quarta-feira, 4 de novembro de 2015



O POVO     (08 abril 2009)

   Quando a gente fala a palavra povo, que o povo precisa de comida e roupas, precisa de casa e  educação, saúde, transporte etc, etc...  o que se tem em mente é justamente a população mais pobre, o popular, os desprotegidos, descamisados, os humildes:  Povo...  Mas, será que esse povo foi sempre o mesmo ?  Será que, na história do desenvolvimento das relações sociais, esse povo se constituiu sempre das mesmas classes sociais ?  Vamos ver isso de perto:

   Na Grécia antiga, na época da “Polis”, onde moravam os “cidadãos” e o modo de produção social era a Escravidão... já se falava em “Governo de todos” e a palavra para esse conceito é Democracia.  Claro, democracia dos cidadãos... com os escravos plantando e colhendo os alimentos que os cidadãos comiam...
   Mas, o que nos interessa aqui é o modo de produção capitalista e, portanto, vamos entrar nessa História, quando as relações sociais sofriam profundas transformações, com a ascensão de uma nova classe, que agora além do poder econômico também queria o poder político  -  para ampliar seus capitais. E isto nós vamos compreender melhor observando a França, dos séculos XVIII e XIX. O que era o Povo, então ?  Nessa época em França, existiam os chamados Três Estados. O primeiro Estado era o Clero; o segundo, a Nobreza e o terceiro, o Povo. A forma de governo era a Monarquia e o Estado unitário-territorial (ou o Estado Nacional) já estava constituído. Esse POVO, o terceiro estado, já tem consciência da sua força e dignidade e já impõe condições para consentir nesse tipo de governo absoluto.  Afinal, o Povo era a maioria da população. O clero se compunha de cerca de 130 mil membros, a nobreza em torno de 140 mil nobres e o terceiro estado (o Povo) já era uma população em torno de 25 milhões !   E o que era esse povo ?  Os burgueses ( do comércio e indústria), que somavam 250 mil; os artesãos, com 2 milhões e 500 mil;  e ....22 milhões de camponeses !  Esse Povo, juntos, pagavam impostos ao Estado, o dízimo ao clero e as taxas feudais aos nobres. Porque o modo de produção vigente era o feudalismo e os donos das terras eram os Senhores Feudais, ou seja, os nobres e o clero. Sim, porque a Igreja era proprietária da maioria do território europeu, não só na França;  desde a época das Cruzadas, quando a Igreja Romana pode se apoderar de grande parte da Europa.
   O que ocorreu então é que a burguesia ( os  ricos)  lidera a revolução, com a ajuda dos outros “povos”... e depois de tomar o poder  - -  que é algo que se precisa conhecer da nossa História ! (sugiro leitura do 18 Brumário de Bonaparte e Guerras Civis em França, de Karl Marx e também do Manifesto Comunista, de Marx e Engels)  --  trai os camponeses.  E essa parcela(a maioria da nação, sempre...), traída, continua, pelos séculos a fora, a ser chamada de POVO:  os camponeses e os artesãos, que depois vão se transformando em operários, ou seja, artesãos assalariados. Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, cada vez mais artesãos (e camponeses) se transformam em assalariados e hoje apenas os camponeses ainda são POVO. Porque os Operários já estão conscientes de que se constituem numa Classe ( a classe revolucionária) e somente o POVO ainda não se deu conta da sua força.   Bem, aqui no Brasil, por exemplo, já temos uma minoria desse povo (que ainda é a maioria da população  do País) que já tomou consciência da sua situação social e histórica e se organiza  =  já há 25 anos  =   em torno do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra ( MST).  E o restante desse Povo Camponês ?  O que fazem os trabalhadores rurais produtivos ?
   Se organizam em cooperativas capitalistas... em regime de economia familiar ( a maioria da produção que nutre o mercado interno)  e  na grande parcela do “povo do agro – negócio”, que servem de mão-de-obra assalariada aos conglomerados transnacionais que exploram as áreas rurais, com “financiamentos” dos bancos brasileiros.
   Esse povo aí é Polvo ...  não é Lula.

                                             (Diário do Bardo -  Joyce Pires  -  08 abril 2009)

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