sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DOMINGO, O ÚLTIMO (?) PÔR-DE-SOL DO GRANDE EU

(19 abril 2009)

São quase cinco horas da tarde de um belo dia muito azul de outono e o sol está quase desaparecendo atrás dos ciprestes... e dos últimos eucaliptos – inclusive, Ela, a grande árvore, my own. Hoje talvez seja o último pôr-de-sol que ela dividirá comigo. Amanhã devem cortá-la. Não mais a sua cabeleira de folhas prateadas. Não mais seu tronco de camurça macia, avermelhada... Suas belas formas, em grandes galhos-abraços: não mais. Amanhã, no chão. Depois, desmembrada, esquartejada, um Dioniso-zagreu. Árvore órfica.
Mas, metamorfoseada, poderá vir a ser até uma ... casa ! Ao menos, um telhado: linhas, caibros, ripas, tábuas. Quem sabe, móveis. Ou, talvez, com sorte, um barco, um mastro, ou mesmo o revestimento. Com certeza não será apenas lenha.
Agora, o sol se avermelha e as folhas do Grande Eu rebrilham luminescentes. Belíssima árvore: serena, com aquela tranqüilidade dos seres que já compreenderam. E ficará na memória, nas músicas, em fotos...
Vai tombar com um estrondo, como um trovão. E depois, cortada; e seus pedaços, em toras bem medidas... serão arrastados até ao caminhão. Árvore, gigante, dará muito lucro ate o fim desse processo. A mim, alimento.
E das suas raízes renasceremos, Ela e eu.


(Diário do Bardo - Joyce Pires)

Nenhum comentário: