humanos se reconstroem pelo trabalho e como também assim, nessa dimensão mítica e sagrada, nós fazemos a nossa História. (Cronos é uma farsa...)

O que a linguagem encobre, a vida descobre.

A incompreensão do estágio mítico da existência humana, passagem necessária, no tempo e no espaço, ao desenvolvimento da consciência, é que condiciona equívocos e polêmicas, como a que obrigou o jovem Lukács a quarenta anos de autocrítica, depois de ter renegado o seu livro “História e Consciência de Classe”, condenado pela Inquisição paradoxal reformista social-democrata.

Pois é sempre com LUKÁCS que o Ontologia retorna.
--------

( * ) VIDA SEMPRE BELA é o título da música 202, de agosto de 2000; expressa a vida, que é energia e consciência; e a letra é do meu livro Lieberdade.


(Diário do Bardo - Joyce Pires)
TANTRA ( 18 abril 2009)


Tantra significa “conhecimento contínuo”. É uma visão do mundo que compreende a realidade como continuidade, uma dinâmica de energia e consciência, onde os objetos e seres podem se transformar uns nos outros, porque tudo está interconectado. Tantra é teia, rede, tecelagem, web. Esse fio que liga e religa seres e coisas, presente, passado e futuro, é o Fio de Luz de Ariadne, aquele fio espiritual, luminoso, dado por Dioniso, o deus da renovação, da transformação, da transmutação. É o mesmo deus Shiva.
Quando o iniciado entra no labirinto com esse fio nas mãos, certamente chegará a conhecer a realidade do mundo e de si mesmo : na teia da vida. Os contrários são dialeticamente complementares e a história só se repete como farsa... ou tragédia. A vida é um contínuo e o tempo linear, cronológico, é apenas algo para usarmos como referência cotidiana.
Porque o tempo do nosso psiquismo, o tempo verdadeiro, da renovação das coisas e dos seres, é o tempo mítico, cíclico e sagrado.

(Diário do Bardo - Joyce Pires)
COPA CABANA (03 out. 09)



A bela âncora escandinava apresentava
O resultado dos votos do soviet esportivo
Em Köbenhavn
E toda a Dinamarca devia estar sorrindo
Ao ver tamanha comoção Unidos na Paixão
Da Festa Brasileira, ao sermos escolhidos
Para hospedar os Jogos Olímpicos de 2016.
Para o coração purpúreo de Arianrhod
Acostumado às cintilações da Aurora Boreal
As turbulências do coração verdeamarelo
Devem mesmo perturbar até os icebergs...
Mas os irmãos do norte compreenderão
Que precisamos dessas olimpíadas
Para construirmos as nossas ciclovias
E que preparando a cidade maravilhosa
Estaremos livrando o Planeta
Dessa nossa miséria violenta esplendorosa
Nutrida no colonialismo europeu
E desenvolvida pelo imperialismo filisteu.

(Lógica e Tal - Joyce Pires)
EROS (11 setembro 1996)

Este ser que se apoderou de nós
É eletromagnético
Um encantamento
É mágico:
O deus do amor.

Não adiante tentar fugir
Fingir, decodificar ou esquecer
Só eu posso amar você dessa maneira:
Eu tenho a chave do teu ser.

Já vi o teu olhar se espraiar
Por aí, pelas pessoas
Mas só em mim ele se deita
Como na areia: shiva-shakti
You’re the honey
I’m the bee


(Tântricos Poemas – Joyce Pires – letra
da música 02 , em 08 fevereiro 1998)
FOME DE CABRAS (22 maio 2002)

Ela gira sobre um eixo
Imaginário
Um centro, talvez
Que lhe devolva a filha assassinada
Covardemente a foiçadas
Desumanas
Ela gira sobre si, trôpega
Talvez em busca da própria vida
Perdida
Talvez movida
Pelo desejo daqueles
Que sobrevivem ainda
No âmago de seu feminino ventre.
Ela gira e gira e giram os olhos
Perdida, olhos profundos, distantes
Numa fome imensa imensa
Talvez de justiça
Claro, não humana
Mas uma equidade
Divina
Ela gira e gira
Em busca, talvez, de uma fome.

(Magnífica – Joyce Pires, letra
da música 327,em 08 junho 2002)
IMPRESSÕES (13 junho 2005)

As marcas de expressão
são as impressões deixadas
na pele da alma
vestígios de vivências
resíduos dos sentimentos
nas trilhas, descaminhos
memória de alegrias
nas margens dos rios
espinhos
migalhas
malhas

cacos
nacos
tramas, sabedoria

As marcas de expressão
são metástases do coração
as pregas peças que a vida nos arma
volteios da dor, falhas do amor
nas garras do carma.
Motivação: marcas de expressão
na face
cortes de faca
na pele.
Tecelagem do drama
tecido na cama
ramagem
ideograma
em alta voltagem.

(Lua Nua, Joyce Pires )
MAGNÍFICA (22 junho 2001)

Quando, afinal, nos encontrarmos
Vou querer transformar você
Num monumento de serenidade
Minhas lágrimas vão lavar seu corpo
Seus pensamentos, balas perfurantes
Em meu cérebro, calmantes
Sua língua, a espada de fogo
Enlouquecendo de rubor a minha
Será capaz de pronunciar precisamente
O mais profundo sentido no meu corpo
Que já não quase existirá
Despedaçado de torturas infinitas
Desmembrado e reconstituído
Pelas carícias de seus mísseis interconti-dos.
E vou fazer dos seus abraços, coração
A prisão mais magnífica !

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
Música 287, em 03 julho 200l)
CRISTInanismo... (28 set.2009)

Em formações sociais como a nossa
Brasileira, que se nutriu do imaginário
Cristão, onde o sofrimento físico
É reverenciado como sinônimo de santidade
E a crueldade elevada a modelo
De purificação, aliás, praticada
Na História desde o nosso descobrimento...
Não poderia ser mesmo de outra forma:
Só os mortos são homenageados,
Lembrados, ideologizados
Porque durante a vida somos apenas
Criaturas produtivas... ou não
E desvalorizadas: sem patrimônio
Apenas demônios, intermediários
Entre os privilegiados que desfrutam
Da mais valia econômica e cultural
Apenas, como eu,
Um ser sobrenatural
Dizimal crucificado
Um número
Animal.


(Lógica e Tal - Joyce Pires)
CRISTInanismo... (28 set.2009)

Em formações sociais como a nossa
Brasileira, que se nutriu do imaginário
Cristão, onde o sofrimento físico
É reverenciado como sinônimo de santidade
E a crueldade elevada a modelo
De purificação, aliás, praticada
Na História desde o nosso descobrimento...
Não poderia ser mesmo de outra forma:
Só os mortos são homenageados,
Lembrados, ideologizados
Porque durante a vida somos apenas
Criaturas produtivas... ou não
E desvalorizadas: sem patrimônio
Apenas demônios, intermediários
Entre os privilegiados que desfrutam
Da mais valia econômica e cultural
Apenas, como eu,
Um ser sobrenatural
Dizimal crucificado
Um número
Animal.


(Lógica e Tal - Joyce Pires)
QUE CIDADANIA ? (15 set. 04)


Comprei um sítio em 72
e construí uma casa com ela
para poder me casar...
Depois me casei com um gay em 87
para receber meu FGTS...
Militei na UNE, no Sindicato, no PT
na CUT, na Associação, no MST
pra me sentir vibrando
Consciente e limpa
cada vez mais pura
nessa brandura
Búdica
Amei e revolucionei
virei, mexi, me escaldei
na brancura de neve
na loucura mais breve
Gritei, extasiei e me entusiasmei
... depois sussurrei, exposta,
palavras de amor na TV
e mesmo assim, ainda excluída
continuo marginal
nessa sociedade desigual !


(Magnífica - Joyce Pires – letra
da música 388, em 11 out. 04)
SOBE A NASCER ((30 novembro 1999)

Vem, irmão, sobe
“sube a nascer conmigo, hermano”...
“dame la mano desde la profunda
zona de tu dolor diseminado”
Hablad, fala
Por mis palabras y mi sangre.
Fala! :
O sonho não acabou.

Vem, sobe a nascer comigo
Irmão
Me dê a mão
Nessa canção platinada
A lembrar Pablo Neruda
Em seus caminhos, luas do sol,
Nas trilhas de Macchu Picchu:
Que o luar já está a brilhar
Luar que une, ata, atante
Religa pelo ar, no ato, atlante
Atuante.

Como el musguito en la piedra
Si si si. (bis)


(Hathanoir - Joyce Pires – letra da
Música 156, em 02 dezembro 1999)
SOBE A NASCER ((30 novembro 1999)

Vem, irmão, sobe
“sube a nascer conmigo, hermano”...
“dame la mano desde la profunda
zona de tu dolor diseminado”
Hablad, fala
Por mis palabras y mi sangre.
Fala! :
O sonho não acabou.

Vem, sobe a nascer comigo
Irmão
Me dê a mão
Nessa canção platinada
A lembrar Pablo Neruda
Em seus caminhos, luas do sol,
Nas trilhas de Macchu Picchu:
Que o luar já está a brilhar
Luar que une, ata, atante
Religa pelo ar, no ato, atlante
Atuante.

Como el musguito en la piedra
Si si si. (bis)


(Hathanoir - Joyce Pires – letra da
Música 156, em 02 dezembro 1999)
PROFESSORES (27 abril 2009)


É... eu fui uma criança afortunada, no que diz respeito aos professores. Ainda na escola pública, Joaquim Abílio Borges, no primário, tive mestres inesquecíveis, mesmo que envolvidos com significados complexos, como por exemplo, minha querida professora Solange. Outro professor sempre lembrado é o de português, o Leovegildo, que já me estimulava com as redações – sempre melhorei minhas notas com meus textos, porque não era boa na gramática... No Colegial, lembro do Prof.de História, um comunista.
Depois, nas faculdades, vieram grandes mestres. Na de Letras, tive Wira Selanski, que é mais do que uma professora de Teoria Literária; é mãe espiritual. Domício Proença, de Literatura Brasileira, mestre em Machado... um gato, tinha estilo, dava um show durante as aulas. Letícia, de Literatura Inglesa, exigente com Eliot... e Chaucer. E também o Junito Brandão – com quem aprendi a conhecer os mistérios gregos. E o lingüista Matoso Câmara !

Na Psicologia, vieram outros mestres, como o Dr.Satamini, de Neurologia – com quem pude desfrutar longas conversas... sobre Pavlov, que, apesar de não incluído no currículo (o ano era 1972 e tínhamos um professor-general de Moral e Cívica, na faculdade; e os diretórios acadêmicos estavam proibidos pelo regime militar da ditadura burguesa), era o meu tema preferido; o que fazia a alegria do meu mestre querido,sempre envolvido com os reflexos condicionados... O Professor de Genética também me estimulava.

Na faculdade de Comunicação, minha fortuna muito se ampliou: Carlos Henrique Escobar, meu querido professor de Psicologia, que me indicou Lacan como leitura necessária e a quem devo a recuperação daquele transe causado por erro médico durante uma mielografia de coluna – tive uma hipotensão liquórica durante dois meses e foi Escobar quem me encaminhou ao médico que me ajudou a sair daquele caos neurológico. Arthur Omar, professor de Cinema, um artista, mestre da fotografia, me ajudou com os roteiros... Aloísio Trinta, mestre dos textos. Michel Misse, Drauzio, grandes aulas de História e Política. E os mestres do Jornalismo: Alberto Dines, Oscar Barbosa, Antonio Luiz, Roberto Quintaes, André Motta Lima, L.C.Oliveira, Nilson Lage, Nice e Caetana... Affonso, Edmilson, Dimas !
Helio Alonso foi meu professor de Latim, no último ano do Colegial, que cursei com o pré-vestibular de Letras, em 67. Depois, acabei fazendo o curso de Jornalismo na escola dele, na Facha (1978-81).
No Coppe-UFRJ, Mestre Cosensa, na especialização em Economia.

E afinal, o pós-graduação em Ciência Política : Moniz Bandeira, Carlos Nelson Coutinho, David, Eurico Figueiredo e Leandro Konder !

É: afortunada. Gosto de recordar essas aulas e lembrar sempre de todos eles, mesmo os que não nomeei aqui. São todos muito queridos. E bem-aventurados sejam. E VALORIZADOS sejam !!!



.



(Diário do Bardo - Joyce Pires.)
ROMÂNTICA (31 out.1998)



Murcham as rosas nos jardins ressecados
Amanhece e os pássaros se esquecem de cantar
Barreiras foram erguidas
Desviando o curso dos rios.
E onde foi mesmo
Que deixei meu coração partido ?
Ah, ficou ali, na esquina.
Despreza, pisa, que sou teu tapete...
Minha língua vermelha fala um idioma antigo
Quase perdido, na fonologia do tempo.
Repito e me repriso, como um filme mal editado
Ou ainda montado na moviola... e remontado
Potro selvagem ? - wild wind... mind, sing (*) !
Canto um poema triste e já não me deslizam lágrimas
Na face desconhecida.
Nem mesmo espaço existe para conter palavras
Que o verso insiste apesar de si resiste em ti to mi.
Guarda pra quem pra que teu precioso amor ?
Carícias murchando assim naquela flor ?
Não. Não conte. Desconte.


(*) Sing , em inglês, é cantar. Em chinês, SING é o sinal
para SER, de sin (coração) + schong (nascer); significa
a consciência ou logus. O SING, quando se manifesta, liga-se
intimamente à MING (vida), que é a força vital disponível; o nosso
Eros. A consciência emocional (SIN) é despertada pela reação emotiva dos cinco sentidos. O que permanece quando nenhum sentimento se manifesta é o SING, que fica num estado transcendente ou supraconsciente, esperando por MING. O SING é o que torna o ser humano um ser espiritual
ou coletivo.
- As flores do nosso jardim vão voltar a sorrir quando você cair... na real.

(Tântricos e outros cânticos – Joyce Pires –
letra da música 87, em 03 novembro 1998
RESPOSTA DA MATA ATLÂNTICA (28 dez.03)


Você também é linda e meiga
Querida, chega de espera
Vem dar teu calor ao luar.
Ah, doce amada
Sim, sou tua
Na hora serena e calma
E daqui de dentro da noite
Do meio dessa floresta louca
A chama clama por teu amor.
Vem, minha linda
Vem me amar e sentir
Agora assim entre nuvens transparentes
Espalhando a bruma da lua
Um beijo, um abraço, a melodia
E você sempre nua
Diáfana, translúcida
Na minha tranqüila lucidez
Nossa vida, nossa vez
Foi ela, a floresta
Quem fez.
Vem, amor
Ainda resta uma flor.

(Magnífica - Joyce Pires, letra da
Música 371, em 03 jan.04)
EM TUA (20 outubro 2009)


Um bicho encurralado
Te caçando pelos cantos
Um fio emaranhado
Me enlaçando
As mãos, os pés
As copas das árvores
O vento, os beijos
E os teus cabelos vermelhos
Avermelhando o dia, a tarde
Um fogo que arde
No ventre da manhã que não nasce
Um bicho enjaulado
Selvagem, na margem
Um grito entranhado na carne
O vinho que não se bebe
A água estagnada, a fome
Salobra fonte sem nome
A vargem apodrecida
Sem sombra para descanso
Me lanço em tua armadilha
Tardia, abismo que não se mede.

(Lógica e Tal – Joyce Pires )
EM TUA (20 outubro 2009)


Um bicho encurralado
Te caçando pelos cantos
Um fio emaranhado
Me enlaçando
As mãos, os pés
As copas das árvores
O vento, os beijos
E os teus cabelos vermelhos
Avermelhando o dia, a tarde
Um fogo que arde
No ventre da manhã que não nasce
Um bicho enjaulado
Selvagem, na margem
Um grito entranhado na carne
O vinho que não se bebe
A água estagnada, a fome
Salobra fonte sem nome
A vargem apodrecida
Sem sombra para descanso
Me lanço em tua armadilha
Tardia, abismo que não se mede.

(Lógica e Tal – Joyce Pires )
A TUA VOZ ( 04 0utubro 2003)

A tua voz, um canto doce
Ave
A tua voz, me acalma, me aquece
A alma
E corpo estremece
De amor.
A tua voz diz o que eu preciso ouvir
E eu preciso de você
Por isso
E por aquilo
A tua voz me diz
Quem é você
Alguém que encontrei
Porque você já era minha
...eu sabia
Sábia sabiá
Teu canto de sabiá preta na primavera
O mais doce, me diz
Você é tudo e muito mais
O sonho realidade
A mais pura verdade
Atua voz ! ... Atua, voz!
A tua voz (pode atuar).

(Magnífica – Joyce Pires – letra
da Música 359, em 05 out.2003)
60 ANOS DE REVOLUÇÃO CHINESA (02 out.09)



A Imprensa Burguesa continua
no seu trabalho diário desinformativo
sobre o processo revolucionário operário
tentando reafirmar a dominação capitalista
E ontem, abusiva e burramente
noticiando a Festa dos 60 anos da Revolução Comunista na China
Nas TVs pudemos escutar absurdos ditos na caradura
- os bandeirantes (semelhantes aos Pioneiros)
chamavam o processo chinês de capitalismo mais cruel
- os globais, boneranamente, nomeavam de ditadura comunista
o que na verdade científica chamamos ditadura do proletariado
(apenas para contrapor à ditadura burguesa) ...
E na TV Brasil reafirmavam o progressivo abandono do socialismo...

Enfim, ninguém quer entender a China
Estranhamente, insistem nessa confusão
E nem mesmo o óbvio são capazes de perceber:
Se o governo chinês e a população comemoram
A Revolução de Mao Zedong e da liberdade
É porque Ela existe na realidade !

(Lógica e Tal - Joyce Pires)
60 ANOS DE REVOLUÇÃO CHINESA (02 out.09)



A Imprensa Burguesa continua
no seu trabalho diário desinformativo
sobre o processo revolucionário operário
tentando reafirmar a dominação capitalista
E ontem, abusiva e burramente
noticiando a Festa dos 60 anos da Revolução Comunista na China
Nas TVs pudemos escutar absurdos ditos na caradura
- os bandeirantes (semelhantes aos Pioneiros)
chamavam o processo chinês de capitalismo mais cruel
- os globais, boneranamente, nomeavam de ditadura comunista
o que na verdade científica chamamos ditadura do proletariado
(apenas para contrapor à ditadura burguesa) ...
E na TV Brasil reafirmavam o progressivo abandono do socialismo...

Enfim, ninguém quer entender a China
Estranhamente, insistem nessa confusão
E nem mesmo o óbvio são capazes de perceber:
Se o governo chinês e a população comemoram
A Revolução de Mao Zedong e da liberdade
É porque Ela existe na realidade !

(Lógica e Tal - Joyce Pires)
“TUA. TUA E SÓ TUA” ...SIM.


SOU TÃO E SOMENTE TUA...

Sábias sabiás – Joyce Pires -29 out.1999 – do Hathanoir.
Poesia publicada no blog em 08 dez.2008

ASSIM ROMANTICAMENTE, PELA ESQUERDA
PORQUE AS PAREDES SÃO DE CAL E EU SOU CANHOTO.....
MINHA (27 outubro 2009)

Minha e só minha
Nas malhas da hora que não chega
Nos segundos recontados nos dias
Em cada parcela espelhada nos meios
Nas faces recortadas, nas mãos, nos seios
Minha, só minha, meu rasto
Manada de belas ancas
Éguas soltas no pasto
Minha desesperança
Meu rastro
O mastro do navio
Riacho, leito de rio
Meu ninho perdido
Na esteira das engrenagens
Minha sorte selvagem
Apetite, voracidade do norte
Minha e só minha emoção
No volteio imaginário, desvario
Morte variada, sentimentos
Compartimento compartilhado, retardo
Minha, só minha rainha prisão
Magnífica em luz-som-cor-ação.

(Lógica e Tal - Joyce Pires – letra da
Música 407, em 03 novembro 2009)