quarta-feira, 25 de novembro de 2015

PARA LEMBRARMOS SEMPRE !!!



PARA LEMBRARMOS SEMPRE ! (12 março 2006)

   “O monopólio do capital torna-se um grilhão do modo de produção,
que nasceu e floresceu junto com ele e sob ele. A centralização dos meios
de produção e a socialização do trabalho alcançam por fim um ponto em que
se tornam incompatíveis com o seu revestimento capitalista. Esse revestimento explode e soa o dobre dos finados da propriedade capitalista privada. Os expropriadores são expropriados.
   O modo capitalista de expropriação, resultado do modo capitalista de produção, produz a propriedade privada capitalista. Esta é a primeira negação da propriedade privada individual, fundada no trabalho do seu proprietário. Mas a produção capitalista gera sua própria negação, com a inexorabilidade de uma lei da natureza: é a negação da negação. Ela não restabelece a propriedade privada do produtor, mas lhe dá uma propriedade individual baseada na aquisição da era capitalista, isto é, na cooperação e na posse comum da terra e dos meios de produção.”
                                                 (O Capital, Livro 1, cap.32 – Karl Marx)

  Quando Marx ressalta que o processo de transformação da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social é inexorável, ele está dizendo que a socialização dos meios de produção é uma dupla negação.
É preciso compreender, aqui, a existência da dialética nas relações sociais de produção, que são o conteúdo concreto da categoria (abstrata) de “modo de produção”. Essas relações, então socializadas, são relações de cooperação, com direitos e deveres iguais, relações de produção democráticas, portanto.
   O capitalista é uma categoria da produção. Não é apenas um proprietário.
Capital é algo que existe na produção, no processo de produção. Não é “fortuna” ou muito dinheiro.
   A dialética está aqui, assim: o caráter social da produção capitalista é a antítese da acumulação privada capitalista. É a primeira negação.
A síntese ocorre com um salto de qualidade, que é um momento historicamente rápido, ou seja, ocorre num curto período de tempo.
O que é longo é o processo de transformação da propriedade privada na propriedade privada capitalista. Este é o atual processo chamado de globalização -  que eu já chamei de internacionalização dos meios de produção.
   A fase seguinte, segunda negação, é “a transformação da propriedade privada capitalista, que já se baseia praticamente na produção social em propriedade socializada”.  Marx disse que esta tomará menos tempo. Mudança inevitável, um salto quântico.
   Marx não disse que era iminente... Quem pensou isto não compreendeu os termos do Manifesto Comunista implícito no texto de O Capital: seu caráter conclamatório, seu chamado à organização da classe operária.
   À medida que o capitalismo se amplia e se globaliza, sobrevivendo através de seus ciclos, declina sua lucratividade. Suas crises também são globais... A transição é uma reestruturação (Perestroika) e ela é transparente (glasnost).

(Lua Nua, XI Ensaio, do contexto – Joyce Pires)

domingo, 22 de novembro de 2015

ESTELO



ESTELO        (22 nov.2015)

Voei para a minha solidão
Pássaro sem nome
Sem desejos
Apenas contemplação.
- O que me faz sentir assim?
Esse estranho estrangeiro
do interior
sereno diante de si mesmo
e excluído da normalidade...
exótica figura se destacando
em meio a sombras...
Será o ponto primordial
de todas as narrativas?
Todos os véus que encobrem
tua verdade
não são escolhas que você fez...
Padrões impostos introjetados
amarras em tuas mãos
correntes na garganta
para não gritar: te amo!
A polarização é sempre o rastro
mais fácil
na tradição dos animais, das feras...
Difícil e raro é o caminho mais belo
quando do imaginário se faz o estelo.

(Joyce Pires – Poesia)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015


Não vivo mais sem você



NÃO VIVO MAIS SEM VOCÊ  (17 nov. 2015)

Não vivo mais sem teus olhos.
E quando vem a noite
eles estão mais próximos.
Porque são feitos do luar.
E por mais estranho que seja
eles não brilham.
A luz não reflete.
Eles se fecharam
para me ver melhor.

Não vivo mais sem tuas mãos.
Enquanto durmo, elas me cobrem...
pedindo meu corpo, puxando meu ser,
me querendo sua. Para si.
Seus longos dedos percorrem dunas
nos desertos da minha pele
e esculpem oásis de luz e de sombras
quando se aprofundam em sonhos.
Lascivas e úmidas. De paixão.

Não vivo mais sem teus lábios.
Nos beijamos e você enlouquecia.
Se entregando, pedindo
me querendo sua. Você me atingiu
o âmago. E na voz, o gozo.

(Joyce Pires – Poesia)


A fera está no âmago da cela.
Fora, seu olhar espera.
No interior da sala:
o selo, a sela.

(Joyce Pires - Poesia – 17 nov.2015)

sábado, 14 de novembro de 2015

A PASSAGEM AO SOCIALISMO



A PASSAGEM AO SOCIALISMO  (28 julho 2013)

BLOCO HISTÓRICO é um conceito de Antonio Gramsci, o nosso grande teórico da práxis revolucionária. Um bloco histórico é uma situação histórica que engloba uma estrutura social (as classes sociais que dependem diretamente da relação com as forças produtivas) e uma superestrutura ideológica e política. O vínculo orgânico entre esses dois elementos é realizado por grupos sociais das superestruturas: os intelectuais. São os “funcionários” da superestrutura jurídica, política e ideológica – os representantes da classe hegemônica (em nosso caso, brasileiro, a  burguesia associada ao imperialismo, os proprietários do capital e dos meios de produção). São os gestores da sociedade civil.
  O bloco histórico é o ponto de partida de uma análise da forma como a ideologia (sistema de valores culturais) impregna e penetra, socializa e integra uma formação social – isto se constitui em hegemonia. Quando a hegemonia é alcançada, integrando a formação social, dizemos que o bloco histórico se realizou: houve a unidade orgânica da estrutura (economia) com a superestrutura (que reproduz as relações de dominação política e jurídica).
  O que nos interessa analisar é como se desagrega a hegemonia e cria-se um Novo Bloco Histórico operário e camponês, por exemplo.
   A sociedade civil é a direção cultural e moral e a sociedade política é o aparelho estatal. A sociedade civil reúne o conjunto dos organismos “privados” e corresponde à função de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a sociedade. É a hegemonia cultural e política de um grupo social sobre o conjunto da sociedade como conteúdo “ético” do Estado: associações políticas e sindicais patronais, corporações, igrejas, mídias (tv, rádio, cinema, publicidade) e entidades como os conselhos de profissionais liberais, como OAB, ABI, de Medicina, etc.  É o que Marx chama Estado e Sociedade: o Estado são os aparelhos de Estado e a sociedade é o fundamento intelectual e moral do Estado (ver em Crítica no Programa de Gotha, Karl Marx). Diz Marx: Essa sociedade (civil ou burguesa) abrange o conjunto das relações materiais dos indivíduos no interior de um estágio determinado de desenvolvimento das forças produtivas. A sociedade civil forma a base do Estado e do resto da superestrutura idealista. Nela o Estado se concretiza. A ideologia da sociedade civil, da classe dirigente, abrange todos os ramos da ideologia, arte, ciência, economia, direito etc. É uma “concepção do mundo” difundida em todas as camadas sociais para vinculá-las à classe dirigente.
   A ideologia de classe está agindo. Por exemplo, quando um representante de algum grupo dominado, como um trabalhador rural... é eleito para uma câmara de vereadores ou deputados, ele naturalmente muda o poder aquisitivo... dado aos altos salários da função, no regime republicano burguês e capitalista. Então, ele muda de classe social. Se ele não tiver uma sólida convicção ou consciência ética, de sua origem trabalhadora, poderá ser corrompido. Porque essas câmaras são templos da corrupção, históricos.
Nota: Atenção para o retrocesso. Não como foi em 1964, com um golpe de Estado, militarista, mas, um golpe “civil”, que pode ser dado “legalmente”... através do próprio Congresso, impedindo o avanço do processo dialético Governo// Movimento popular.
  Essa ideologia, por adaptar-se a todos os grupos, costuma receber vários nomes: filosofia, religião, senso comum, folclore. É a direção ideológica da sociedade e se difunde nas escolas, mass media, bibliotecas, ou seja, nas organizações (aparelhos) que a criam e divulgam, como as academias e igrejas.
   A sociedade política, também usada pela classe dominante para exercer sua hegemonia, consiste nos aparelhos do Estado, Parlamentos, governos executivo, judiciário e seus complementos (polícias, tribunais, cárceres) etc. Aqui, incluímos os Partidos Políticos, embora, como o Parlamento (que elabora as leis), sejam igualmente órgãos da sociedade civil.
  Na verdade, a classe dominante utiliza e combina as duas instâncias (civil e política) no exercício de sua hegemonia.
   O Bloco Histórico se forma quando estrutura e superestrutura estão ligadas organicamente. Esse vínculo, realizado pelos funcionários intelectuais precisa ser renovado diariamente para que o bloco se mantenha no poder.
Os sinais de crise de um bloco podem ser observados quando, por exemplo, uma decisão de governo, de um Ministério de Educação, é questionada pelo Conselho de Medicina – caso recente em nosso país e já analisado neste livro, em “Duas Visões do Mundo”, 10 julho 2013.
  Uma crise orgânica só conduz ao Novo Bloco hegemônico se as classes dominadas conseguem, ANTES da crise tornar-se visível, organizar-se e construir sua própria direção política, ideológica e jurídica. Apoderar-se do Estado significa ter hegemonia na sociedade civil e na política. Não é suficiente uma eleição para a Presidência da República...
   Como as classes subalternas são excluídas da vida política e cultural (real) por falta de intelectuais orgânicos, ou porque esses estão de certa forma censurados..., acaba que seus representantes são os da classe  dominante e sua organização autônoma nem sempre ultrapassa o âmbito econômico-corporativo (sindicatos etc). Só lentamente, a classe assalariada (operários e camponeses) consegue produzir seus “quadros” capazes de elaborar conteúdos revolucionários – e isto geralmente só acontece após a tomada do poder estatal...
  A crise orgânica aparece na ruptura entre as classes dominadas e a ideologia dominante. Mas, a cisão só pode se desenvolver e durar se for acompanhada de uma tomada de consciência ideológica e política. A consciência de sua própria condição histórica, seu papel na Revolução. Essa consciência de classe é que fará com que aspire à direção do Novo Bloco Histórico, com nossa própria Visão do Mundo, uma nova concepção de organização social capaz de recriar a hegemonia em novas bases. Isto é a Ética da verdadeira Política, capaz de criar um Partido realmente revolucionário, para as condições atuais: uma verdadeira liderança política.

  Liberar a dinâmica econômica dos entraves da política tradicional (fisiologista, corrupta, nepotista, etc) exige a formação de um Novo Bloco Histórico sem contradições internas – um bloco hegemônico. A hegemonia implica em consenso dos grupos aliados e, portanto, exige compromisso. A assimilação das camadas aliadas é necessária e urgente, para mudar a direção política de certas forças presentes no processo.Atenção para o retrocesso, o avanço do fundamentalismo nazista religioso..
A luta ideológica é uma “guerra de Posições”. Esta é a estratégia possível nas condições históricas atuais. Adaptar-se ao Bloco atual e transformá-lo. Senão, é guerra civil.

(Poesia – Joyce Pires)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

MYSELF



MYSELF  (25 julho 1997)

Que tanto procuras ?
Ártemis
Pra destruir...
São esses heróis baratos, teseus
Falsos... humanos
Que te possuem mas não te amam...
E se te entregas, te abandonam
Ariadne...
Deste ciclo não sairás
Nem como Ártemis.
De que adianta bancar a invulnerável
Se o que desejas é ser amada ?

Mas, não te angustie
Deusa querida
Você não sabe
Mas todo esse equívoco e abandono
Aconteceram
E acontecem
Simplesmente porque és minha!
... não percebeu ainda ?
Teu Dioniso!

(Graça Divina – Joyce Pires – letra da
Música 038, em 15 abril 1998 – fita 06)

domingo, 8 de novembro de 2015

ANÁBASIS



Seus olhos são duas luas negras
navegando no céu, soberanas
porque a Terra partiu-se
e gerou uma outra de si.
Mais jovem... idêntica à primeira ?

Seus olhos asiáticos e místicos
revelam na noite, indômitos
curvas centrífugas
veios, câmaras, hades
Katábasis nos tártaros
em busca das juras dos Raios
às águas do rio Estige.

Seus olhos de gueixa
contemplam a parúsia
e quase tristes

Duas luas negras
quase noite sem fim.

(Joyce Pires  -  Poesia)


MARIANA

Minha indignação transbordou do poço
como lama tóxica e escorre
pelos rios e vales...
desesperadamente
da alma de Mariana.

(Joyce Pires – Poesia  - 8 nov.2015)

NÃO VIVO MAIS SEM TEUS OLHOS



Não vivo mais sem teus olhos.
E quando vem a noite
eles estão mais próximos.
Porque são feitos do luar.
E por mais estranho que seja
eles não brilham.
A luz não reflete.
Eles se fecharam
para me ver melhor.

(Joyce Pires – Poesia – 6 nov.2015)

PEDRA NEGRA



Senhora Pedra Negra Lua Laura
quanto te busquei nos últimos anos
Lua radiante de beleza, água profunda...
e assim tão transparente para mim.
Abissal e fonte.
Sim, busquei em desespero
em meus delírios mais tênues
e azuis.
Tantas vezes cantei seu nome
entre as notas quase azuis
de flores desenhadas numa pauta
de partituras cósmicas
refletindo ao sol.
Tantas vezes.

Quase azul
Quase triste
Quase noite sem fim.


(Joyce Pires – Poesia – 6 nov.2015)

CELLO



CELLO    (24 out. 2015)


Mas, cala. Faz silêncio agora.
Apenas o arco na corda
vibrando no espaço
compondo a melodia.
Esse fio entre nós.
Agora, o silêncio e o cello.

Cessaram as bombas
e seus vestígios
nas cidades em chamas.
Os homens se foram, calados
partiram refugiados.
Meninos nas praias...
até isso da mente, apaga.
Apenas a corda e o arco
deixa ficar.

(Joyce Pires – do livro Poesia)

sábado, 7 de novembro de 2015

SOBE A NASCER



SOBE A NASCER    ((30 novembro 1999)

Vem, irmão, sobe
“sube a nacer conmigo, hermano”...
“dame la mano desde la profunda
zona de tu dolor diseminado”
Hablad, fala
Por mis palabras y mi sangre.
Fala! :
O sonho não acabou.

Vem, sobe a nascer comigo
Irmão
Me dê a mão
Nessa canção platinada
A lembrar Pablo Neruda
Em seus caminhos, luas do sol,
Nas trilhas de Macchu Picchu:
Que o luar já está a brilhar
Luar que une, ata, atante
Religa pelo ar, no ato, atlante
Atuante.

Como el musguito en la piedra
Si si si. (bis)


(Hathanoir  -   Joyce Pires – letra da
  Música 156, em 02 dezembro 1999)


CORPO SUTIL



CORPO SUTIL   (13 nov.03)

Um caracol é uma espiral
E a sua forma geométrica
Está para o material
Do que ele é constituído
Assim como o que ele é
Jorrou do que ele não poderia ter sido.
Um caracol é uma casa
Colada num próprio corpo
Finca pé
no chão ao alcance da mão.
Um caracol é uma espiral
Embora alguns não o consigam reconhecer
E ele continuará o sendo
Assim mesmo naturalmente um ente
Da natureza
Quer você queira ou não.
Um caracol é uma espiral
deslizante
Na folhagem espessa do brejo
Um vislumbre exuberante
De sutilezas.

(Magnífica  -  Joyce Pires  - letra da
Música 364, em 14 nov. 03)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015


AZUIS



AZUIS     (08 DEZEMBRO 2002)

Elas estão de volta em nosso jardim
As flores azuis e seus tons
Outra vez, aqui e no fundo de mim
Elas, as mais belas
E meus olhos despertos se lançam
Avançam sobre os vários planos
Das encostas da mata e das montanhas
No declive, as copas das árvores
Meu olhar ascende ( nas folhas, o vento)
E delineia seu vulto verde
Que me veste a alma e contemplo
E é tanta serenidade, essa calma
Que me despe a alma
De qualquer temor ou medo
Seu relevo
No quadro da janela
E não há mais nada
Nem mesmo a saudade
Somente essa calma serenidade
Entre elas, as mais belas
Em primeiro plano, e adiante o vale...
E em volta desse azul, o outro azul
Lá do azul do céu.

(Magnífica – Joyce Pires – letra da
  Música 332, em 09 dez 02)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

IRA QUE



IRA QUÊ ?   (21 março 2003)

-Quê ira é essa que me deságua?
Ao ver a ONU esmagada
Pela falocraCIA do império do norte -
Da morte de mártires iraquianos
Em nome da farsa consumista
Desses capitalistas perversos republicanos
Liderados por um Bush nazi-fascistas
E por um trabalhista... imperialista!
-Quê ira é essa que me transita?
E me indigna e me afasta da vida
Dessa vida desumana
Com seus mísseis e belicismos
-Quê ira é essa?
IRA QUE! IRAQUE! IRAQUE!
IRA que pede, grita, conclama:
Que todos saiam às ruas
E internets da vida
Que todos gritem pela paz! PAZ
-Saddam Hussein não é tirano
Nem um ditador!
Porque, a verdade seja dita:
Dita-dor é o nazi-Bush assassino
Sobre o qual eu despejo a minha IRA!

(Magnífica (p.62) – Joyce Pires – letra
  da música 343, em 23 ago 2003)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015



O POVO     (08 abril 2009)

   Quando a gente fala a palavra povo, que o povo precisa de comida e roupas, precisa de casa e  educação, saúde, transporte etc, etc...  o que se tem em mente é justamente a população mais pobre, o popular, os desprotegidos, descamisados, os humildes:  Povo...  Mas, será que esse povo foi sempre o mesmo ?  Será que, na história do desenvolvimento das relações sociais, esse povo se constituiu sempre das mesmas classes sociais ?  Vamos ver isso de perto:

   Na Grécia antiga, na época da “Polis”, onde moravam os “cidadãos” e o modo de produção social era a Escravidão... já se falava em “Governo de todos” e a palavra para esse conceito é Democracia.  Claro, democracia dos cidadãos... com os escravos plantando e colhendo os alimentos que os cidadãos comiam...
   Mas, o que nos interessa aqui é o modo de produção capitalista e, portanto, vamos entrar nessa História, quando as relações sociais sofriam profundas transformações, com a ascensão de uma nova classe, que agora além do poder econômico também queria o poder político  -  para ampliar seus capitais. E isto nós vamos compreender melhor observando a França, dos séculos XVIII e XIX. O que era o Povo, então ?  Nessa época em França, existiam os chamados Três Estados. O primeiro Estado era o Clero; o segundo, a Nobreza e o terceiro, o Povo. A forma de governo era a Monarquia e o Estado unitário-territorial (ou o Estado Nacional) já estava constituído. Esse POVO, o terceiro estado, já tem consciência da sua força e dignidade e já impõe condições para consentir nesse tipo de governo absoluto.  Afinal, o Povo era a maioria da população. O clero se compunha de cerca de 130 mil membros, a nobreza em torno de 140 mil nobres e o terceiro estado (o Povo) já era uma população em torno de 25 milhões !   E o que era esse povo ?  Os burgueses ( do comércio e indústria), que somavam 250 mil; os artesãos, com 2 milhões e 500 mil;  e ....22 milhões de camponeses !  Esse Povo, juntos, pagavam impostos ao Estado, o dízimo ao clero e as taxas feudais aos nobres. Porque o modo de produção vigente era o feudalismo e os donos das terras eram os Senhores Feudais, ou seja, os nobres e o clero. Sim, porque a Igreja era proprietária da maioria do território europeu, não só na França;  desde a época das Cruzadas, quando a Igreja Romana pode se apoderar de grande parte da Europa.
   O que ocorreu então é que a burguesia ( os  ricos)  lidera a revolução, com a ajuda dos outros “povos”... e depois de tomar o poder  - -  que é algo que se precisa conhecer da nossa História ! (sugiro leitura do 18 Brumário de Bonaparte e Guerras Civis em França, de Karl Marx e também do Manifesto Comunista, de Marx e Engels)  --  trai os camponeses.  E essa parcela(a maioria da nação, sempre...), traída, continua, pelos séculos a fora, a ser chamada de POVO:  os camponeses e os artesãos, que depois vão se transformando em operários, ou seja, artesãos assalariados. Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, cada vez mais artesãos (e camponeses) se transformam em assalariados e hoje apenas os camponeses ainda são POVO. Porque os Operários já estão conscientes de que se constituem numa Classe ( a classe revolucionária) e somente o POVO ainda não se deu conta da sua força.   Bem, aqui no Brasil, por exemplo, já temos uma minoria desse povo (que ainda é a maioria da população  do País) que já tomou consciência da sua situação social e histórica e se organiza  =  já há 25 anos  =   em torno do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra ( MST).  E o restante desse Povo Camponês ?  O que fazem os trabalhadores rurais produtivos ?
   Se organizam em cooperativas capitalistas... em regime de economia familiar ( a maioria da produção que nutre o mercado interno)  e  na grande parcela do “povo do agro – negócio”, que servem de mão-de-obra assalariada aos conglomerados transnacionais que exploram as áreas rurais, com “financiamentos” dos bancos brasileiros.
   Esse povo aí é Polvo ...  não é Lula.

                                             (Diário do Bardo -  Joyce Pires  -  08 abril 2009)


IRA QUÊ ?   (21 março 2003)

-Quê ira é essa que me deságua?
Ao ver a ONU esmagada
Pela falocraCIA do império do norte -
Da morte de mártires iraquianos
Em nome da farsa consumista
Desses capitalistas perversos republicanos
Liderados por um Bush nazi-fascistas
E por um trabalhista... imperialista!
-Quê ira é essa que me transita?
E me indigna e me afasta da vida
Dessa vida desumana
Com seus mísseis e belicismos
-Quê ira é essa?
IRA QUE! IRAQUE! IRAQUE!
IRA que pede, grita, conclama:
Que todos saiam às ruas
E internets da vida
Que todos gritem pela paz! PAZ
-Saddam Hussein não é tirano
Nem um ditador!
Porque, a verdade seja dita:
Dita-dor é o nazi-Bush assassino
Sobre o qual eu despejo a minha IRA!

(Magnífica (p.62) – Joyce Pires – letra
  da música 343, em 23 ago 2003)


RESSONÂNCIA (18 JULHO 2000)

Que ternura é essa ? que me lateja, nas veias ?
E me acorda pela manhã bem cedo, um raio
E acaricia todo o meu corpo, dos pés à cabeça
E me arrepia os pelos e me desnuda ?
Um vento frio às vezes e logo esquenta
E ferve meus sentidos e me refresca os ouvidos...
E me faz tremer nas bases! Fervor! Medo!
      Que alegria é essa ? que me assalta:
O sentimento largo de uma morte súbita,
Um pressentimento no grito escandaloso dos gaviões?
- e eu sou a presa! Ou trigo maduro...
E me entrego inteira a esse amor
E me deixo levar nessa deliciosa tormenta
- tempestade e calmaria... De repente,
Me descubro ainda viva e jovem;
Naquela juventude dos dezoito anos
Diante da primeira revelação ? : sol.
       O que é isso que ressoa paz
       E que me faz assim tão linda ?
O que é isto? Que me reciclou...
Uma impressão profunda e transcendente ?
- A imanência do desejo, que me deseja.

(Lieberdade – Joyce Pires – letra da música 225,
  Em 15 dezembro 2000 – fita 31b/ fita 33)

SE



SE    (13 MARÇO 1999)


Se um dia você vier pra mim
Vai ser assim
Simplesmente assim :
Música e amor e poesia.
E nós duas saberemos afinal
Porque nos encontramos assim
Simplesmente assim :
Música e amor e poesia.

(Hathanoir – Joyce Pires –
 letra da música 131, em 13 março 99)


MINHA   (27 outubro 2009)

Minha e só minha
Nas malhas da hora que não chega
Nos segundos recontados nos dias
Em cada parcela espelhada nos meios
Nas faces recortadas, nas mãos, nos seios
Minha, só minha, meu rasto
Manada de belas ancas
Éguas soltas no pasto
Minha desesperança
Meu rastro
O mastro do navio
Riacho, leito de rio
Meu ninho perdido
Na esteira das engrenagens
Minha sorte selvagem
Apetite, voracidade do norte
Minha e só minha emoção
No volteio imaginário, desvario
Morte variada, sentimentos
Compartimento compartilhado, retardo
Minha, só minha rainha prisão
Magnífica em luz-som-cor-ação.

(Lógica e Tal  - Joyce  Pires – letra da
  Música 407, em 03 novembro 2009)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015



ENTERRADO VIVO !  (25 OUTUBRO 2011)

Al vai ser enterrado no deserto
Ocultado dos olhos do povo líbio
Numa tentativa desesperada
De evitar o inevitável: o mártir
Adorado será cantado e venerado
E mantido vivo em nossos corações!
Para sempre o revolucionário
Para sempre heróico
Para sempre libertário
Vigoroso, destemido
Viril, generoso
Honrado, querido
Humano e genial.
Al vai ser enterrado no deserto
E seu espírito, sobre a areia
Será o vento disseminando a luz,
Partículas do sol da primavera verde.
A Jamahiria, obra inabalável
De toda a sua vida
É a verdadeira estrela
Da lua crescente.

(Lógica e Tal – Joyce Pires)

KADAFI ESTÁ VIVO !!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015



HYPOKRITÉS  (do livro Poesia – Joyce Pires, 19 outubro 2015)
    Ator é o devoto de Dioniso, aquele que saiu de si através do êxtase, porque Dioniso mergulhou em seu adorador através do entusiasmo. O simples mortal, um ântropos, em êxtase e entusiasmo, transforma-se em imortal, torna-se um anér (herói), ultrapassa a sua medida, seu métron, o limite de cada um. Assim, ultrapassando sua medida animal, o anér transforma-se em hypokrités, aquele que responde em êxtase e entusiasmo, ou seja, o ator. Essa ultrapassagem é um descomedimento, uma violência (hýbris) feita a si próprio. O hipócrita, daqui em diante, será levado a realizar a metamorfose, a transformação, em cada tarefa ou obra, durante toda a sua vida. É o destino do ator: romper com todos os interditos da ordem política, social, sexual, simbólica ou religiosa. Contrariar todas as regras da Polis, mesmo a “democrática”, dos deuses olímpicos (patriarcais).
   O deus do Teatro é o contestador religioso da religião política da Polis. A tragédia grega nasce de uma suavização apolínea desse ímpeto criativo dionisíaco, com intuito educativo. É a apropriação da píton ancestral da matrilinhagem pelo patriarcalismo nascente. O hipócrita perde entusiasmo e ganha essa conotação atual de afetação de uma virtude que não se tem, de impostura, fingimento; falsa devoção ou hipocrisia. Apolinizado, o hipócrita se configura como violência feita a si mesmo e aos deuses imortais, o que resulta no ciúme divino e em consequente némesis, a punição pela injustiça praticada. O ator, anér, torna-se rival dos deuses, o que provoca a cegueira da razão (áte). O ator caiu nas garras do destino cego (moîra). O Estado suporta a metamorfose apenas no âmbito da fertilidade e da fecundidade; na dimensão da sensibilidade e das artes. Quando a transformação alcança o nível da reflexão, ela é tolerada apenas como tragédia - tragoidía, “o canto do bode” (trágos, bode + oidé, canto).


terça-feira, 29 de setembro de 2015



DIGNIDADE  (02 dezembro 2000)

Sim! Eu quero levar até o fim
Esse barco pelo mar xista
Navegando assim esse veleiro voador
Mamífero alado vegetariano exfera
Terráqueo virgem santo! Sem censura!
Sim! Eu quero tudo
A que tenho direito nesta vida
Quero cantar minha poesia violeta
Quero uma orquestra de sopros
Com piano e violinos
Harpas, tambores e sinos.
Eu quero dignidade sonora e guitarras
Em  todas as horas.
O ágape ? –Não!, a gáspea:
Eu e a minha dignidade lésbica!

(Poemas de Campanha – p.61 – Joyce Pires
 Letra da música 221, em 05 dez.00 – fita 31)





PASSE LIVRE (28 junho 2013)

Passe livre para o eterno aprendiz
Que deseja reconstruir esse país.

Passe livre para os que já passaram
Há mais de quarenta anos
Pelas ruas e enfrentaram

A ditadura mudou de fisionomia
Deixou o militar nas ruas
Mas continua burguesa e econômica
Mantendo sua hegemônica isonomia.

Passe livre, liebertando; o arco-íris !
Porque a liberdade não tem cura
Liberdade é a cura: da sociedade.

Passe livre aos revolucionários
Aos artistas recriadores, para amar.
Passe livre aos rebeldes humanizados
Que não se deixam assimilar.

Passe livre já liberando
A passagem dessa banda
E ao canto libertário.

Passe livre aos excluídos desviantes
Aos marginalizados exemplares excluídos
Até do fome zero...

Passe livre sem pasárgadas
Que a terra é nossa terra
E a luz é para todos

Passe livre para o eterno aprendiz desse país.


(Poesia – Joyce Pires – música 448, em 28 junho 2013)