segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

IRIS MURDOCH (31 MARÇO 2008)

IRIS agora é um filme, que vi na TV outro dia. Logo tratei de procurar um livro dela para ler. Claro, tinha um, esperando por mim, na livraria da graçadivina... sincronicidade significativa.
Iris nasceu em Dublin, Irlanda, em 1919. Formou-se em Oxford, em 1944 e trabalhou no Serviço Social da ONU, na Bélgica, Áustria e Inglaterra. A Europa sofria então com a segunda grande guerra imperialista. Em 46, Iris recebeu uma bolsa de estudos para os USA mas o governo americano não aceitou seu visto, porque ela pertencia ao Partido Comunista Britânico.
Em 1948, Iris voltou para Oxford, para lecionar filosofia no St. Anne's College e lá ficou por quinze anos. Em 63 abandonou o magistério e passou a se dedicar à Literatura, vivendo em Londres, onde se filiou ao Partido Trabalhista.
Foi como filósofa que Iris escreveu seu primeiro livro, um ensaio sobre Sartre. Aqui, distingue a questão da objetividade, criticando o subjetivismo do existencialismo sartreano. O tema seria exposto em seus romances, o reconhecimento da existência objetiva onde o amor tem início... com a supressão da subjetividade excessiva.
Seu primeiro romance, de 1954, é Under the Net, que foi algo polêmico nos meios intelectuais europeus. O segundo, A mulher decepada, um mergulho psicológico no relacionamento de casais da classe média londrina.
O livro que li agora é uma tradução com dois romances de l963 e 4: The Unicorn e The Italian Girl.
O unicórnio é uma história NOIR, onde Iris nos fala dos envolvimentos de uma professora com um grupo de pessoas que cercam a figura de uma excêntrica mulher, o unicórnio Hannah.
A moça italiana é outra aventura estranha, narrada na primeira pessoa, por um homem... que volta à casa da infância, para o enterro de sua mãe, e encontra uma situação surpreendente, entre seu irmão, esposa e filha, todos envolvidos por um casal de irmãos de origem russa e uma criada italiana. As duas histórias contem a mesma preocupação, constante em Iris, o tema dos relacionamentos humanos, especialmente a questão da bissexualidade.
No filme Iris, a questão não é ressaltada, mas nos livros é o tema central; é o ambiente onde as pessoas flutuam.
Iris Murdoch foi uma grata surpresa agora, depois que conclui meu livro "O Corpo do Amor"; claro, não me veio somente agora, por acaso. Iris chegou, com sua mensagem libertária, como um presente, nesse ano em que completo 59 anos. Ela veio, com sua sensibilidade, suas descrições detalhadas e análises delicadas... veio, repleta de conteúdos celtas; esse imaginário que é o meu campo semântico e tão necessário de compreensão, hoje em dia, para que possamos atravessar essa passagem ao socialismo e superarmos a violência e o egoísmo. (O mal é um princípio de desligação; ele é incompatível com o Bem.)
O unicórnio é também a imagem do Cristo. E Hannah é usada como bode-expiatório, uma criatura legendária, um belo unicórnio.
"Mas, seria uma pessoa culposa ? Se ela é culpada, ela é como nós. E se ela não sente a culpa, ela não está aprisionada em si mesma."
"As vítimas do poder, e qualquer poder tem suas vítimas, ficam contaminadas. Então elas tem que transmitir, usar esse poder sobre os outros. Isso é o Mal, e a imagem imperfeita do Deus todo-poderoso é um sacrilégio. O Bem não é exatamente fraco. Porque ser fraco, ser uma vítima completa, pode ser outra fonte de poder." E é no bem que o poder se extingue. Quando encontra um ser puro, que apenas sofre e não tenta transmitir esse sofrimento. (O Bem convive com o Mal).
Na Moça italiana vamos encontrar o mesmo tema do sofrimento, analisado pelo personagem Edmund: "Ainda não queria ter tantos pensamentos. Queria ser, durante algum tempo, talvez, pela primeira vez, diminuto e simples, e lidar simplesmente, na alegria ou na dor, com outra pessoa. Eu a via agora, uma garota, uma estranha, e no entanto a pessoa que eu estava mais acostumado no mundo: minha moça italiana, e no entanto também a primeira mulher, tão estranha quanto Eva para o Adão que despertava aturdido". - A pessoa deve sofrer em sua própria casa ?
As personagens de Iris desejam liberdade para amar e amam mesmo quando o amor parece impossível em algum contexto adverso.
- Você não pode deixar de ver o filme e ler seus livros. É uma experiência única e fundamental. Prepare-se para se emocionar com o arco-iris.

Iris Murdoch morreu do mal de Auzheimer. E eu me pergunto como uma mulher tão genial, tão rica e criativa, cai nesse processo de esquecimento irreversível, quando a memória vai se apagando...? um céu onde as estrelas de repente vão se extinguindo, auto-consumidas por um inesperado excesso de fusão nuclear... a liberação de energia, resultante da fusão dos núcleos de hidrogênio para formar núcleos de helio, essa luz que nos aquece e ilumina agora. Tremenda energia !

Joyce Pires.

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