quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PEDAGOGIA SEM DOMINAÇÃO (30 junho 2009)

Antonio Gramsci, do Partido Comunista Italiano, nosso grande teórico prático, se perguntava (e a nós) se, do ponto de vista histórico, uma nação ou grupo social, que atingiu um grau de cultura “superior”, pode (ou deve) acelerar o processo de educação dos povos e dos grupos sociais mais atrasados, universalizando e traduzindo de modo adequado sua nova experiência.
Trata-se da questão da educação no contexto do colonialismo ou do imperialismo, quando povos “civilizados” acreditavam, e ainda hoje “acreditam”, que podem (e têm o dever, de direito...) submeter povos “primitivos”, ou povos do terceiro mundo, aos padrões educacionais e tecnológicos avançados - como aqueles que achavam que escravizar era uma forma de educar moralmente - práticas comuns entre jesuítas e ingleses, por exemplo. Eles pretendem conservar sempre os homens no berço, isto é,nos lembra Gramsci, no momento da autoridade, que educa para a liberdade os povos imaturos. Hegel e Maquiavel, dialeticamente, achavam que a servidão é o berço da liberdade. Por isso que qualquer novo tipo de Estado passa por uma fase ditatorial: a servidão se justificaria somente enquanto educação e disciplina do homem ainda não livre. Pedagogia idealista; porque na dialética realista, educação não é uma luta contra a natureza mas a realização da verdadeira natureza humana, que só pode ser desenvolvida, de forma ativa e participativa, através de uma educação amorosa; e não, através da coerção e da submissão física, psicológica e cultural ou espiritual dos indivíduos.
Não pode ser nem a visão liberal e burguesa que é contrária ao “berço”, nem a visão mecanicista e idealista dos imperialistas e colonialistas conservadores, adeptos do evolucionismo determinista e vulgar.
A questão educacional, na transição ao modo de produção socialista, não pode ser uma função apenas das escolas, porque o aparelho dominante no capitalismo globalizado atual é a Mídia. Sem o trabalho de transformação dos “formadores de opinião”, ou seja, uma verdadeira metanóia (transformação dos sentimentos) dos produtores culturais, artistas, gente da cultura - o patriciado, essa fração da classe dominante, que Gramsci costumava chamar “intelectuais orgânicos” - não poderemos avançar em direção à libertação da nossa sociedade. Os currículos das escolas, desde os primeiros anos, precisam incluir noções básicas (os princípios) de socialismo, a nova concepção do mundo. Como também noções de História das Religiões, Mitologia, Canto, Música, Realismo histórico e dialético... e Hatha Yoga. Não adianta apenas criar novas escolas e alfabetizar. É preciso promover a reciclagem ideológica dos professores, artistas, jornalistas, cantores...
É bom relermos os textos sobre Educação, de Antonio Gramsci.

(Diário do Bardo - Joyce Pires - 03 junho 2009)

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