sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O que Nietzsche não sabia / ll novembro 2008

- O rompimento entre o artista Wagner e o filósofo Nietzsche ocorreu quando Nietzsche rompe com o idealismo ?
Ambos estavam convencidos de que a força transformadora da arte grega poderia romper a inércia acadêmica que envolvia a estética do século XIX, especialmente a "época trágica dos gregos". Nietzsche contrapõe a concepção trágica à concepção teórica do mundo.
Ambos querem desvincular a arte de uma concepção de passatempo e diversão, o que hoje nós entendemos por "entretenimento"...
No prefácio do Nascimento da Tragédia, Nietzsche diz que concebe tanta importância aos problemas estéticos porque considera a arte como a atividade essencialmente metafísica do homem, e nisso afirma acompanhar fielmente o pensamento de Wagner, a quem dedica esse trabalho. Podemos ver aqui, então, que Nietzsche compartilha os temas preferidos de Wagner e de Schopenhauer e até mesmo os de Hegel: a arte como realização do espírito. Apesar de haver rejeitado essa concepção depois, as noções levantadas por ele em O Nascimento da Tragédia são apropriadas à uma nova leitura, sob uma ótica não-idealista, e até como a mais radical oposição ao idealismo.
Sua estratégia de renovação cultural inclui o que chama "concepção trágica" ou de justificação estética do mundo. Ele afirma (1871) que as miragens são meios de conhecimento e que o objetivo do conhecimento é também um objetivo estético. Essas miragens são imagens significativas, são hipóteses. Em 1886, ele dirá que ali está falando alguém que "sabe" - sabedoria que é iniciação, "mistério". Refere-se das mistérios gregos... Mistérios de Eleusis ?
Ele quer ousar e essa ousadia significa "pensar os gregos" como estratégia original. Assim inaugura a sua filosofia.
Para se viver é preciso inventar ilusões, máscaras, visões, vestes, para tornar a existência acessível, representável. Ele entendeu que os gregos travestiram o mundo para suportarem viver. As festas, a beleza, os cultos, eram uma forma de lidar com o lado terrível da vida, com a crueldade e os mistérios da existência, com o sofrimento. A arte era uma estratégia que tornava a vida possível e desejável. A abordagem de Nietzsche não é apenas uma questão filológica mas filosófica, colocada para toda a época civilizatória. É uma questão da Humanidade.
A estratégia perspectivista e interpretativa de Nietzsche inclui tanto a evolução da arte grega como os estudos dosfilósofos da "época trágica". A filosofia tem importância não só pelo que um sistema pode significar mas pelo que revela da qualidade artística, estilo de vida e de interpretação de
mundo. Ele se pergunta até que ponto a filosofia pode ser considerada uma obra de arte, compara arte e ciência, relacionando a expressão conceitual com a arte e com a vida. O valor da filosofia reside na esfera da vida e não apenas na do conhecimento. A filosofia está a serviço da criação de um estilo de existência superior. Tragédia, música, filosofia, arte e mito teriam sido praticados na Grécia para fortalecer a vida dos gregos. O que caracteriza Nietzsche é justamente a proposta de se pensar a filosofia por uma perspectiva estética e isto é o que o diferencia na história do pensamento ocidental.
Para ele, Dioniso será um filósofo, e não apenas o Deus da metamorfose e do Teatro.
A filosofia é uma transmutação de valores, é atividade criadora, arte de criar estilos; como atividade estética, atribui valores e novas possibilidades de vida, uma proposta de futuro. Mas, como renovar a vida pensando ??
- Aqui, é preciso ressaltar que o contrário da metafísica é a dialética; para que não se confunda e se continue acreditando que o contrário da metafísica é o materialismo... Presta atenção: o contrário do realismo ("Materialismo") é o idealismo. Realismo e dialética é que são os motores da verdadeira transformação. E isto Nietzsche não sabia.

Joyce Pires.

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