domingo, 23 de novembro de 2008

A força do alimento (10 julho 2008)

No Abecedário do filósofo Gilles Deleuze, vamos encontrar muitas jóias mas, é no Alimento que certamente nos surpreedemos: como ele diz, é uma festa... comer as três maiores delícias, que são uma Trindade: miolo, tutano e língua...
O Miolo é o Pai, é Deus, é o Conceito; o Tutano é o Filho, é Jesus, é o Afeto; e a Língua é o Espírito Santo, é o Percepto. Deleuze se entusiasma com seu insight e logo percebemos a sutileza da sua Fome. É uma fome de espirito e integridade. Dos bovinos, ele fica com as partes mais significativas: o cérebro, a medula óssea e o músculo da fala. Estranho paladar ?
Gilles Deleuze acredita que esses alimentos são mais ricos em nutrientes... apesar de serem considerados partes "menos nobres" e mesmo nojentas. O que importa é o nível nutritivo, que transcende o físico. É alimento simbólico, capaz de fortalecer o corpo enfraquecido do filósofo francês, que contraiu tuberculose quando jovem ? Mas, Deleuze não escolheu tais petiscos apenas por seu valor nutricional ou medicinal. Ele vai mais além, até do valor simbólico ou significante. Quando dimensiona a trindade cristã, está apelando à uma espiritualidade que aponta para o seu próprio campo semântico. Para o filósofo, a nossa Língua-mãe é o fogo da percepção. E comê-la é se apoderar da força divina.
Joyce Pires.

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