quinta-feira, 22 de outubro de 2015



ENTERRADO VIVO !  (25 OUTUBRO 2011)

Al vai ser enterrado no deserto
Ocultado dos olhos do povo líbio
Numa tentativa desesperada
De evitar o inevitável: o mártir
Adorado será cantado e venerado
E mantido vivo em nossos corações!
Para sempre o revolucionário
Para sempre heróico
Para sempre libertário
Vigoroso, destemido
Viril, generoso
Honrado, querido
Humano e genial.
Al vai ser enterrado no deserto
E seu espírito, sobre a areia
Será o vento disseminando a luz,
Partículas do sol da primavera verde.
A Jamahiria, obra inabalável
De toda a sua vida
É a verdadeira estrela
Da lua crescente.

(Lógica e Tal – Joyce Pires)

KADAFI ESTÁ VIVO !!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015



HYPOKRITÉS  (do livro Poesia – Joyce Pires, 19 outubro 2015)
    Ator é o devoto de Dioniso, aquele que saiu de si através do êxtase, porque Dioniso mergulhou em seu adorador através do entusiasmo. O simples mortal, um ântropos, em êxtase e entusiasmo, transforma-se em imortal, torna-se um anér (herói), ultrapassa a sua medida, seu métron, o limite de cada um. Assim, ultrapassando sua medida animal, o anér transforma-se em hypokrités, aquele que responde em êxtase e entusiasmo, ou seja, o ator. Essa ultrapassagem é um descomedimento, uma violência (hýbris) feita a si próprio. O hipócrita, daqui em diante, será levado a realizar a metamorfose, a transformação, em cada tarefa ou obra, durante toda a sua vida. É o destino do ator: romper com todos os interditos da ordem política, social, sexual, simbólica ou religiosa. Contrariar todas as regras da Polis, mesmo a “democrática”, dos deuses olímpicos (patriarcais).
   O deus do Teatro é o contestador religioso da religião política da Polis. A tragédia grega nasce de uma suavização apolínea desse ímpeto criativo dionisíaco, com intuito educativo. É a apropriação da píton ancestral da matrilinhagem pelo patriarcalismo nascente. O hipócrita perde entusiasmo e ganha essa conotação atual de afetação de uma virtude que não se tem, de impostura, fingimento; falsa devoção ou hipocrisia. Apolinizado, o hipócrita se configura como violência feita a si mesmo e aos deuses imortais, o que resulta no ciúme divino e em consequente némesis, a punição pela injustiça praticada. O ator, anér, torna-se rival dos deuses, o que provoca a cegueira da razão (áte). O ator caiu nas garras do destino cego (moîra). O Estado suporta a metamorfose apenas no âmbito da fertilidade e da fecundidade; na dimensão da sensibilidade e das artes. Quando a transformação alcança o nível da reflexão, ela é tolerada apenas como tragédia - tragoidía, “o canto do bode” (trágos, bode + oidé, canto).