segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


Paravocê

Para você
criei o espaço
da música e da leitura
um canto de luz
e suavidade

e deixei a espera
guardando o portal
com o selo do Dharma.


então

sente-se em padmásana
e cante o mantra

OM VAJRASAMBHAVA SIDDHI HUNG.

e medite. sempre.
Buda Vajrasambhava.

domingo, 21 de dezembro de 2008


OLHOS E OUVIDOS (13 dez.2008)

- Não é mesmo incrível saber que temos total controle dos olhos e nenhum dos ouvidos ?!
Porque podemos fechar os olhos ou direcionar o olhar para outra parte... mas, os ouvidos, estes não há como fechar ou redirecionar. Os sons são percebidos, mesmo contra a nossa vontade - eles se impõem. Esse é um fato natural com consequências variadas, filosóficas, psicológicas e mesmo sociais. Meditemos.

(Buda Vajrasambhava)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Junguiana

A consciência é um órgão de orientação num mundo de fatos exteriores e interiores. Ela constata que algo existe, através da sensação, a faculdade de percepção, em geral.
Uma outra faculdade interpreta o que foi percebido - é o pensamento - que assimila o objeto da percepção e o transforma em conteúdos psíquicos.
Uma terceira faculdade tem a função de constatar o valor do objeto - é a função sentimento. A reação de prazer e desprazer do sentimento corresponde ao máximo grau de subjetividade do objeto. O sentimento coloca sujeito e objeto em íntima relação, tanto que o sujeito deve escolher entre a aceitação e a recusa.
A quarta faculdade da consciência, aquela que torna possível a dimensão espaço-tempo , é a intuição. É uma função da percepção que compreende o subliminar, isto é, a relação possível com objetos que não aparecem no campo da visão, e as mudanças possíveis, no passado ou no futuro, a respeito das quais o objeto nada nos diz... É uma percepção imediata, um insight, que jorra da esfera inconsciente, análoga ao instinto, mas especialmente teleológica; uma apreensão maravilhosamente espontânea. - A serpente cheia de olhos brilhantes ?
- Condições sociais, políticas e religiosas afetam o inconsciente coletivo e todos os fatores reprimidos na vida de um povo pela concepção do mundo( ou atitudes) predominante se reúnem aos poucos.. no inconsciente coletivo, ativando seus conteúdos. Um ou mais indivíduos dotados de intuição poderosa tomam consciência de tais mudanças ocorridas nesse inconsciente coletivo e as traduzem em idéias comunicáveis. Estas idéias se propagam rapidamente quando ocorreram também mudanças semelhantes no ambiente... senão elas são inaceitáveis para a antiga atitude.
Se a ativação do inconsciente coletivo é consequência do desmoronamento das expectativas da vida, há o perigo de o inconsciente tomar o lugar da realidade. O estado mental do povo como um todo poderia então ser comparado a uma psicose.
Sabemos que existem na alma processos de transformação condicionados espiritualmente e que estão, por exemplo, na base das iniciações dos povos primitivos ou dos estados psíquicos induzidos pela prática do Yoga.
Essas intuições são como céu estrelado
estrelas refletidas na água escura
areia dourada espalhada sobre a terra negra
uma festa noturna sobre o mar
globos luminosos, esferas douradas
Um olho solitário nas profundezas da terra ou no ar.

(Buda Vajrasambhava)



Arianrhod, AryaTara, Ariadne , MaAria (jan.2003) *

Arianrhod, grande mãe celta, virgem
deusa do amor, da lua, da realização e do tempo
Roda de Prata das Estrelas, clara melodia
deusa estrela do céu e da reencarnação
Fio Psíquico, vive na Aurora Boreal (Caer Arianrhod)

AryaTara, a salvadora veloz, Tara Vermelha
mantra e raio, Buddha, fonte, clareza e compaixão
grande mãe indiana e tibetana
Estrela de Prata, Lua de Sabedoria (Ieshe Daua)
dakini, yidam, a essência que realiza desejos
Om Tare Tam SoHa - Dama da fala iluminada:padma

MaAria ressonância do espaço desperto atemporal

Ariadne, grande mãe cretensse
Senhora do labirinto, Dama da Montanha
Rainha do som e do êxtase
Grande deusa da individuação no coletivo
Dona do Fio Luminescente, Coroa Boreal
mel e vinho
Estrela cintilante, atman, biós
Fogo de Prata
Minha lysios DiAmante: salta
jorra e dança !

A Oitava Dança
pa si te oi me ri
da pu ri to jo po ti ni ja me ri

Para todos os deuses, mel...
para a Senhora de Labirinto, mel.
(na mesma proporção !)

Ma aria, mar de luz natural.

(Buda Vajrasambhava , do livro
A Oitava Dança, 2003)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

"Eu quero a luz que vem de dentro" (29 ago 00)






Enquanto Vincent
o holandes van gogh





traçava suas impressões expressionistas



cada vez mais afastado da realidade



do mundo



no mundo, a Inglaterra ocupava a África do Sul



(e o Egito), que antes era da Holanda..



a Itália invadia a Eritréia



a Bélgica, o Congo



a França, a Indochina (Vietnã), Madagascar



a Alemanha, África e ilhas oceânicas...



a Rússia dos czares investia contra as fronteiras da China



e o Brasil abolia a escravidão dos negros.



Bell inventava o telefone, horas antes de Elisha Gray



Otto, o primeiro motor a explosão



Edison, o microfone e o fonógrafo



e a lâmpada incandescente -



que já se via, iluminando Nova York.



Kock combate a tuberculose



Pasteur desenvolve a vacina anti-rábica



Maxim inventa a metralhadora... em Berna



institui-se o Bureau Internacional da Paz.



Vincent deformava a realidade objetiva:



era 1890, em Auvers...



ele pinta seus últimos quadros -



os trigais são ondas exaltadas



os ciprestes tensos e angustiados



a natureza se expressa



pela quantidade de tinta; é densa...



sua pintura tem volume,



a cor é a substância do objeto:



quanto mais cor, mais luz !



Emoção na forma,



intermediário da manifestação.



Overdose afetiva - palpabilidade:



muitos carecimentos...



Em Paris, já se discutia O Capital, de Karl Marx



e Assim falou Zaratustra, de Nietzsche;



o público aplaudia o russo Rimski-korsakov,



o austríaco Brahms e o francês Bizet;



liam Kipling, mais do que na Inglaterra...



D'Annunzio, mais do que na Itália...



Dostoievsky, mais do que na Rússia.



A riqueza da Europa pode ser vista em Paris



em Exposições de Arte e na Torre Eiffel.



Vincente sai para o campo de trigo dourado



com um revólver na mão;



o céu está azul. É domingo.



Corvos negros alçam vôo



como ele pintara dias antes.



Morre dois dias depois, em 29 de julho



segurando a mão do irmão Theo



logo depois de dizer:



"A miséria não tem fim".



Os jornais deram a notícia na seção policial:



não registraram a morte de Van Gogh



um dos precursores da arte moderna



o pintor dos quadros mais caros do mundo



só vistos em museus famosos



e nas paredes de gente muito rica.



Seus quadros atualmente valem fortunas.



No dia da sua morte, no sótão da Galeria Goupil,



700 quadros de Van Gogh amontoavam-se



sem comprador. Vincent libertou a cor...



Seus últimos anos de vida foram mantidos pelo irmão,



as tintas, as telas...e o médico, Dr.Gachet.



A sociedade às vezes sabe encontrar a maneira



adequada de matar um artista revolucionário,



por algum tempo...






(do Lieberdade by joyce pires)

SOMOS UM EQUILÍBRIO MUITO DELICADO.

(Buda Vajrasambhava)

FALO (Vajra) (31 jul.96-Tântricos Poemas)

Minha caneta
é um falo úmido
de tinta
com que desenho
as sementes
que um dia libertarão
os frutos da tua imagem.

(letra da música 09, em 11 fev.98
no GraçaDivina,by joyce pires)

Quem são ? (23 jan 2000)

Quem são essas pessoas, meu deus
quem são essas pessoas ?
que pra alimentar as cidades
saem de casa na madrugada
e andam nas estradas das cabras
onde os carros se acabam...
em direção ao Ceasa
Quem são essas pessoas, meu deus ?
quem são essas pessoas, de pés no chão
que trabalham na noite, e de dia
e se esforçam ao sol
e na chuva ou no frio
e caminham nessa estrada das águas de março...
Quem são essas pessoas ? Quem são ?

(letra da música 183, em 23 jan 00
do Hathanoir, by joyce pires)

Imaginação ativa ( 14 jan 2000)

Fui até lá
e abracei seu corpo com a minha mente
e a trouxe para mim
e nossos lábios se tocaram
e nossas línguas se uniram e contaram
todas as histórias e cantaram todos os poemas
de amor, da humanidade.
E nós nos entendemos e fomos um.
Depois, levei seu corpo de volta
soltei-o no espaço
e faces humanas perdidas
se encontraram no azul.
A verdade libertou a chama
e a casa se encheu de sabedoria
e a arte se espraiou por todos os cantos.

Acima de todas as coisas
minha mente em harmonia
sutil, livre e vazia pairou
através do amor.
Com devoção, meu coração reuniu, recriou
a imaginação informou
e todas as fontes se abriram
Jorrou alegria dos cântaros
jorrou alegria dos cântaros
jorrou alegria !

(letra da música 181, em 19 jan 00
do Hathanoir, by joyce pires)

Nosso Amor (6 julho 99)

Por toda a minha vida a fora
eu procurei um amor assim
e olha, justamente agora
fui encontrar você em mim

E dessa forma tão estranha
em meio a um lugar sem fim
com tanta gente a nossa volta
como chegar ao ponto enfim ?

Que realize a união
que abra o coração
que complemente a vida
e faça o nosso amor feliz
permita o nosso amor aqui
e possa o nosso amor servir
pra melhorar esse país
pra libertar nosso país.

(letra da música 135 do Hathanoir
e da música em 10 abril 2001 do
ComPaixão by joyce pires)

Sábias sabiás (29 out.99)

Agora, quando os beijos reflorescem
onde sopra o vento norte
que trás as nuvens de fumaça
vagas na manhã que acordou azul
Na manhã que prometia o azul
caminhas onde sopra o vento fêmea
por entre a bruma cinza
que amaciou o céu
Onde canta a voz dos ares
estremece de frio as folhas
do eucalipto:
- Sou tua e somente tua...
que nem eu me aguento.
Na manhã clara e azul soprou o vento
vindo do norte, Ela, vaga
por dentro, sobre a casa, em volta
nem tanto azul ficou o céu...
E num sussurro dizia :
- Estou tão apaixonada
que nem eu me aguento.
Agora, que os beijos reflorescem
carmim, rosa, lilás, cantam negras sabiás:
que o canto é mais doce.

(letra da música 153, em 24 nov.99
do Hathanoir, by joyce pires)

Oração de Primavera II (28 out.99)

Te quero mesmo assim, minha linda
como és
criança despida brincando
de meditar nos galhos das árvores
senhora dos raios, dos ventos e dos mares
ninfa das fontes, deusa dos rios
lua das marés, Marias
Te quero exatamente como és, assim
minha mulher
andrógino ser
uma outra de mim
Te quis no início e no fim
da estrada, no palco e na cama
e mesmo quando ainda não sabia
já te queria, inteira.
Te quero minha rainha: verde colibri
na luz avermelhando a tarde
que filtra os arbustos de beijos.
Te quero nas sombras, anoitecendo
entre meus abraços,
quando a lua acolhe os ramos do sol
e estende seu manto azulado : tanto.

(letra da música 151, em 10 nov.99
do Hathanoir, by joyce pires.)

Toque de Atriz (22 ago.99)

Ah, minha doce amada
ontem, mais leve e integrada
brilhou com seu brilho raro
da verdade do palco...
Depois, despida da atriz
em meio ao esquema da autoridade
me olhou entre os olhos:
- O que eu posso fazer ? (Fiz...)
Pensei, mas não disse; nos olhos:
"me envolver" e "toquei" sua mão:
- Você interagiu comigo
naquele dia... fala comigo ?
Concordando com o movimento
de cabeça e olhos baixos -
ele me pediu para sentar
e esperar... sorria ("Falo").
Mas, depois, fugiu novamente
em meio ao esquema autoritário
da segurança envolvente.
Ah minha doce amada.

(letra da música 169, em 20 dez.99
do Hathanoir, by joyce pires)

"Cheguei" ( 7 nov.99)

Quem dera pudesse eu despertar
novamente em você
tais sentimentos...
Fazer com que você tenha essa vontade
de me trazer conchinhas do mar,
estrelas do céu e peixinhos...
pra me agradar ?
Esse desejo de ser porto
se acaso eu quiser ancorar
- Você é ar, é terra e mar
minha enseada.
Ah mulher amada
quisera eu acreditar
no que aqueles olhos me disseram
e que toda essa história
é verdadeira e não apenas uma brincadeira.
Quando o mar tem mais segredos
é quando é cal-maria...
Teu silêncio, doce amada
é um fogo ardendo
na manhã desejada
(na manhã esperada,
na manhã sagrada)

(Letra da música 149, em 8 nov.99
by joyce pires - do Hathanoir)

Suave (18 set.99)

Suave
o vento no lago outonal
o sol na água abissal
o fio brilhante do raio
no topo da montanha:
a correta ação.
O céu encontra a terra.
Acolhe humana mão
a semente dourada.
Logo brota a Flor.

(letra da música 158,em 3 dez 99
by joyce pires - do Hathanoir)

No Azul dos seus olhos (27 fevereiro 2000)

Quando me vejo assim
nesses seus olhos de corça
assustada
nesses seus olhos de garça
esses azuis dos seus olhos
de cabra amarela
na noite...
raio azul !, raia o dia,
Maria.
Quando me vejo assim
nesses olhos serenos
da bruma do mar,
esse olhar, às vezes
breve, ou triste... profano
ou profundo
oceano:
- Mergulho !
No azul da face
suave
fonte
doçura e força :
- Canto !
e meus olhos descem,
deslizo no desenho
do nariz ereto,
e no traço reto
dos lábios delicados
me satisfaço
entre os rígidos seios
de vestal bem amada:
-Espanto.... os in setos !

(letra da música 191, em 28 fev.00
by joyce pires , do Hathanoir.)

Deep Song ( 31 jul 98)

Tudo é somente imagem
desperto
meu corpo diAmante
nas folhas de prata
do grande Eucalipto -
o pássaro marrom se fez no ar
asas brilhantes no azul
em direção ao sol.
Vazia soulove
minha natureza
mãe de todas as causas
liberta semente
minha língua vermelha
chama luminescente
nascente estrela
somente so ha esse hóspede
onadeepbluesea
in my heart
mahat

om tare tam so ha
om tare tam so ha
vajravina ilumina.

(letra da música 44 em 31 jul.98
by joyce pires - do GraçaDivina)

O Yoga de Vygotsky

Lev Semenovich Vygotsky foi um pesquisador russo (1896-1934)... que compreendeu os múltiplos processos que articulam o pensamento e a linguagem, especialmente os aspectos afetivos-volitivos na criação do sentido. "A linguagem é a encarnação do pensamento".
As funções psicológicas superiores são construídas durante a história social humana. Na nossa relação com o mundo, mediada por símbolos desenvolvidos culturalmente, nós criamos as formas de ação e inserção no mundo. O acesso é mediado pelos conteúdos mentais de natureza simbólica. A linguagem é o sistema simbólico fundamental na mediação entre sujeito e objeto do conhecimento.
Na formação de conceitos, a palavra é o signo mediador, que forma o conceito e depois torna-se o seu símbolo.
O pensamento tem sua origem na esfera da motivação, que inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção - esta é a base afetivo-volitiva do pensamento humano.
Para Vygotsky, o sábio russo, a consciência humana se relaciona com a mais alta forma de orientação no mundo e com a regulamentação do comportamento e formou-se durante a história social e cultural da humanidade. Vygotsky distingue significado e sentido: o significado se refere ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, núcleo estável de compreensão da palavra, que pode ser compartilhado. O sentido refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo. Assim,
a linguagem requer interpretação com base em fatores linguísticos e extralinguísticos. Para compreender a fala de alguém não basta entender as suas palavras - temos que compreender o seu pensamento e conhecer suas motivações. Ele falava do sub-texto. No próprio significado encontra-se uma concretização de sua perspectiva integradora dos aspectos cognitivos e afetivos do ser humano.
"Quando consideramos um ato de pensamento relativo à resolução de uma tarefa de importância vital para a personalidade, torna-se claro que as conexões entre o pensamento realista e as emoções são frequentemente muito mais profundas, fortes, impulsionadoras e mais significativas do que as conexões entre as emoções e o devaneio". Vygotsky falava aqui do pensamento do revolucionário ao contemplar ou estudar uma situação política complexa. Vygotsky, profissão: bodisatva.

Joyce Pires.

O AMOR (17 agosto 98)

Como o lotus,que expande raízes na lama
e dela se alimenta,
produzindo flores divinas,
frágeis flores de puro perfume
com poderes de cura,
Também nesse úmido chão,
"elevada mãe", firmo meus pés
no fundo do poço
para o supremo impulso
em direção ao céu:
As músicas são essas flores
a poesia, o perfume
que brotam do lotus do meu coração.

Letra da música 113, em 28 nov.98
do livro GraçaDivina,by joyce pires)

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Abraço (MahaMudra ) *

Acordei de repente, com um sol na cabeça
a luz era muito clara e brilhante
E alguém dizia o meu nome
uma voz jovem e doce
mas não sei dizer de quem...
Logo percebi que amanhecia:
escutei os primeiros pássaros:
o bem-te-vi, a sabiá (preta)
a cambaxirra.... e a
pequena cuíca,andando no piso do sótão.
E pensei, ainda em êxtase
que é bom viver assim, realizada
E como é tão bom poder abraçar
alguém que a gente ama
um corpo conhecido, íntimo
que se reconhece pelo tato
que o nosso corpo reconhece, na região
do peito, no fundo dos braços:
o jeito, a forma, o calor, a pressão,
o amor, a paixão... e o cheiro.
Ah, como é assim tão bom... Imagina.
Levantei, abri a porta da sala
e ali, na varanda e no jardim
lá estavam elas
as flores azuis
dos agapantos, das hortências
e de minhas violetas siderais
"for your furs" .
(ou "Para os seus carnavais."
pode substituir o verso em
inglês... se preferir cantar
assim, em português)
*Letra e música 116,em 01 dez.98
by joyce pires. Do Tântricos e outros
cânticos.

BARKFLY (7 dez.98)

Na crista da onda: velejando
me sentei na varanda, atrás da casa, pra almoçar
e seus olhos estão por toda parte
cada flor de beijo me olha, serena
com seus olhos de águia, tão ternos
Eles estão na oncidium, profundos
na orquídea marrom e amarela
no galho da pereira, e me olham com carinho
nas folhas da avenca, cúmplices
nos vasos da escada
na casca do eucalipto, de camurça.
No azul dos agapantos, no alto da colina.
Estão no canto de primavera dos sapos, felinos
Seus olhos estão por toda parte
no córrego batendo nas pedras, íntimos
estão no sabor dos alimentos
na luz das estrelas, no arco-íris
na alma das folhas...
A substância de que ela é feita: pura luz.
Seus olhos de águia vêem longe
são feitos do éter azul do silêncio
do som... outsiders.
O sonho é uma linguagem: imagem do amor.

(letra da música 118 , em 8 dez.98
do livro Tântricos e outros cânticos
by joyce pires)

Oração de Primavera (27 outubro 1998)

Você, que costuma vir com a chuva
Mulher das águas
você, que traz a chuva
Rainha dos oceanos
ninfa das fontes
deusa dos rios
lua das marés
Marias
casa de Deus
divina sereia encantadora
É pra você esse meu canto, esse pedido :
me salva, me grava em teu peito,
liberta esse trovador contido e encantado
porque sem tua voz seguirei assim perdido de amor
perdido, sem amor
Só através de você, poderei ser a ponte
para libertar meu grande amor.
Preserva Perséfone persevera primavera
porque a perseverança é a perfeição
no coração humano.

(letra da música 86,em 27 out.98
do livro Tântricos e outros cânticos
by joyce pires)

Liebreto (Libreto liberto -6 out.98) a Wira Wowk *

Ouça-me.
Quero que me ouçam ou que me leiam
enquanto ainda me encontro viva:
porque meu livro é um libre vivo !
Depois, será que poderei saber...
afinal, serviu pra alguma coisa ?
tanta criatividade tântrica.
Librar ! Teia.
No entanto, não importa que eu saiba
agora... o espírito vaga adiante de seu tempo
e é por isso mesmo libertário:
vã guarda ? - Avant, que a hora é certa.
Não importa que eu saiba ?
- Se houver alguém ainda que me possa ouvir
saber por mim
Ou será que não escutam porque me insisto em falar
ou porque talvez eu fale baixo
Se fecham ou fecham as portas do sentimento ?
Janelas de solidão.
E suas casas não tem lareira.
O espírito vaga
e vagamos todos por essa estepe infinita
desertos de entendimento
nordeste de incompaixão
vidas secas
in gratos ramos gracilianos
Não há oásis por aqui ? - melas
Mas paredes frias de perdidas brancuras
porões de aprisionamentos humanos
dentro da noite
Nascemos todos santos
gracilianamente lúcidos límpidos
melatoninos lentos
talvez, não tão despertos assim como
o Fernando
e todas aquelas suas pessimistas personas.

Ah minha mãe, luz incriada
me traga sempre em teu colo aconchegada
enquanto precisar do Não
Junta emteu seio
os Lorca e Neruda
e suas ilhas
e um sonho.
Que a diversidade não é adversidade
mas igualdade.
- Vira El Wira !
Me acorde sempre assim
quando me falta o ar
e os pulmões já desaprendem
que preciso ainda respirar (terei brânquias ?)
por pouco tempo
Rimbaudianamente
Me acorde, em meu aprendizado
fotossintético
reproduzindo algum novo
oxigênio prânico
orgânico árico dravídico
céltico pineálico
nas santas areias solitárias
de minhas praias cardíacas.
Curas... anti HIVs
Íons liquóricos luminescentes
asas azuladas, olhos de águia.
Sopro suspenso ! Fonte suprema.
Minha língua vermelha
fala um idioma antigo
quase perdido
na fonologia do tempo.
- Ciclones. Incêndios. Terremotos.Inundações ?
Aladas palavras violetas
Iluminações. Serenidade.

(Ler ao som do Estudo, opus 25, de Chopin)
-* para Wira Wowk (Wira Selanski)
do livro Tântricos e outros cânticos.

JoyAnanda (21 maio 97)

Sou a filha espiritual de Hermes e Afrodite
Yoga entre folhagens úmidas, rios, fontes
Única, una, muitas
Nasci da paixão de uma ninfa
por um jovem deus grego
de rara beleza
e fiquei assim: alada.
Celta, pela manhã, camponês, artesã
produzo leite, sacerdotiza de cabras.
Ao meio-dia contemplo, medito
à tarde: alquimista, arqueiro
mergulho na pesquisa.
De noite: druida, sábio, vate, poeta.

O mito, explicação das origens, vive indefinidamente
na memória humana. Não necessita da escrita
está inscrito nas linhas da pele.
O homem que compreende está livre
da história e dos homens...
- Isis? Uma espécia em extinção ?
Um tipo de Demeter-Shiva
esfinge, dragão. Ananda Gay !

(letra no Tântrico e outros cânticos,
da música 89,em 10 nov.98 by
joyce pires)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


h A T h A N O i R ( * )

SE (SI... see)

Se um dia você vier pra mim
vai ser assim
simplesmente assim, música e amor e poesia.
E nós duas saberemos afinal
porque nos encontramos assim
simplesmente assim:
música e amor e poesia.

(letra em 13 e 14 março de 99
música 131, em 13 mar 99)
* Hathanoir é um livro de poemas alquímicos
by joyce pires - tantra poesia, 1999.

o luar clareava a estrada







ARYATARA (A ESTRELA)

O luar clareava a estrada
eu descia o caminho úmido sem sombras
com a certeza de estar em casa.
Fome de amor, vampiro que te consome
o manas, o sangue - dor.
E andas pelas ruas, perdido nessa busca inútil
porque o amor já está em ti
querido, amigo.

(Deméter) De volta ao exílio
condenada a viver comigo mesma
por absoluta falta de parceria
desterro de afinidades
solidão de cumplicidades, eterno inverno.
(Perséfone) Antecipando a primavera
leve e saltitante, enfim ela veio !
Criança linda, trazendo consigo
o sopro da Vida !

E o novo ser, seguindo o fio de prata
saiu de dentro da lua e viu um estranho diante de si
mas, sua mãe lhe disse: não tenha medo, querido
é parte de mim. Vem e seja feliz.

O luar clareava a estrada
eu descia o caminho úmido sem sombras
com a certeza de estar em casa.

(letra no Tântrico e outros cânticos, da
música 90, em 10 novembro 1998
by joyce pires
dedicada ao Sergio Guida e Beth Nicolau;
para Maria Bethânia cantar...)

L I E B (13 fev.2000)

Seu nome é Mar
o meu, Felicidade
Ela mora no Joá
eu moro nas Salinas
Vivemos uma na outra:
eu, em seu sabor
ela, em minha sabedoria.
O sal é minha Lieberdade.
Eu sou sua Alegria.

(letra no livro hAThANOiR ,da música 188,em 23 fev.00
by joyce pires)

TOCANDO A TERRA (02 maio 2001)

- O ser humano está enlouquecendo ?
- É a impressão que se tem, quando ligamos a televisão... - Ela está "aberta" !, e os seres humanos que trabalham nela parecem já não saber o que fazer para manter a governabilidade. - Será que o aparelho de Estado dominante não poderá dar conta do caos planetário ? - Vamos viver com o sol !
A mente explícita.
Aqui, no ocidente civilizado, o problema principal é com a ética: perderam a delicadeza - isto é um valor, essencial. A TERRA não é respeitada como deve ser respeitada alguma coisa sagrada. Sim, a Terra é sagrada: nossa Terra, nosso planeta, nosso lugar no tempo e no espaço. Ela, que a Vida escolheu para existir; Ela, que levou tantos bilhões de anos para ser o local da Vida - e neste sentido, é a própria vida ! ; não é mesmo ? -- E o que estão fazendo os seres humanos ? - Tentando destrui-la ! ... Não encontram a maneira correta de produzir subsistência. O modo de produção, que acumula riquezas em vão, nas mãos de uma minoria de privilegiados, transformando em miseráveis a grande maioria das populações que trabalham ou que são marginalizadas, é também o modo de produção que explora a Natureza, devastando e arrasando com a Terra e seus seres, árvores e bichos. Falta aqui a noção do sagrado. O ocidente capitalista perdeu o ELO com sua verdadeira natureza e, claro, com a verdadeira natureza da realidade. A Terra é uma deusa e é preciso cultua-la ! Seu culto é uma religião, uma reunião e nossa proteção. Ecologia.
(...)
Já vou adiantando aqui: se é para termos uma nova fonte energética, além da que já possuimos (água), só mesmo se for a energia solar. Energia nuclear, não ! O que nós queremos é ecologia e paz.
- Quando a população trabalhadora do Planeta Terra se der conta de sua própria força, e todos juntos, formos para as ruas, de todas as cidades, em todos os países, em todos os sites da internet... todos unidos, numa única voz, clamando pelo desarmamento completo e pela paz e por formas alternativas de administração pública; quando, todos juntos, formos capazes de chamar os respectivos governantes e exigir atitudes coerentes com os nossos verdadeiros carecimentos; quando, cada um dos seres humanos desse planeta, se encontrar, nesse momento histórico, em plena rua pública, e todos juntos proclamarmos a nossa Libertação - então, existirá salvação para o Planeta.
Olhem nossas florestas. Veja os animais e os pássaros. Sinta a vida vibrando em cada árvore. Você está sentindo o perfume dessa flor ? E agora, ouve o vento cantando entre os ramos ? - Você pode perceber a existência dessa infinidade de seres que habitam nossas biotas ? Toda a diversidade da mata ? - Veja: isto é a liberdade. E nós, os seres humanos, somos uma parte dessa natureza. Nós somos os seres mais conscientes e, portanto, os mais responsáveis por tudo isso. Por que podemos destruir com tudo ? - Não !; porque somos uma pequena parte de toda essa grande vida. Preserve a água e respire prana:
- Sente-se em padmasana e cante um mantra. Mudra da Meditação. Suavemente. OM.

(Joice Terra Cesar de Mello Pires / VajraSambhava)
Tocando a Terra é um livro escrito em 2001, dedicado
ao Fernando Gabeira.

Humanidade (04 dez.2008)

O ensaio é a forma própria da filosofia. Escrito a partir das experiências do autor, é a forma do pensar que se busca e busca conhecer além de si e quer permanecer como busca: pensamento inacabado. Um estilo. Ação livre. Reflexão.
O Desejo de um autor verdadeiro não é vender seus livros, ser bestseller ou ganhar prêmios. É ser lido e compreendido. Compartilhar sentimentos e percepções é um grande prazer, alegria.
Precisamos de congruência. Não podemos continuar reproduzindo comportamentos esquizofrenizados em nosso cotidiano, a partir de supostas coerências cognitivas já ultrapassadas, não mais necessárias.
Trata-se de reunir pensamento, linguagem e sentimento. Para que os gestos e nossas possíveis atitudes possam fazer sentido: para que a vida seja rica de significados.
Trata-se da elaboração conjunta, crítica e compartilhada, de uma concepção de mundo coerente com as nossas verdadeiras necessidades e a realidade atual. Uma concepção coerente, ou seja, um como fazer, uma proposta crítica efetiva, capaz de transformar a vida e torna-la realmente humana.

Buda Vajrasambhava


BUDA VAJRASAMBHAVA (05 DEZ.2008)

Vajrasambhava, "nascida do Diamante", do ventre da Celeste Terra, veio ao mundo na maternidade Sta.Maria, nas Laranjeiras, quando seus pais moravam em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, às 18 horas do dia 30 de maio de 1949. Filha espiritual de Hermes e Afrodite, viveu dos 4 aos 6 anos, no alto da Tijuca, e depois na Ilha do Governador, até os dezoito anos. Depois do Movimento Estudantil, em 1968, quando enfrentou as forças armadas da ditadura burguesa, nas ruas do Rio de Janeiro, passou a vender sua arte em colagens de folhas secas, cartões, quadros... na Feira Hippie - e foi nessa época que se aproximou do RajaYoga. Durante 30 anos de práticas recebeu diversas iluminações até que, em 1998, já em Salinas (Nova Friburgo-RJ), obteve a Iluminação definitiva. Aqui ocorreu o seu encontro com o Lama Chagdu Tulku Rinpoche e o Vajrayana.
Então, em 02 de novembro de 1998, escrevi:
O luar clareava a estrada
eu descia o caminho úmido sem sombras
com a certeza de estar em casa
(...)
e o novo ser, seguindo o fio de prata
saiu de dentro da lua e viu um estranho diante de si
mas, sua mãe lhe disse: não tenha medo, querido
é parte de mim. Vem e seja feliz.

(Música 90, em 10 nov.98, letra no livro
Tântricos e outros cânticos, de 1998)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

IRIS MURDOCH (31 MARÇO 2008)

IRIS agora é um filme, que vi na TV outro dia. Logo tratei de procurar um livro dela para ler. Claro, tinha um, esperando por mim, na livraria da graçadivina... sincronicidade significativa.
Iris nasceu em Dublin, Irlanda, em 1919. Formou-se em Oxford, em 1944 e trabalhou no Serviço Social da ONU, na Bélgica, Áustria e Inglaterra. A Europa sofria então com a segunda grande guerra imperialista. Em 46, Iris recebeu uma bolsa de estudos para os USA mas o governo americano não aceitou seu visto, porque ela pertencia ao Partido Comunista Britânico.
Em 1948, Iris voltou para Oxford, para lecionar filosofia no St. Anne's College e lá ficou por quinze anos. Em 63 abandonou o magistério e passou a se dedicar à Literatura, vivendo em Londres, onde se filiou ao Partido Trabalhista.
Foi como filósofa que Iris escreveu seu primeiro livro, um ensaio sobre Sartre. Aqui, distingue a questão da objetividade, criticando o subjetivismo do existencialismo sartreano. O tema seria exposto em seus romances, o reconhecimento da existência objetiva onde o amor tem início... com a supressão da subjetividade excessiva.
Seu primeiro romance, de 1954, é Under the Net, que foi algo polêmico nos meios intelectuais europeus. O segundo, A mulher decepada, um mergulho psicológico no relacionamento de casais da classe média londrina.
O livro que li agora é uma tradução com dois romances de l963 e 4: The Unicorn e The Italian Girl.
O unicórnio é uma história NOIR, onde Iris nos fala dos envolvimentos de uma professora com um grupo de pessoas que cercam a figura de uma excêntrica mulher, o unicórnio Hannah.
A moça italiana é outra aventura estranha, narrada na primeira pessoa, por um homem... que volta à casa da infância, para o enterro de sua mãe, e encontra uma situação surpreendente, entre seu irmão, esposa e filha, todos envolvidos por um casal de irmãos de origem russa e uma criada italiana. As duas histórias contem a mesma preocupação, constante em Iris, o tema dos relacionamentos humanos, especialmente a questão da bissexualidade.
No filme Iris, a questão não é ressaltada, mas nos livros é o tema central; é o ambiente onde as pessoas flutuam.
Iris Murdoch foi uma grata surpresa agora, depois que conclui meu livro "O Corpo do Amor"; claro, não me veio somente agora, por acaso. Iris chegou, com sua mensagem libertária, como um presente, nesse ano em que completo 59 anos. Ela veio, com sua sensibilidade, suas descrições detalhadas e análises delicadas... veio, repleta de conteúdos celtas; esse imaginário que é o meu campo semântico e tão necessário de compreensão, hoje em dia, para que possamos atravessar essa passagem ao socialismo e superarmos a violência e o egoísmo. (O mal é um princípio de desligação; ele é incompatível com o Bem.)
O unicórnio é também a imagem do Cristo. E Hannah é usada como bode-expiatório, uma criatura legendária, um belo unicórnio.
"Mas, seria uma pessoa culposa ? Se ela é culpada, ela é como nós. E se ela não sente a culpa, ela não está aprisionada em si mesma."
"As vítimas do poder, e qualquer poder tem suas vítimas, ficam contaminadas. Então elas tem que transmitir, usar esse poder sobre os outros. Isso é o Mal, e a imagem imperfeita do Deus todo-poderoso é um sacrilégio. O Bem não é exatamente fraco. Porque ser fraco, ser uma vítima completa, pode ser outra fonte de poder." E é no bem que o poder se extingue. Quando encontra um ser puro, que apenas sofre e não tenta transmitir esse sofrimento. (O Bem convive com o Mal).
Na Moça italiana vamos encontrar o mesmo tema do sofrimento, analisado pelo personagem Edmund: "Ainda não queria ter tantos pensamentos. Queria ser, durante algum tempo, talvez, pela primeira vez, diminuto e simples, e lidar simplesmente, na alegria ou na dor, com outra pessoa. Eu a via agora, uma garota, uma estranha, e no entanto a pessoa que eu estava mais acostumado no mundo: minha moça italiana, e no entanto também a primeira mulher, tão estranha quanto Eva para o Adão que despertava aturdido". - A pessoa deve sofrer em sua própria casa ?
As personagens de Iris desejam liberdade para amar e amam mesmo quando o amor parece impossível em algum contexto adverso.
- Você não pode deixar de ver o filme e ler seus livros. É uma experiência única e fundamental. Prepare-se para se emocionar com o arco-iris.

Iris Murdoch morreu do mal de Auzheimer. E eu me pergunto como uma mulher tão genial, tão rica e criativa, cai nesse processo de esquecimento irreversível, quando a memória vai se apagando...? um céu onde as estrelas de repente vão se extinguindo, auto-consumidas por um inesperado excesso de fusão nuclear... a liberação de energia, resultante da fusão dos núcleos de hidrogênio para formar núcleos de helio, essa luz que nos aquece e ilumina agora. Tremenda energia !

Joyce Pires.

KANTIANA (1 dez.2008)

Intuição é a representação que depende de maneira imediata da presença do objeto.
A impressão do objeto sobre a faculdade representativa, quando somos afetados por ele, chama-se sensação.
A sensibilidade é a nossa capacidade de receber representações graças à maneira pela qual somos afetados pelos objetos.
A intuição é, assim, a forma da sensibilidade que torna possíveis as impressões pelas quais os objetos nos afetam.
Esse tipo empírico de intuição é o que se relaciona ao objeto por meio da sensação, que torna possível a síntese a posteriori. Ela precede o objeto (é a priori) ao mesmo tempo em que o dá - porque é intuição, é aquilo que forma a sensibilidade.
A sensibilidade é uma fonte do conhecimento. Ela é autenticamente a representação de algo que se dá ao sujeito como aquilo que o afeta: aparece. Aparição e conteúdo de consciência e realidade são a mesma coisa... o que não significa introduzir o idealismo. A não ser que fiquemos com a "coisa em si":
O ser que não pode ser conhecido, só nomeado por uma expressão abstrata, sem relação absolutamente. Algo que se manifesta pela linguagem. A experiência como sensibilidade. Então, Marx nos diz em seus versos:
"Kant e Fichte vagueiam de bom grado pelo éter,
Procuravam aí um país distante,
Eu, contudo, procuro apenas compreender , bem
Aquilo que encontrei na rua."
(Karl Marx, Dos Ensaios Poéticos)
É:
O desejo de descobrir uma concepção do mundo que permita uma real compreensão dos processos vitais e uma participação ativa neles.

A sensibilidade é o lugar da nossa subjetividade, do indivíduo, do eu. Portanto, é também o local do discernimento e da elaboração das impressões, isto é, do sentimento. Então, é o lugar das inconsciências, do imaginário e do nascimento da sabedoria. Dialeticamente.
É o pensamento enquanto conhecimento, como transformador da realidade, no processo histórico de construção de uma vida com mais justiça e equanimidade. Uma teoria, a filosofia da praxis, que cabe a nós desenvolver e atualizar, para que possamos, juntos, não só ler e compreender... mas, sermos capazes de realizar, fazendo a nossa História, a partir das condições de existência que estão aí, agora, completamente dadas.

Joyce Pires.

O patriciado e a tecnocracia (do Lieberdade 8 jul00)

O patriciado e os tecnoburocratas são duas frações
da classe dominante das formações sociais capitalistas.
O patriciado é aquela gente famosa da TV e do cinema,
atores, cantores, compositores;escritores; catedráticos;
diretores e produtores de rádio, cinema e TV; gente
da imprensa, jornalistas e âncoras de programas;
gente que faz a notícia e que forma a opinião pública:
todos são muito famosos ! adorados pelos fãs...
A tecnoburocracia é aquele tipo de gente dos porões
que preparam as regras administrativas e econômicas,
as leis do Banco Central e do judiciário burguês
que vão controlar as relações sociais e a civilidade
e dão o contorno da violência ideológica do Estado !
Alguns são famosos mas geralmente não têm fãs...

Essas duas frações da classe dominante
embora com essa distinção flagrante - os primeiros
produzem cultura dominante que permanece na superestrutura,
os segundos produzem a dominação que se efetiva na infra;
- essas duas frações de classe dominante têm algo em comum:
ambas vivem numa espécie de auréola de ouro protetor,
como aquelas "bolhas de oxigênio" utilizadas pela medicina
para proteger certos enfermos muito sensíveis a microorganismos
para que não se contaminem com o ar impuro de fora;
ambas vivem distantes da realidade do país
e ambas reproduzem o modelo romântico da alienação.
São como os deuses da não-forma, do Budismo Tibetano,
cujo renascimento é causado por apego à estabilidade.
O que lhes falta, na verdade, é uma estética-ética.

(Lieberdade é um livro de Tantra Poesia, de 2000
by joyce pires)

domingo, 30 de novembro de 2008


Três Picos de Salinas

e Salta (do Lieberdade, 22 julho 2000)

Exigências do poeta,
um carecimento de bardo:
se não comunica
é sofrimento na certa.

E vai pela vida carecendo assim
de ser ouvido
não basta dizer apenas
é preciso que o escutem
ser druída, herança maternal
Uma força que incentiva
a criação. Intermedeia: inter medéia.
Não pode fugir.
Não pode disfarçar.
Não adianta nem tentar
Festas da delicadeza
É pegar com a mão
a chama inteira. Reciclar.
Luzerna no alto da colina.
Bicho na espreita, sai do mato
gira sobre o corpo

e salta !

(letra da música 216,em 22 out 2000
by joyce pires)

De Lesbos (do Lieberdade, ll set.2000)

Você me afronta... me desejou
e eu neguei - por isso
você me afronta
com seus cães, mata minhas cabras
seus dentes são o teu falo, Zé
Você me afronta, no éter
com essa sonoridade musical, tão alta
sertaneja e for all
permeia o céu de salinas
espermas sutis repetitivos e mono tons.
Me afronta, se peço para prender seus cães
me ameaça de morte.
e me chama, aos berros, na estrada
de vagabunda, prostituta e sapatão !
Essa profissão, no Brasil, não tem não.
Talvez em Amsterdã exista esse tipo
capaz de satisfazer freguesas carentes
e calientes - uma sapata profissional.
Por aqui, o que temos é a vanguarda,
como diria Camille Paglia, a gáspea :
Eu e a minha dignidade lésbica.

(Lieberdade é um livro de Tantra Poesia
escrito em 2000, by joyce pires)

ÂMAGO (do Lieberdade, 21 julho 2000)

O que nos toca é o prazer
que fica concentrado no íntimo
o frio numa imagem
visual ou acústica, no ser
a lembrança de um grande amor...
uma noite junto e a lareira acesa
nos olhos, a brisa de um reconhecimento
que passa no vento: bruma do mar
frio no Arpoador, e as ilhas
areia da praia no céu, poesia
misturam-se os sentidos
o tato é ouvido, no ato
Música das estrelas:
oitava dança, justa viagem
entre o real e a imagem.

O correspondente sutil,
percepção mais que sensível
permanente semente. Sem morte.
O criativo: aderente. Coração.
Luz do sol e suas cores
que amenizam nossas dores
e pode nos liebertar. Ou não.

(letra da música 248, em 23 março
de 2001, by joyce pires)

Ressonância (do Lieberdade, l8 julho 2000)

Que ternura é essa ? que me lateja nas veias
e me acorda pela manhã bem cedo, um raio
e acaricia todo o meu corpo, dos pés à cabeça
e me arrepia os pelos e me desnuda
um vento frio às vezes e logo esquenta
e ferve meus sentidos e me refresca os ouvidos
e me faz tremer nas bases, fervor, medo !

Que alegria é essa ? que me assalta
o sentimento largo de uma morte súbita
um pressentimento no grito escandaloso dos gaviões
e eu sou a presa ou trigo maduro
e me entrego inteira a esse amor
e me deixo levar nessa deliciosa tormenta
tempestade e calmaria... De repente
me descubro ainda viva e jovem
naquela juventude dos dezoito anos
diante da primeira revelação : sol.

O que é isso que ressoa paz
e que me faz assim tão linda ?
O que é isto que me reciclou ?
Uma impressão profunda e transcendente
A imanência do desejo ! que me deseja.

(letra da música 225, em 15 dez.00
by joyce pires)

sábado, 29 de novembro de 2008

DIÁFANA ( do Lieberdade -ago 2000)

Sincronicidades pelos cantos
nos ares, na casa
caindo das estantes
saindo de dentro dos livros
Sincronicidades significativas
sinais oraculares
anunciando a tua chegada:

Séculos e mares
trituraram rochas esquecidas
para que eu pudesse te dar
esta simples areia
por isto te quero simples
porque te quero
antiga como o mundo.

(letra da música 204, em 25 ago 2000
by joyce pires)

PARA SI (do Lieberdade / jul.2000)

Ser um colibri
tecer o ninho com fios
das teias das aranhas
e musgos das pedras e das árvores
E se alimentar enquanto poliniza.

Olhos nos olhos:
se você me reconhece
o mundo será outro
mais pleno de sentido:
sua voz, meu abrigo.

(letra da música 223,em 9 dez.2000
by joyce pires)

Nagárjuna e Heidegger (do Lieberdade;ago2000)

Outro dia, de passagem pelo Bardo, onde costuma realizar alguns trabalhos, o sábio Nagárjuna, de Amaravati, Índia, que viveu no século segundo de nossa era, autor do Prajnaparamita, encontrou Martin Heidegger, aquele filósofo alemão muito preocupado com o ser e o tempo, sempre... e criador de sentenças grandiloquentes sobre a fenomenologia e a constituição onto-teo-lógica da metafísica...
Heidegger, em sua busca indócil, urobórica, mais parecia aquele cachorro nervoso que rodopia em volta de um eixo imaginário tentando, em vão, morder o próprio rabo...Mas ele estava mesmo pensando a respeito da identidade e da diferença, e dizia: "cada um ele mesmo para si mesmo o mesmo", repetindo Platão... que coisa estranha é essa coisa chamada Filosofia - Qu'est-ce que ?... o amor pela sabedoria ?; e repetia consigo: " a essência da identidade é uma propriedade do acontecimento-apropriação"... o ser é o ente.
Nagárjuna, compassivo, olhou-o e com aquela sua simplicidade tântrica e integridade dialética, disse-lhe:
- Heidegger, meu querido, o ser é um vazio perfeito e absoluto, onde o eu, esquecido de si mesmo, se dissolve e se encontra. Prajnaparamita, a sabedoria transcendente (que passou para o lado de lá), intuitiva, é um bodisatva feminino... e precisamos adora-la com a mesma intensidade com que um amante pensa em sua amada. Sua inacessibilidade faz com que nosso desejo por ela permaneça sempre vivo. Ela anuncia o amor.
O filósofo, especulativo, imerso em si e ainda muito preocupado com as "possibilidades do não -dizer que diz" da sua hermenêutica, parou por um momento e em seus olhos o sábio oriental percebeu as sombras do nihilismo: sempre compassivo, Nagárjuna tomou-o nos braços.
Então, o filósofo, pela primeira vez sentiu a força em seu próprio corpo, seus olhos brilharam, sua mente serenou... e de seus lábios emocionados nasceu um mantra.

(LIEBERDADE é um livro de Tantra Poesia, escrito em 2000, copyright by Joyce Pires)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

INSS : a miséria não tem fim ? (01 maio 08)

Agora eu estava ali, diante do Poder Judiciário, desvendando a realidade do INSS, suas origens populistas, de um tempo em que a ideologia fascista tentava deformar a utopia científica comunista, com a farsa nazista nacional-socialista... mas, a verdade russa revolucionária estava vivificando um pouco mais ao leste... Um tempo em que Getúlio Vargas tentava cooptar os trabalhadores, para que estes não cometessem o sonho libertário. Então, com a criação de um partido trabalhista brasileiro e a instituição da "seguridade social" se pensava que poderíamos dispensar a revolução libertária. Engano: o trabalhismo sempre foi apaziguador das autênticas revoltas e a tal seguridade social nunca passou de propaganda ideológica, antagônica ao trabalhador.

Talvez eu estivesse somente querendo comprovar, na minha existência, o fato de que os trabalhadores rurais não possuem qualquer "segurança social" no Estado bruguês republicano... e que a propaganda democrática está mais para nazi-fascismo.

Talvez, eu esteja somente querendo provar dessa existência, fazer parte da população que trabalha no campo, produzindo alimentos; com as condições de um outro tempo, quando a realidade cotidiana possuia palpabilidade, a vida podia ser tocada com todo o corpo e não apenas com os olhos numa tela de computador; e as mãos, forçadas a praticar, com todos os seus poros e não apenas com as pontas dos dedos, imprimindo digitalidades virtuais.

Processo kafkiano: x INSS.

Agora, eu estava ali, diante do Juiz da Rocha, esperando as minhas três testemunhas... mas, somente uma apareceu, justamente ele, o urbano veterinário, que havia participado em l990, da preparação do projeto junto ao Banerj, com seu programa Moeda Verde, de financiamento rural. Eu pedi para que ele explicasse o item do projeto referente a contratação de mão-de-obra fixa, motivo para um dos indeferimentos para a minha aposentadoria por idade, como trabalhadora rural. O INSS usara esse item para me descaracterizar e me enquadrar como empregadora. No contexto das minhas origens de classe média, talvez... eu aparentasse uma empresária, mais do que camponesa. Mas, são já 28 anos de trabalho rural e o mínimo exigido na lei são l5 anos... E eu mostrava meu talão de nota fiscal de produtora rural, minha inscrição e recibos da cooperativa onde vendia o leite de cabra, onde há descontos para o INSS e o juiz afirmou que isso deveria estar no processo... eu tb achava, mas no INSS disseram que não precisava...
Agora eu estava ali, mostrando minhas mãos cortadas, os dedos torcidos e inchados que a advogada, no papel de defensora pública, acabara de notar e apontar ao Juiz (terceirizaram a defensoria pública ?): Veja as mãos dela, Doutor, são mãos de uma mulher que trabalha (mas a dor que sinto não é visível ).
Foi mais ou menos isso que ela falou, naquele momento em que o Juiz (oliveira é árvore de Atená) acabara de me perguntar sobre os meus rendimentos (que estou sem eles há dez anos,eu respondia), quando me emocionei e as lágrimas-orvalho cintilaram ( Ah, ele é Rocha... Glauber, e Osvaldo, meu padrinho baiano, casado com a irmã de minha mãe, Celeste Terra, eu tenho terra no nome) meus olhos se voltaram para a defensora, depois para o juiz atená meu padrinho (você está vendo bem as minhas mãos ?) e eu mostrei, sobre a mesa, ele ali, diante de mim, olhando e concordando (acho que já está convencido dos meus direitos), com um movimento de cabeça; por um instante piscou os olhos, fechou e abriu os olhos, concordando que realmente as minhas mãos eram mãos de trabalhadora rural, apesar de tudo o que estava escrito em alguns documentos daquele processo contra o INSS, movido pela Justiça Federal: eu estava inscrita anteriormente como bancária (trabalhei no BNH de l978 a l987); e como correspodente, mais anteriormente ( foram só 3 a 5 meses... fazendo atas de uma entidade e não interrompi meu trabalho com os coelhos e as vacas, em 75, porque era isso que me importava realmente, o trabalho que eu começara em 72 e não queria parar, eu amava muito aquele lugar, do amor e da magia, minha Salinas, salvação da minha alma, lugar da criação, da minha salvação, meu lugar no mundo, possibilidade espiritual)... eu estava agora ali, diante do juiz da rocha, aquela pessoa que iria julgar se me enquadro como trabalhadora rural, apesar do documento do INCRA, que tem meu endereço em Ipanema, nos anos de 77 a 89... mas saquei o papel de 88 e ali estava posta restante de nova friburgo, e fui dizendo que eu morei em ipanema quando voltei ao Rio e fui trabalhar no BNH, em 78 (é, eu trabalhei com carteira assinada e contribui para o inss durante 13 anos. Esse tempo de contribuição não conta... se perde na legislação injusta da nossa previdência); e o juiz já perguntava então, por que o endereço de ipanema e se eu confirmava que era jornalista...e expliquei que estudei comunicação de 78 a 82, quando me formei, e nessa época eu trabalhei no BNH e morei em ipanema e, claro que ele estava julgando que isso deve ter influenciado os frios técnicos analistas do inss, para negarem meu pedido de aposentadoria como trabalhadora rural (melhor endereço em ipanema que na posta restante) e eu olhava agora, rapidamente, a expressão no rosto do advogado do inss, bem ali na frente, sentado com seus documentos sobre a mesa, acompanhando atento as perguntas que o juiz me fazia. Era um rapaz jovem, com cara de classe média, daquela classe social em cima do muro da qual eu fazia parte e a qual ainda faço questão de não pertencer !
E ele não fez referências, graças a deus, ao fato de eu possuir, ainda, um diploma de pós -graduação em Ciência Política - que isto não faz parte do processo... sim, este é um caso excepcional - não é a regra. Parece que sou mesmo uma exceção. Talvez uma sobrevivente, quem sabe, apesar de assim exposta nesse rito de passagem; um daqueles seres extraordinários, que gostam de viver na própria pele (e na existência cotidiana) os prazeres e as dificuldades dos outros; poetas, revitalizadores utópicos...
E agora o juiz da rocha me perguntava sobre o meu casamento, em 88, e qual a profissão do meu marido e se ele morou comigo e trabalhou em Salinas e quando nos separamos; foi em 90, ele só ficou três meses, não se adaptou (mas não falei que ele veio com seu namorado, que somos gays e ele sempre foi apenas um amigo, nos casamos para driblar a lei, que não aceita os nossos casamentos gays !; e nos casamos para que eu pudesse receber o meu fgts,para poder recomeçar a minha vida, que em salinas não havia ônibus por perto e eu precisava de um carro para entregar o leite das cabras na queijaria, que a estrada é de terra e lama, nos meses de verâo, águas de março do Tom e eu sempre cantava com a EstrElis, águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no seu coração... é pau, é pedra, é o fim do caminho, é a lama, é a lama... e eu apenas procurava um verdadeiro Lama, que somente me veio, afinal, em 1998 (eu pressentira que ele viria, um dia...).
O juiz já deve conhecer as manhas do INSS para não aposentar trabalhadores rurais, especialmente as mulheres camponesas... que não tem as terras em seu próprio nome - o que não é o meu caso. O juiz parace que compreendeu que eu havia tentado uma espécie de "economia familiar", mas o marido se foi e isto não deve mesmo ser um argumento para que não me aposentem; nem mesmo o fato de eu haver comprado o sítio, em 72, com uma amiga... a sócia, que também se foi, no ano seguinte. E eu, sempre insistindo, persistente, na vida no campo, com minhas cabras pastando solenes no meu jardim (mesmo sem a Lucia). É, a MPB sempre foi uma constante em minha vida, e o juiz não sabe e nem mesmo o inss quererá saber que antes, em 68, eu militei no Movimento Estudantil, eu fiz aquela passeata dos Cem Mil na morte do Edson Luiz (tem uma foto, comigo na passeata bem ao lado do caixão do Edson, carregando um cartaz convocando a população a se organizar, na revista Manchete, em l968) e aquele estudante de medicina, também assassinado pela ditadura burguesa, o Luis Paulo Pires da Cruz, é meu primo (sobrinho de meu pai); que eu estudei violão aos quinze anos, na Ilha do Governador, em 1966, e o Luiz Gonzaga Jr. foi meu professor, é , o Gonzaguinha, filho do Gonzagão, Asa Branca, meu irmão ! - meu irmão Luis. É , a MPB sempre fez parte da minha vida e acabei compondo 400 músicas, numa iluminação completa e irreversível, depois de dez anos criando as minhas cabras saanem e toggenburg, que esse era o meu caminho vajrayana de ressurreição camponesa (convergência adaptativa). Eu cantava, em 1970, numa buate em Copacabana, chamada Snoopy cave e logo ali perto, fazia um curso de pré-vestibular para Psicologia, saía do curso e ía cantar na buate, acompanhada pelo violão do Helio Delmiro, e eu escrevia minhas poesias nuns livros em branco que existiam numa estante num canto da cave, enquanto os clientes bebiam e namoravam, antes do nosso show começar. Eu escrevia, enquanto minha namorada não vinha.
Isto também o Juiz e o Instituto de Segurança Nacional não sabem e nunca irão saber... digo, Instituto de Seguridade Social (aos domingos, eu vendia colagens com folhas secas, cartões, na Feira Hippie).
Sim, exceção. Infelizmente, as duas outras testemunhas não vieram ao encontro. Justo o presidente da nossa associação de trabalhadores rurais, pequenos produtores da comunidade de salinas; eu disse apros e saquei a carteirinha, com a minha foto e nome e entreguei ao juiz, para ele ditar ao escrevente.; o nosso presidente, parace que não percebeu a importância do cargo, ele que me conhece desde que nasceu e seria uma grande testemunha. Mas será intimado a comparecer para a próxima audiência, em 25 junho. Tantas lutas juntos, mas é uma questão de consciência de classe possível.
Ao final, a advogada disse que eles serão intimados e terão que comparecer. Vamos ver.

INSS 2 : a miséria não tem fim (o7 julho 2008)
- O INSS e a Justiça Federal me condenaram a morrer de fome... A juiza Tatiana me sentenciou a pena do não "benefício previdenciário de aposentadoria por idade rural", em 26.06.2008. Fui condenada a existir, no final da vida, da boa vontade dos amigos e de alguns meus devedores... Sem cidadania. O Brasil não é um país de todos. Ele pertence às classes dominantes. Aos miseráveis, marginalizados, só resta a transgressão.
A juíza insiste no equívoco de que eu teria contratado mão-de-obra e que seria uma "empresária". Em sua sentença também ressalta o fato de eu ser jornalista (sic). Não adiantou a testemunha, o veterinário, afirmar que a mão de obra incluída no projeto do banerj (para a criação de cabras) é apenas uma previsão, não significando que eu contratasse alguém de fato. E realmente o empréstimo mal deu para comprar ração e implementos. A mão de obra sempre foi somente a minha própria, o que me causou problemas neurológicos, como uma bursite e tendenite nos dedos das mãos, pelo excesso de ordenha. Foram vinte anos ordenhando, dos quais dez foram empregados na ordenha de cerca de 40 cabras, das 6 às l3 horas.. depois, ía com o rebanho para a montanha; pastora de cabras... sacerdotiza de cabras.
Agente da classe dominante e suporte da opressão, a juiza não compreendeu o que o veterinário afirmou: o fato de estar prevista contratação de empregados não significa que eu tenha contratado. Aquilo era apenas um projeto de financiamento de um banco rural... Não era um documento essencial, como a escritura do imóvel rural, por exemplo, ou como a declaração da nossa associação de trabalhadores, que afirma que eu trabalho no campo há 24 anos. Sou, de fato e de direito, uma camponesa. Porque eu desejei isso ! Eu optei por essa condição social. Questão de integridade ideológica: sou comunista.
A juiza não entende que apesar de jornalista também sou trabalhadora rural. Ela me condenou por ser jornalista... não pode admitir o fato de que, não conseguindo sobreviver no campo, em 76, eu tenha tentado trabalhar na cidade e me esforçado para estudar, à noite, depois de 8 horas de trabalho, me formando em comunicação social. Depois, em 87, já decepcionada com o rumo tomado pelo governo Sarney, pedi demissão doBNH (agora CEF) e voltei a trabalhar no campo. Simplesmente isso: a juiza (e o Estado brasileiro) estão me condenando porque eu estudei - e isto me descaracterizaria como "trabalhadora rural" . É que a Justica Federal do Brasil está fundamentada no conceito de estratificação social, e nessa ideologia os indivíduos só tem direitos dentro das grades da sua própria condição social. O sujeito é sujeitado ao arbítrio da injustiça social. Trabalhador rural deve estudar, saber assinar o próprio nome, para poder votar... e continuar mantendo essa "democracia" - apenas formal. Trabalhador rural não precisa de curso superior. Este é propriedade das classes dominantes. Curso superior é um bem simbólico das classes privilegiadas. A juiza Tatiana não perdoa a minha ousadia, de ser jornalista... e preferir ser camponesa ! A juiza Tatiana discrimina os camponeses que ousam obter a cultura da classe dominante. O Brasil não é um país de todos.
A Justiça Federal está mostrando a sua verdadeira face: desumana. Minha defensora não pode questionar as minhas testemunhas (que afinal compareceram e confirmaram a minha condição de trabalhadora) porque "poderia parecer que ela queria influenciar as testemunhas". Isso pode ? Pra que então defensoria e testemunhas ? Ela me disse que eles não foram firmes, não mostraram certeza em suas respostas à juíza. Mas essa impressão de hesitação, essa possível dubiedade, foi determinada pelo carater duvidoso das próprias perguntas feitas durante a audiência. Coisa que eu percebi na hora e apontei no ouvido da minha advogada, a defensora pública - que aliás parece não ser tão pública assim... afinal. E se houve dubiedade, esta foi mesmo condicionada pela origem do sistema republicano, em sua própria estrutura mistificadora.
Karl Marx afirmou que a igualdade de direitos precisa ser individualizada, porque as pessoas são diferentes e suas necessidades não são as mesmas. Por isto, para que haja igualdade, há que observarmos cada caso, individualmente. A Justiça precisa ser diferenciada. Marx tinha razão. As pessoas não são iguais e por isto as leis não podem servir para todos enquanto não existir individuação. Para haver democracia (governo de todos) tem que existir liberdade de escollha e respeito do Estado às necessidades individuais dos cidadãos. Leis totalitárias, como essas do Estado burguês republicano, que temos aqui no Brasil, não servem à cidadania. São leis distanciadas da realidade concreta da sociedade. Sintoma de um Estado de ruptura social. Falta cidadania socialista. Esta semana foi aprovada no âmbito do INSS, Lei que permite ao trabalhador rural exercer trabalho urbano, mesmo assalariado, e ele pode escolher um valor para sua futura aposentadoria, ou seja, agora está permitido unir trabalho urbano e rural. Vamos ver se na instância superior, pra onde foi o meu processo kafkiano... a justiça será capaz de se fazer, afinal.

Joyce Pires.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Regressão Humana (26 nov.08)

O tempo do psiquismo ocorre em duas dimensões distintas, uma evolutiva, outra histórica. A evolução psicológica integra o passado ao presente, numa unidade, e o conflito só vai existir quando essa integridade for rompida por uma regressão patológica. É o passado que promove o presente e o torna possível. Na dimensão histórica, o presente, ao contrário, é que dá sentido ao passado e o torna compreensível. A história individual não pode ser escrita em termos de evolução... A regressão é uma virtualidade da evolução e uma consequência da história. Não realizar o presente é uma necessidade defensiva contra o contexto vivenciado. Nessa defesa psicológica, em seus conteúdos, é que vamos encontrar o sentido das regressões evolutivas
É através da angústia (ananke), a necessidade, que a evolução psicológica transforma-se em história individual. A angústia - dimensão afetiva da contradição interna - une passado e presente em relação ao outro, dando-lhes um sentido. A doença se processa em termos retroativos, um círculo vicioso: realimentação.
É preciso encontrar o centro das significações psicológicas a partir do qual, historicamente, o indivíduo vem configurando suas atitudes mórbidas. A angústia é a Necessidade, arquétipo enfermo, paradigma das condutas significativas de um processo civilizatório alienado da verdadeira humanidade.

Joyce Pires.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

NEGRA LUNA (24 outubro 2008)

Luna luna
negra Luna
parcelada em três faces ?

em tua face ocultas
a minha

que se vai
esvai
contigo

Luna Luna
negra luna
que se roça em minhas pernas
e me olha assim, profunda

Negra Luna, se vai

Luna
vai, no mar
se espelhar

quem sabe, às vezes
meu olhar encontres
nas espumas sobre a areia

e minha voz, quem sabe
no sussurrar das ondas,
na noite imensa.

(joyce pires)

Libertar o amor (21 setembro 2008)

Relacionamentos pessoais podem se configurar a partir de potências destrutivas e, quando isto ocorre, é sofrimento na certa. No início de um relacionamento amoroso até os conteúdos patológicos aparecem como fatores de encantamento... porque as enfermidades também se complementam.
Mesmo quando chegamos a perceber que estamos vivenciando uma relação desse tipo, neurótico, geralmente, uma relação de codependência, fica difícil reverter o processo. Porque não basta uma simples percepção; há que realizarmos a compreensão - é cortar as projeções, com ponta de diamante.
Vamos ver o que está acontecendo: o poder destrutivo do afeto pervertido vai se configurar numa relação que representa outra coisa que é justamente o contrário de si, dissimulando sua força destrutiva, um desvio; e essa tendência vai se alimentando dessa energia e se constela, afinal, num tipo de relacionamento que falseia a realidade. Até mesmo onde encontramos uma forma eficiente de representação, numa situação amorosa, lá estará camuflada a potência destrutiva; e não adianta tentar demonstrar a existência daquela realidade sem que seja explicitado o variado campo das projeções e seus múltiplos caminhos. Essas projeções precisam ser reconfiguradas, para que a farsa se mantenha. Então, se desejamos libertar o amor, vamos precisar de uma vontade suficiente para revolucionarmos os sentimentos. São transformações profundas, metamorfoses. Renascimentos.
Joyce Pires.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

COLÔMBIA E GEÓRGIA (09 SETEMBRO 08)

- O que países tão distantes entre si, como Colômbia e Geórgia, têm em comum ? O que podem ter em comum, além de habitados por seres humanos ?...
A Colômbia, na América, país de colonização espanhola, com uma economia estruturalmente agrícola, onde o plantio da coca é, historicamente, a base da sobrevivência dos produtores rurais... país dividido por uma luta de classes, que está em curso há mais de quarenta anos, entre grupos hegemônicos aliados ao imperialismo transnacional e as Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC)... que representam os oprimidos... país estratégico banhado pelos dois grandes oceanos, o Atlântico e o Pacífico, com um governo supostamente democrático.
A Geórgia, na região do Cáucaso, país saído da União das Repúblicas Soviéticas, com uma economia que se reestrutura, após um processo de socialização dos meios de produção... país que aparece agora invadindo a região da Ossétia do Sul, durante as Olimpíadas na China - aproveitando-se dos Jogos Olímpicos para "aparecer na midia" como vítima dos russos... é claro que a Rússia defendeu a Ossétia e respondeu ao ataque bombardeando a Georgia. Na região passa o petróleo e o gás produzidos e exportados para os europeus.

- O que esses dois países podem ter em comum ?... além da produção de petróleo...
Vou dar uma pista: o atual presidente da Geórgia é norte-americano, de origem georgiana, claro... mas, nasceu nos USA e possui um escritório de advocacia que representa vários grandes investidores norte-americanos na Geórgia; ou seja, ele é o intermediário dos capitais dos USA na Geórgia e, portanto, se constitui num aliado dos USA.

Agora a resposta é possível; não é mesmo ? Porque o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, também recebe grandes "investimentos" norte-americanos... ainda que não seja através de algum escritório de advocacia, mas com a finalidade de combater o "tráfico de drogas"... ele arma o país contra a população... está matando o povo...
- O que a Colômbia e Geórgia tem em comum é a INTERVENÇÃO DOS USA em seus territórios.
Aliás, esse momento se constitui na primeira vez, na História, em que os Estados Unidos da América (USA) tem a oportunidade de se aproximar do território russo e colocar seus mísseis assim nos limites do grande país comunista. A guerra, antes "fria", agora está completamente declarada e se esquenta, com os mísseis americanos colocados, estrategicamente, na Polônia e na Geórgia. O que os russos fizeram, invadindo a Geórgia, foi apenas uma atitude defensiva.

Os USA estão se aproveitando de um momento de fragilidade da Geórgia para desestabilizar a região das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Na imprensa burguesa internacional você vai ouvir opiniões absurdas, onde a Rússia é acusada e a União Soviética é chamada de "ex-união soviética", que teria "se desintegrado"... O fato é que a União Soviética não se desintegrou. As Repúblicas Socialistas Soviéticas passam por um processo institucional de reestruturação (perestroika); um processo econômico e social que foi decidido durante o congresso que escreveu a Constituição Soviética de 1977, e que foi posto em prática em 1986, durante o governo de Mikhail Gorbachev. Este foi um plano de reestruturação das repúblicas socialistas para promover o desenvolvimento completo das forças produtivas, trabalho e tecnologias. Para a ideologia capitalista geralmente torna-se impossível perceber a grande diferença que existe entre investir os capitais em desenvolvimento humano e o investimento de capitais na competição desumana... No modo de produção capitalista, a opção pela guerra e militarismos tornou-se questão de sobrevivência do próprio modo de produção, que só se mantém, ainda, aviltando os povos e a dignidade humana mundo a fora, porque se vale da violência como forma de se expandir ou se globalizar.
A perestroika não é só uma questão interna, soviética. Como semente da paz mundial, a reestruturação política da URSS precisa ser compreendida como um tema universal. É um olhar para dentro do socialismo e significa mais socialismo. Não é a desintegração da URSS, mas mais democracia, a verdadeira, socialista. Significa abertura e coletivismo na vida diária, mais cultura e humanismo na produção, relações sociais e pessoais mais intensas, mais dignidade e respeito próprio para os indivíduos. É a revitalização do processo revolucionário iniciado em 1917. É uma nova revolução; arte do possível. É um fortalecimento do socialismo.
A perestroika é um programa, decidido pelo 27º Congresso do PCUS, realizado em Moscou, de 25 de fevereiro a 6 de março de 1986 e obteve expressão através de muitos Atos Estatais Legislativos aprovados pelo Parlamento - o Soviete Supremo da União Soviética. Faz parte desse programa revolucionário a promoção da reestruturação da federação, com a individuação política de cada uma das repúblicas da União Soviética, quando cada nação deverá promover seu próprio desenvolvimento, mantendo, é claro, os laços formados na comunidade, baseada na fraternidade e cooperação, no respeito e na assistência mútua. Os processos nacionais são diversificados e as contradições são próprias de qualquer tipo de desenvolvimento. Cada nação possui uma raiz histórica e precisa de um tipo específico de desenvolvimento. A perestroika é a proposta que chega para garantir maior democratização das sociedades. O que importa nesse processo de reestruturação é que haja conscientização do papel da nacionalidade, sem exageros, que só dão margem a visões estreitas, rivalidade nacional e arrogância. É o internacionalismo revolucionário que sempre garante a base da igualdade e cooperação. E isto não interessa ao Consenso de Washington. "Dividir para imperializar" sempre foi o lema dos USA e, nesse momento, é isso que está ocorrendo, mais uma vez. A estratégia é sempre a mesma em qualquer lugar do mundo quando o assunto é petróleo, gás ou mesmo água... Invadem nações, jogam com rivalidades étnicas locais, fazem intrigas diplomáticas, plantam espiões, põem e depõem governantes... a lista de abusos é longa: Vietnã, Angola, Moçambique, Cuba, Brasil, Chile, Iraque, Afeganistão, e poderíamos continuar mundo a fora - os norte-americanos são incansáveis quando se trata dos interesses dos seus capitais. Sua voracidade e crueldade, sempre camuflados pelo "ideal democrático", estão aí, visíveis no noticiário, ainda que mistificados pelas agências de notícias do imperialismo.
O intervencionismo é um vício que não poupa diversos continentes e oprime, tanto as américas central e do sul, como países asiáticos, africanos e, até mesmo, os europeus. O intervencionismo não escolhe suas vítimas de acordo com situações geopolíticas apenas. O intervencionismo norte-americano escolhe suas vítimas especialmente porque precisa submeter todo o planeta aos ditames da reprodução ampliada do capital. É uma questão estrutural, de sobrevivência do modelo altamente consumista e destrutivo; esse modelo de capitalismo que está arruinando a vida na Terra.
Joyce Pires.

A TODOS (21 agosto 2008)

A todos que me calaram
a todos que me excluiram
e me deixaram
falando sozinha

A todos que não me veicularam
e me trancaram
nas gavetas

A todos que se negaram
a me ouvir
E a todos aqueles que me ouvindo
não me escutaram

A todos que me mandaram
plantar batatas (ao vencedor ?)
e aos que se plantaram
diante de mim sem ver

A todos que não se transformaram
ao som de minhas melodias
e não compreenderam a poesia

aos que me censuraram
amordaçaram
aos que me calaram
torturaram
A todos que me negaram
expressão, eu dou
A Voz do Silêncio.

Joyce Pires.

Senciente (14 agosto 2008)

Olhando a história da minha vida, posso dizer que ela foi, quase sempre, um trabalho persistente de compreensão da irracionalidade humana; tornar consciente essa irracionalidade, observada nos comportamentos pessoais e nas guerras coletivas. Agora, aos 59 anos, posso afirmar que minha vida esteve dedicada a esse esforço de compreensão, o que me permite sobreviver aos absurdos desumanos. Desde muito jovem, do que consigo lembrar, dos 3 ou 4 anos de idade, a contínua surpresa, o espanto, diante da bestialidade e crueldade, diante dos abusos e da indignidade; um olhar contemplativo me acompanha. Olhos de um outro de mim, meu refúgio e proteção, pelos quais atravessei as situações de conflito. A força auto-regenerativa das salamandras.
Meus sentimentos, naquele espaço que é meu... meu guia, orientação. Fonte de inspiração e intuição. Não deixo que as loucuras mentais determinem minhas escolhas. Minha criatividade está a serviço de uma estética-ética. Por isto é que a espiritualidade é um ponto de chegada. Sempre renovada, reestruturada. Uma percepção generosa, capaz de abraçar o mundo: minha vida é dedicada aos seres sencientes. Alegria.
Joyce Pires.

O jornalismo da TV aberta ( 29 julho 2008)

Estamos vendo muita propaganda de um chamado jornalismo participativo, atualmente... na TV aberta brasileira. E esse novo tipo de jornalismo estaria promovendo a participação do público: um novo tipo de noticiário, onde o cidadão teria vez e voz. Tempo de convergências e interatividade. Tempo de compartilhar. Democracia. Liberdade de expressão.
Sobram palavras de ordem. Falta a tal liberdade. Privilegia-se o medo...
Porque para haver liberdade de expressão esse novo jornalismo exige um novo modelo de reportagem, um formato diferente de entrevista, onde se aprofundem os temas da matéria, onde o entrevistado tenha mais tempo para ampliar suas idéias e expressar opiniões. Isto seria a tal liberdade de expressão.
Mas, o que vem ocorrendo é o de sempre ,matérias rápidas e superficiais, onde o fato, a ocorrência, ainda é o assunto privilegiado e a testemunha entrevistada, a "vítima" ou seus parentes indignados, mal tem tempo para uma lágrima ou apenas reclamar.
Entre muitos exemplos, vou escolher um, ocorrido na TV Record, quando um líder comunitário do Rio de Janeiro começava a opinar sobre a vinda de Forças Federais para manter a ordem na cidade, durante as eleições para Prefeitura, em outubro. Ele dizia que não precisamos da Força tarefa; "basta que o Estado faça a sua parte".
Se o jornalismo fosse novo, realmente, seria o caso do repórter perguntar então o que significa, para esse líder comunitário, essa "parte" que cabe ao Estado cumprir: Qual a função do Estado.
Mas, a matéria foi interrompida depois da fala do tal líder e ficamos sem saber afinal qual é a tarefa do Estado, neste caso, ou seja, durante as eleições municipais.
-Estaria o líder comunitário referindo-se a algo específico, ou ele pensava apenas em "segurança pública"; na polícia civil e na militar, estadual ? Quem sabe pensando que o Estado promoveria assim a luta de classes ?!
- Um jornalismo aberto, renovado e participativo, vai exigir uma nova postura de veículos e repórteres. Abrir a midia à participação e à interatividade significa tempo de exposição. Não apenas alguns segundos de fama... Mas, acessar conteúdos.

Joyce Pires.

Dignidade (20 julho 2008)

Dignidade é um modo de proceder que infunde respeito. Honra. Uma ética. Na astrologia, é a situação de um planeta em uma parte favorável do zodíaco. Digno é merecedor, habilitado, capaz, honrado, apropriado.
Que vale a pena ?
Dignificar é tornar-se digno.
Dignidade de maneiras ou linguagem... Dignidade no modo de nos relacionarmos: nós não precisamos de um nacionalismo mas de um planetarismo; não de um internacionalismo totalitário e indiscriminado, anárquico e globalizado... mas de um planetarismo privilegiado: onde a Terra, liberta do consumismo possa ainda sustentar seus filhos.
Nós precisamos de uma comunidade. Isto é dignidade. Respeito mútuo.
É uma relação de espiritualidade ou princípio de consciência. Diversidade. Uma estética-ética.
Eu não preciso de dinheiro para ter dignidade. A minha capacidade transcende a produtividade. O modo como me relaciono é a prioridade. E o que me faz digna é a maneira como vivencio a realidade e o convívio... a convivência, a generosidade.
Dignidade é procedimento ético. É um ponto de chegada. É um Bolero de Ravel.

Joyce Pires.

Violência desumana (22 abril 2008)

(à memória de Isabella)

- A violência não é da natureza humana; ela é condicionada historicamente. E o caminho do seu refinamento é um caminho espiritual: somente com o trabalho de reumanização alguém conseguirá alcançar a verdadeira natureza humana, que é suavidade. Isto é uma ética.
- A brutalidade é consequente de um longo processo de aviltamento da humanidade, quando a inteligência é substituida pela voracidade e pela agressividade. Mas, essas não são humanas, elas são apenas características residuais de uma condição animal ancestral - que se manifestam quando não se criam situações de transcendência, na formação social. A sociedade capitalista psicopatiza os indivíduos.
- Violência e brutalidade não são vocações humanas. Nossa vocação é a suavidade.
Criar ou educar são atos de amor.
Observe o comportamento das crianças pequenas: costumam agredir irmãos e amiguinhos durante as brincadeiras, fazem birras com os pais, batem, berram, resistem a obedecer... toda sorte de violência. São como animais, como um bode implicante, sempre tentando impor as mais absurdas atitudes, medindo força com o dono, com a autoridade... Poder ?
Mas, a vocação da criança é ser humana. E crescer significa justamente humanizar-se.
Joyce Pires.

domingo, 23 de novembro de 2008

FOLHA (22 nov.08)

Folha de bananeira
lisa lâmina
espada
rampa

desagua
a lágrima

verde, na chuva ampla
reluz por dentro de prata

trêmula nas pontas
ao pingar escorre larga

afiada memória
folha verdejante
molhada tela

amortalha
minha dor, folha
onde tudo é divino
amor calha.

(joyce pires)

Alerta News (13 julho 2008)

Nesses tempos de convergência de midias, Ciber TV, digitais e TV aberta, é bom lembrarmos em que tipo de contexto a cibernética se expandiu pelo mundo... Como quase ninguém sabe, nem mesmo os profissionais da midia, foi durante a segunda grande guerra imperialista (conhecida como segunda guerra mundial) que os primeiros computadores foram utilizados, por um governo... para fazer o censo dos habitantes de um país. E pasmem: a tecnologia norte-americana, recém desenvolvida - IBM - foi utilizada por Hitler e pelo nazismo, para fazer o censo dos judeus, em toda a Europa. Anter de invadir um país, Hitler mandava a IBM e seus computadores, ainda no nível dos "holerits", aqueles cartões perfurados, que depois passaram a representar os cartões de controle dos trabalhadores, os "cartões de ponto", que acabaram sendo sinônimo de "recibo" dos nossos salários... como eu dizia, a IBM chegava com seus escritórios e agentes da informática e se instalavam no país, que depois seria invadido pelos alemães nazistas. Assim, Hitler podia conhecer quem eram os judeus, em cada cidade, e localiza-los facilmente e prendê-los. Era a cibernética (norte-americana) a serviço do holocausto ! É, amigo leitor, a IBM, em seus primórdios, foi contratada por Hitler para cadastrar os judeus. Claro, que depois, o proprietário da IBM tentou impedir que sua empresa continuasse servindo ao nazismo e sua terrível proposta totalitária. Mas era tarde. Quando a IBM enviou a ordem para que seus funcionários desmontassem os escritórios europeus e retornassem aos EUA, as chefias locais já haviam sido corrompidas pelas "idéias" lucrativas... do nazi-fascismo. Vários países já estavam sob o controle de Hitler e os campos de concentração já funcionavam a todo vapor... milhões de judeus morriam nas câmaras de gás ou assavam nos fornos do inferno hitlerista. O monstro racista já se instalara em quase toda a Europa, cobrindo a humanidade com a nova tecnologia totalitária... de vergonha e indignidade !
Sob o horror dessa guerra delirante, sob o terror do totalitarismo, se esconde uma verdade terrificante. A sandice racista(*) é apenas a ponta de um iceberg chamado modo de produção capitalista, essa maneira de produzir bens e serviços extremamente injusta e antidemocrática, em sua última fase ou estágio, o imperialismo, que hoje conhecemos pelo nome asséptico de "globalização". Em tempos de convergências ..... é sempre bom ressaltarmos essa informação.

(*) Nota: A eugenia nasceu nos USA (EUA) e foi praticada em muitos colégios do governo, desde o final do século XIX até há pouco, nos anos 60 do século XX. Atenção !
Joyce Pires.

A força do alimento (10 julho 2008)

No Abecedário do filósofo Gilles Deleuze, vamos encontrar muitas jóias mas, é no Alimento que certamente nos surpreedemos: como ele diz, é uma festa... comer as três maiores delícias, que são uma Trindade: miolo, tutano e língua...
O Miolo é o Pai, é Deus, é o Conceito; o Tutano é o Filho, é Jesus, é o Afeto; e a Língua é o Espírito Santo, é o Percepto. Deleuze se entusiasma com seu insight e logo percebemos a sutileza da sua Fome. É uma fome de espirito e integridade. Dos bovinos, ele fica com as partes mais significativas: o cérebro, a medula óssea e o músculo da fala. Estranho paladar ?
Gilles Deleuze acredita que esses alimentos são mais ricos em nutrientes... apesar de serem considerados partes "menos nobres" e mesmo nojentas. O que importa é o nível nutritivo, que transcende o físico. É alimento simbólico, capaz de fortalecer o corpo enfraquecido do filósofo francês, que contraiu tuberculose quando jovem ? Mas, Deleuze não escolheu tais petiscos apenas por seu valor nutricional ou medicinal. Ele vai mais além, até do valor simbólico ou significante. Quando dimensiona a trindade cristã, está apelando à uma espiritualidade que aponta para o seu próprio campo semântico. Para o filósofo, a nossa Língua-mãe é o fogo da percepção. E comê-la é se apoderar da força divina.
Joyce Pires.

Por que as leis não são cumpridas ? (l2 junho 08)

Você poderia pensar que isto ocorre porque as pessoas simplesmente não gostam das leis, ou porque elas não servem, ou porque algumas são injustas... ou porque muitas pessoas são bandidos... bem, você pode dizer muitas coisas sobre esse fato...
Afinal, por que muitas das nossas leis não são cumpridas ? Por que não são regulamentadas ? Será porque elas foram feitas por pessoas que estão muito distanciadas de nós, simples mortais ? Quem são essas pessoas que fazem as leis ? Não são os "nossos representantes" no Congresso ? Então, por que as leis não nos servem ? Por que não se cumprem ? Vamos ver isso mais de perto. O que acontece de fato ?
As leis são um conjunto de regras que pretendem colocar ordem e justiça, para que as pessoas possam conviver com alguma harmonia, amenizando os conflitos sociais; para que os bens disponíveis na sociedade possam ser usufruídos com equanimidade... bem, isso seria o ideal; não é mesmo ? Entretanto, a realidade parece não acompanhar esse compassivo paraíso legislativo.. Por que ?
Vamos ampliar o foco:
O que é o legislativo ? - esse "poder" que compõe o âmbito da República, essa forma de governo, com seus "três poderes", o Executivo, o Legislativo e o Judiciário; onde cada um interfere para que a harmonia entre eles seja mantida... foi Montesquieu quem sugeriu, e a idéia pegou! Onde ?... na república burguesa !
Mas, por que isso "deu certo", ou seja, "pegou" ? Ah... mistério.
Vamos nos entender: o Congresso Nacional ou Legislativo, onde as leis são feitas, é uma instância ideológica do Estado Republicano e as relações sociais, onde as leis são aplicadas, são uma instância concreta, real; elas são o cotidiano das pessoas, com seus conflitos pessoais, enfim, as relações de classe que, na formação social capitalista, são relações conflitantes, competitivas, que constituem a chamada "luta de classes" ( que se reflete no congresso).
Então, essa diferença, esse desnível, entre o ideológico e o concreto, é o motivo porque as leis não podem ser cumpridas em todos os momentos... Porque, na formação burguesa, capitalista, não existem as condições necessárias para que a harmonia - que as leis pretendem - se realize plenamente.
Quais seriam essas condições necessárias para o cumprimento das leis ?
Veja: se as leis são feitas no âmbito da ideologia, ou seja, são produzidas na superestrutura da formação social, ou seja, "distante" da concretude real das relações sociais, precisamos de um "canal" ou uma mediação, que possibilite o contato necessário com a realidade da estrutura social, que é feita de relações sociais e relações de produção. Esse canal seria o Estado ? Poderiam ser as ONGs (organizações não governamentais) ? Afinal, como transformar o ideal em realidade ? Isso pode ??
Utopia ? ... Ou ciência ?!
As formações sociais são um processo histórico e dialético e as relações sociais harmoniosas só podem existir no âmbito do desenvolvimento espiritual do ser humano e isto significa uma cultura libertária.
Enquanto as classes dominantes se servirem do Estado burguês para manter a Ordem, em favor de seus próprios interesses egoístas, não haverá maneiras para o cumprimento das leis. Nenhum judiciário será capaz de fazer valer uma lei, e isto não é assim nem mesmo porque a burocracia ou a falta de juízes... promovam as prescrições e os equívocos... mas, simplesmente, porque essas leis estão aí para sustentar um formato de governo que não serve à maioria das populações desse planeta e só o tem feito é promover a destruição da dignidade humana e o próprio Planeta.
Essa forma, esse modelo republicano de governo, não passa de uma impostura ! É uma grande farsa que uma minoria de privilegiados vem reproduzindo durante séculos para manter sob opressão a maioria das populações desse planeta.
E não será com violência que vamos combater essa forma ignorante de governar ! Não utilizaremos a mesma arma que eles ! Não! A nossa arma, ao contrário, será a nossa inteligência humana, essa inteligência que cintila em nossas mentes, e que nos faz humanos, uma inteligência amorosa, capaz de compreender e criar novas formas de ser, onde o ter não seja o motor da história.

Joyce Pires.