segunda-feira, 20 de julho de 2015

A IMAGINAÇÃO CRIATIVA



A IMAGINAÇÃO CRIATIVA (12 janeiro 2000)

A imaginação verdadeira é uma evocação ativa de imagens interiores, segundo a natureza, e constitui a verdadeira função do pensamento ou do poder de representação mental, que não tece fantasias aleatórias, sem meta ou fundamento; não joga com os objetos, mas procura captar a realidade interior através de representações fiéis à natureza. Esta atividade é um OPUS (obra). É um trabalho exato, cuidadoso e consciencioso através do qual o sonhador recupera e elabora o conteúdo que abre passagem do inconsciente para a consciência. Nossa vida é um sonho que recriamos a cada dia e libertamos durante a noite.
Todo desconhecido e vazio é preenchido com projeções psicológicas; é como se o próprio fundamento psíquico do investigador se espelhasse na obscuridade. O que se vê ou pensa ver na matéria são principalmente os dados de seu próprio inconsciente nela projetados. Precisamos ser conscientes da natureza psíquica das transmutações alquímicas.
 A projeção nunca é feita; ela acontece, ela está aí. Enquanto praticamos, enquanto realizamos nossas experiências alquímicas, vivenciamos conteúdos psíquicos; na realidade, são vivências do inconsciente, projeções.
 As projeções de conteúdos primordiais repetem-se todas as vezes que o ser humano tenta explorar uma escuridão vazia preenchendo-a com formas vivas. Há que ter discernimento.
 A matéria forma-se por um efeito de ilusão, que é a imaginação verdadeira.  Ela possui o poder de informar. São as fontes de revelação. Essas visões são iluminações divinas, que transcendem a razão – e só ocorrem no momento exato em que devem ocorrer. É a luz da natureza. Mas, é preciso usar o olho espiritual. É o olho do Ajna chakra quem desencadeia o processo. Ele é a imaginação ativa, a inteligência coletiva, que produz Prajna, a sabedoria transcendente ou intuitiva.
 O psiquismo é físico e espiritual. A energia Kundalini só está desperta em corpos saudáveis. Então, a Arte alquímica só se realiza quando não há debilidades (obstáculos) no artista. É essencial a integridade (ser um); ou seja, a consciência das polaridades e/ou anulação da diferenciação sexual e dissolução da própria identidade sexual em bissexualidade. A Kundalini é a sede da consciência superior e infinita; é a fonte transcendente de energia, um reservatório de criatividade e informações, a força inteligente, o dinamismo evolutivo, a força vital capaz de recriação. No “coração”, ela se manifesta em insights, compreensão profunda e novas idéias. É o poder do amor.
 O segredo oculto dos sábios é o conhecimento do sal e sua solução. Dirige teu espírito para o sal da liberdade: a imaginação criativa, verdadeira. Este é o terceiro termo, a síntese, a consciência.
 Há no corpo humano uma substância metafórica e/ou metonímica, de natureza tríplice (metafórica, física e psicológica ou ética), que é um remédio, um medicamento infalível. É uma substância arquetípica, primordial, chamada Verdade (veritas).   Essa verdade só a mente espiritual (Ajna chakra) percebe. Sua força é tão grande que opera milagres. Toda Arte consiste nesta verdade que liberta o espírito de suas cadeias. É a força suprema no corpo humano; a “luz dos filósofos”, a “chama que sai do negrume violáceo”, a “pérola”, a “Flor”; a “árvore” que nasce na cabeça de Eva (encéfalo) – egkéfalo (ego-falo).
  “A casa do tesouro da sabedoria hermética repousa sobre o fundamento de 14 virtudes principais: saúde, humildade, santidade, castidade, força, vitória, fé, esperança, amor, bondade, paciência, moderação, atitude ou compreensão espiritual e obediência”.
  A psiqué do artista está ligada à obra, como mediadora e como origem e ponto de partida (start), por isto é importante a constituição e a atitude mental e psíquica do alquimista. No começo da obra basta aborda-la com espírito livre e vazio. A mente deve estar em harmonia com a obra e deve estar acima de todas as coisas. O espírito dever ser sutil, paciente e perseverante, dócil e constante. Não deve ser voraz ou cobiçoso, apressado ou presunçoso, nem grosseiro ou rígido, indeciso ou inconstante. Deve ser correto e profundamente compreensivo, humano, alegre e feliz. A arte é uma concessão divina e só pode ser realizada através do amor decidido e perfeito; com devoção.
 - A imaginação é o astro no Homem, as forças do corpo e da alma.

  A imaginação ativa é a chave que abre a porta para o segredo do Opus. O lugar ou o meio para a realização é o espaço intermediário da realidade sutil, que se expressa adequadamente através do símbolo. O dragão alado é a vivência, a visão do alquimista trabalhando no laboratório (labora e ora): teorizando. O dragão é um símbolo que combina o princípio ctônio (terra) da serpente, com o princípio aéreo do pássaro. É uma variante do mercúrio (Hermes), o Hermes alado que se manifesta na matéria, deus da revelação, senhor do pensamento e psicopompo (guia da alma).  O dragão é o uno, o todo holístico, uróboro.
  O conhecimento secreto só é recebido por inspiração. É a realização de nossa verdadeira natureza, o si mesmo (self), o cristal puro, o diAmante.

 (Joyce Pires – Hathanoir)

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