domingo, 16 de novembro de 2008

Diário de Bordo / 06 março 2008

A bordo do veleiro voador, mais uma vez, regulo o foco para desvendar a atual situação geopolítica na América do Sul. A guerrilha revolucionária, organizada pelas FARC, na Colômbia, está libertando alguns "prisioneiros de guerra ", empresários ou líderes políticos colombianos, e isto vem acontecendo através da mediação do presidente da Venezuela, Hugo Chaves. Esta semana, após a libertação de alguns desses "presos", o presidente da Colômbia promoveu um ataque às FARC, que estavam em território do Equador; ou seja, a Colômbia invadiu o país vizinho... um "Estado soberano". O caso foi parar no Conselho da OEA (Organização dos Estados Americanos), com sede nos EUA (USA)... que repudiou a "invasão", mas não condenou a Colômbia ! O Presidente do Equador está no Brasil, pedindo ajuda... e o Presidente Lula o recebeu. Rafael Corrrea recebeu também apoio da Nicarágua...

Temos aqui uma conjuntura muito especial, em nossa América. As FARC são realmente uma Força Revolucionária, que se mantém com recursos do "tráfico" de coca (coca índia) e do sequestro de cidadãos colombianos e produz uma situação de guerrilha muito específica, no contexto do país de origem. Na verdade, trata-se da venda de folhas (chá) de coca. Na verdade, o povo colombiano tem, como o povo boliviano, na produção de coca, o seu princ ipal meio de sobrevivência. Isto é um fato concreto da realidade colombiana e é tão verdade que podemos ver na TV Brasil, no canal de Integração da NBR, matérias com o produtor explicando como planta a árvore de coca e extrai suas folhas... com detalhes apropriados para uma verdadeira aula. As FARC cobram impostos apenas dos "intermediários"; não cobra imposto do produtor.

O governo burguês (de direita) da Colômbia, se orgulha quando "combate" o "tráfico de drogas"... com a ajuda norte-americana... A verdade é que o governo da Colômbia recebe milhões de dolares para "isso", mas os interesses de Washington são muito mais geopolíticos do que meramente anti-drogas. A presença ostensiva das forças armadas norte-americanas na Colômbia é mais do que suficiente para provar essa realidade. USA e abusa... Farsantes !

Quando Colômbia e EstadosUnidos invadem o Equador, com o argumento de que as FARC estavam ali, naquele local, estão é fustigando o verdadeiro inimigo: a democracia socialista, em processo de desenvolvimento, na América do Sul.

Na atual situação, o processo histórico, é um contexto com vários governos de esquerda, que variam do populismo nacionalista do índio boliviano, passando pela social democracia no Chile e na Argentina (onde duas mulheres estão na Presidência) e claro, o nosso Partido dos Trabalhadores, com o Lula, no Brasil. E a Venezuela, de Hugo Chaves, esse líder-esfinge comunista, possível substituto de Fidel Castro no enfrentamento com o "grande irmão" do norte - não tem o glorioso histórico de Fidel mas tem o petróleo. A Venezuela é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e faz parte da Opep, a organização liderada por Kadafi, o líder socialista doOriente Médio, presidente da Libia e inimigo dos USA.

As FARC são como os sandinistas da Nicarágua, um grupo revolucionário. Esse ataque ao Equador,no qual foi morto o segundo chefe das FARC, Raul Reys, significa, do lado americano, uma estratégia de fustigação, para sinalizar a presença dos USA na América do Sul. Os USA precisam fabricar guerras, para manter o modo de produção capitalista em expansão crescente; isto se chama "globalização". Do lado colombiano, significa que, ao atual presidente da Colômbia, não interessa a negociação com as FARC - porque a mais preciosa prisioneira, a franco-colombiana Ingrid Betancourt, que está em vias de ser libertada, é a sua principal oponente, no processo político do país. Os esforços pela libertação de Ingrid Betancout são feitos não só por Hugo Chaves, mas pela família de Ingrid e pelo próprio presidente da França (que é de direita !). É uma situação muito especial. Há que observarmos também o papel das forças paramilitares, que estão a serviço dos interesses imperialistas.

Imagine se a Colômbia e os USA justificassem uma invasão de um país vizinho porque simplesmente ali se instalassem alguns inimigos, por exemplo, aqui no Brasil... Nós fazemos fronteira com a Colômbia,como o Equador. Aliás, já tivemos problemas com as Farc, que sequestraram alguns brasileiros... Qual é a diferença ?

A diferença é que as FARC controlam parte do território da Colômbia. As Farc lutam há quarenta anos pela libertação do país! A Colômbia é uma nação dividida, com dois governos, um "eleito"... outro, conquistado pela guerrilha socialista - que está constituida, DE FATO, num processo histórico, no seio da uma sociedade ! As FARC são já parte da realidade, da VIDA da sociedade colombiana e sua atuação é ação do povo em armas. Trata-se de um processo revolucionário, com características próprias e legítimas.

O "governo oficial burguês" só o que tem que fazer é reconhecer as FARC como representantes da "classe" que se opõe ao "governo burguês" e aos USA, e negociar a libertação dos reféns. Há que espeitar o trabalho das FARC !

Mas, a libertação de Ingrid Betancourt parece não interessar ao Sr. Alvaro Uribe. Ele deve temer a sua volta... prefere, talvez, que "morta", ela possa ser neutralizada. Engano seu. Se Ingrid vier a falecer nos próximos meses (dizem que ela está muito fraca) sua força só irá crescer e motivar ainda mais a luta de libertação do seu país pela via socialista e revolucionária. Como ocorre agora com Raul Reys.
Se as FARC são a Colombia, ou seja, se parte do território colombiano é governado de fato pelas FARC, nada mais natural do que "fazer fronteira" com o Equador. E este país reconhece o governo das Farc. A Colombia oficial não faz fronteira com o Equador.
Aqui está a verdadeira questão. A região de fronteira é uma imensa área de selva, mata densa, e ao Equador não interessa controlar, ou porque confia no governo das Farc, ou porque não dispõe de forças armadas suficientes para vigiar regiões de fronteira: "é uma área muito porosa", disse o presidente do Equador.
Toda essa discussão em torno da invasão do Equador pela Colombia se ilumina quando compreendemos o uso queWashington vem fazendo da Colombia, como em tempos idos fez de Cuba (na época de Batista): USA e abusa. Fidel libertou Cuba do jugo. Talvez Hugo Chaves não seja um Fidel, mas um tipo de CHE... aquele que sonhava com as FARC, e deu a própria vida, em outra selva.
Joyce Pires .

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