segunda-feira, 25 de junho de 2012

ÁGUAS


ÁGUAS, ABUSO E VALAS (02 junho 2012)

Não ía mais falar sobre isso...
Mas, resolvi deixar aqui o registro
Para a posteridade...
Mais uma vez, a Prefeitura de Friburgo
Volta para violentar a nossa estrada.
Entrou o trator, nivelando as valas
E quebrando parte das canaletas restantes.
Fiz plantão, e parei o “administrador”,
Funcionário da Delta... insisti
E ele acabou saindo do carro, contrariado,
E foi falar com os outros. Ordenou
Que não abrissem valas na direção
Da minha casa e limpassem o que sobrou
Das canaletas. No fim da tarde, depois
Que todos se foram, eu estava cortando
Capim para as cabras e escutei vozes
De dois homens, na estrada.
Depois, o ruído de marteladas no cimento:
Quebravam uma canaleta,
Para a água descer no meu terreiro.
Isto é muito sério, companheiros.
Há anos que explico para que não façam isso.
Já processei a Prefeitura,
Através do Ministério Público,
Pelo crime ambiental, o assoreamento
Do córrego e do meu terreno.
Obrigada pela Justiça, a Prefeitura manilhou,
mas suspendeu a obra, assim que disfarçou
Para parar de pagar a multa de mil reais por dia...
E deixou a estrada no barro, que continua
Descendo para o córrego e enchendo a casa
De lama, das águas de março (e janeiro!).
Os funcionários da Prefeitura são os mesmos
E sabem que vão me prejudicar.
Ocorre que o preconceito é maior.
Não é só com a minha opção bissexual.
A questão é mais ampla e complexa.
A discriminação é com a mulher auto-suficiente
Que não coloca o macho na frente!

(Lógica e Tal  -  Joyce Pires)

bissexual


BISSEXUAL  (12 agosto 2010)

O espírito é um operário especial
E a natureza  é a sua matéria-prima.
Não existe a dualidade.
Entre o sofrimento e o glamour
Existe um caminho (sem drama)
Da compreensão profunda
E então ambos não mais
Importam realmente
Porque o espírito é soberano
E está pronto
Para a grande aventura humana
Da humanidade.
Quando se compreende
O que é androginia
A vida é viver cada instante
Como se fosse a eternidade.

(Lógica e Tal  -  Joyce Pires)

GOL


GOL !     (09 julho 2010)


Cada mulher assassinada
Torturada, humilhada, esquartejada
Espancada, rejeitada, apedrejada
Cada mulher assassinada
Desovada, desossada
Devorada por cães...
Cada mulher estuprada
Violentada, desonrada, assediada
Cada mulher prejudicada
Por machos que jogam futebol...
É aquela mulher-bola
Chutada de um lado pro outro
Que rola entre os pés e acaba
Em corner, escanteio ou
Bola na rede e gol !

É a mulher-Terra profanada
Planeta-mãe consumido, ferido
Orgasmo perdido.

                          (A memória de ELIZA)



(Lógica e Tal – Joyce Pires)

A cada um


A CADA UM  ( 19 janeiro 2012)

Os oprimidos são conformatizados.
A dominação não é só violência
Explícita nos salários da fome
E nas atitudes policiais.
Há dominação implícita, sutil,
Visível nos confinamentos
E nos discursos introjetados.
A dominação que delimita
E restringe a determinados lugares
As atuações das classes e indivíduos
Dominados. O direito de ir e vir
Só é permitido nesses lugares, confinados.
Fora do espaço assinalado já é transgressão.
É assim com os negros, estrangeiros,
Homossexuais e todos aqueles
Bodes-expiatórios
Elegidos pelo contexto
Civilizatório.
É a discriminação dissimulada
Que viabiliza a sentença:
- Cada macaco no seu galho.

(Lógica e Tal – Joyce Pires)

A ação da palavra


A AÇÃO DA PALAVRA (12 abril 2011)

“A palavra está ligada (disse-nos Pavlov)
A todos os estímulos externos que chegaram
Aos grandes hemisférios cerebrais: sinaliza-os,
Substitui a todos e por esta razão
Pode provocar todas as ações e reações
Originadas pelos referidos estímulos.
A palavra reativa conexões preexistentes
E elabora novas conexões.” Na dinâmica
Córtico-subcortical, a palavra harmoniza
E promove o equilíbrio da inter-relação
Meio e indivíduo,
Quando há uma significação adequada.
Como qualquer outro estímulo
Do primeiro sistema de sinais,
Ela deve passar pelo processo de análise
E síntese: é um segundo sistema
De sinalização da realidade.
Sem isso não será incorporada ou o será
De forma imprópria, inadequada ou nociva.
Nas psicoses, o real é recalcado
E o psicótico é incapaz de simbolizar.
A isto Lacan chamou foraclusão :
Anulação.
No tecido, é um buraco
Que só pode ser coberto
Por um retalho imperfeito;
Nunca cerzível.

(Lógica e Tal  -  Joyce Pires)