domingo, 5 de julho de 2015

O EXEMPLO DA CHINA (01 março 1999) Joyce Pires

O EXEMPLO DA CHINA (01 março 1999)



Mao Zedong, falando sobre a divisão do trabalho, refere-se à auto-suficiência: “e, como as coisas vão sendo mais fáceis agora que nos abastecemos por nós mesmos”... Abastecimento através da própria produção. É feudal ? Sim, foi. Mas agora significa um “passo atrás”, como estratégia. Apenas isso. “Formalmente nós violamos o princípio da divisão do trabalho”... “Nas nossas condições, através da própria atividade produtiva é, na forma, uma medida atrasada; mas na essência, é uma medida progressista que se reveste de grande importância histórica” (Obras Escolhidas, ed.Alfa Omega, p.439/444, de Mao TseTung).

O “outro elo” é o movimento de desenvolvimento da produção . Retificação e desenvolvimento da produção são dois movimentos de grande importância histórica.

“Desenvolvamos, alarguemos mais esses dois grandes movimentos que servem de base ao cumprimento de outras missões do nosso combate. Se conseguirmos isso, a libertação total do povo chinês estará assegurada.

Agora estamos no período dos trabalhos da Primavera; esperamos que os camaradas dirigentes, os funcionários e as massas populares de todas as regiões libertadas, dominem o elo da produção com sentido de oportunidade e alcancem sucessos ainda maiores que os do ano passado. Maiores esforços devem ser feitos este ano, muito especialmente nas áreas em que ainda não se aprendeu a desenvolver a produção”. A China vivia, então, a Guerra de Libertação contra o Imperialismo nascente, contra o Japão e seus lacaios.

Outro princípio chinês é a ótica da fartura. É uma lógica feminina, que não diferencia, não privilegia alguns poucos, desprezando a imensa maioria. É a ótica da grande mãe, Shing Mu.

“O princípio de organização do poder político da Democracia Nova deve ser o centralismo democrático, com assembléias populares a diversos escalões, determinando as medidas políticas de importância maior e elegendo os respectivos governos. Ela é simultaneamente democrático e centralizado, quer dizer, centralizado na base democrática e democratizado sob direção centralizada. É o único sistema que pode permitir plena expressão à democracia, dando plenos poderes às assembléias populares em todos os escalões, e ao mesmo tempo, garantir uma administração centralizada dos assuntos do Estado” (p.360).

As empresas como os Bancos (...) devem ser exploradas e administradas pelo Estado, de modo que o capital privado não domine a vida econômica do povo: eis o sentido principal da limitação do capital.

Mao disse: um escritor ou artista revolucionário não pode realizar trabalho significativo senão se liga às populações oprimidas, as exprime e lhes serve de fiel porta-voz. Só quando se é o seu representante se pode educá-las, e só quando se é aluno delas se pode chegar a ser para elas um professor. Depois que resolvemos essa orientação fundamental, que saber que se devem servir os operários, camponeses e trabalhadores em geral e saber como importa servi-los, ficam resolvidos os problemas de saber se é preciso pintar a luz ou as trevas, e o problema da união.

Fico assim pensando naqueles anos de preparação da Nova Democracia chinesa, quando Mao afirmava a fase inicial da revolução democrática em seu país como primeiro passo para o avanço em direção ao comunismo.

O caminho foi longo, mas aí está: a China, esse exemplo de planejamento, direção socialista e integração nacional. Verdadeira identidade cultural: com autoconsciência.

Diz Mao: “A luta revolucionária nas frentes da ideologia e da arte deve estar subordinada à luta política, pois as necessidades das classes oprimidas não podem encontrar expressão concentrada senão através da política. Os homens políticos revolucionários, os especialistas em política, os conhecedores da ciência política e da arte política revolucionária, são apenas guias desses milhões de outros homens políticos que formam as populações, cujas opiniões eles tem por tarefa recolher, sintetizar e fazer voltar de novo às populações a fim de que estas as aceitem e ponham em prática. Não são pois ‘homens políticos’ aristocratas, que fabricam carros encerrados num gabinete e se julgam grandes cabeças: aqui, casa única, não há sucursais. É nisso que consiste a diferença de princípio entre os homens políticos do proletariado e os políticos da burguesia decadente. E é precisamente por isso que a unidade pode ser total entre o caráter político da nossa literatura e da nossa arte e a sua verdade. Seria um erro ignorar esse ponto e aviltar a política proletária e os homens políticos do proletariado” (op.cit.p.125-6).

Mao diz: Em que devemos nos basear para distinguir o Bom e o Mau, nas intenções (desejo subjetivo) ou nos resultados (prática social) ? Os idealistas insistem nas intenções e ignoram os resultados; os partidários do materialismo mecanicista insistem nos resultados e ignoram as intenções. Nós, os realistas dialéticos, insistimos na unidade de intenções e resultados”.

É o que eu digo: Intenção iluminada, vida iluminada: sem erro !

Tudo o que possua um nível artístico relativamente elevado é bom ou relativamente bom. Sempre tendo em conta o resultado social. Esse é o critério artístico. Cada classe tem o seu critério político e artístico. Os trabalhadores devem determinar a sua atitude em relação a uma obra artística do passado, antes mais pela atitude tomada nessa obra frente ao povo e pela significação progressista que esta tenha ou não tenha tido na História. Quanto mais reacionário for o conteúdo de uma obra e elevado o seu valor artístico, tanto mais nociva será para o povo e tanto mais ela deve ser rejeitada. “O que nós exigimos é unidade política e da arte, unidade de conteúdo e forma, a unidade de um conteúdo político revolucionário com a forma artística mais perfeita possível” (p.131).

“As obras de arte que não têm qualidade artística não têm força, por mais progressistas que sejam politicamente”. E Mao completa: “O ponto de partida fundamental da literatura e da arte é o amor, o amor pela humanidade (...) mas desde que esta ficou dividida em classes nunca existiu esse amor assim geral (...) Há de haver, sim, o amor real pela humanidade, mas só quando as classes tiverem sido eliminadas em todo o mundo”.



- A síntese entre imanência e transcendência é a transparência... o brilho do “satin”. Falta muito pouco, meu querido. A grande hora do amor afinal se aproxima. Fica feliz, meu pai.



“De sobrolho franzido, desafio friamente

O dedo apontado do dignitário,

De cabeça baixa, converto-me voluntariamente

No búfalo da criança”.

(LuSun, “Para rir-me de mim mesmo”).



O dignitário, diz Mao, é o inimigo; a criança é o proletariado e as grandes populações. “Todos os comunistas, todos os revolucionários, todos os trabalhadores revolucionários da literatura e da arte devem seguir o exemplo de LuSun, e aceitar transportar o fardo até o último suspiro”.

Esse é o papel do intelectual orgânico, mesmo os pequeno-burgueses, da classe média. Ajudar, ligar-se às populações oprimidas; servi-las; e isto leva tempo. Um tempo para que aprendam, eles e elas, a se conhecerem mutuamente. Diz Mao: “ É possível, é mesmo inevitável que isso não se faça sem muito sofrimento e fricção, mas, se forem decididos, vocês chegarão ao objetivo”. Um longo período de estudo e trabalho... mas, o movimento de retificação sempre dará o fruto da transformação.



(trechos do livro Monólogos do Dilema – teatro - Joyce Pires - Fev.1999).









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