O POVO (08 abril 2009)
Quando a gente fala a palavra povo, que o
povo precisa de comida e roupas, precisa de casa e educação, saúde, transporte etc, etc... o que se tem em mente é justamente a população
mais pobre, o popular, os desprotegidos, descamisados, os humildes: Povo...
Mas, será que esse povo foi sempre o mesmo ? Será que, na história do desenvolvimento das
relações sociais, esse povo se constituiu sempre das mesmas classes sociais
? Vamos ver isso de perto:
Na Grécia antiga, na época da “Polis”, onde
moravam os “cidadãos” e o modo de produção social era a Escravidão... já se
falava em “Governo de todos” e a palavra para esse conceito é Democracia. Claro, democracia dos cidadãos... com os escravos
plantando e colhendo os alimentos que os cidadãos comiam...
Mas, o que nos interessa aqui é o modo de
produção capitalista e, portanto, vamos entrar nessa História, quando as
relações sociais sofriam profundas transformações, com a ascensão de uma nova
classe, que agora além do poder econômico também queria o poder político - para
ampliar seus capitais. E isto nós vamos compreender melhor observando a França,
dos séculos XVIII e XIX. O que era o Povo, então ? Nessa época em França, existiam os chamados
Três Estados. O primeiro Estado era o Clero; o segundo, a Nobreza e o terceiro,
o Povo. A forma de governo era a Monarquia e o Estado unitário-territorial (ou
o Estado Nacional) já estava constituído. Esse POVO, o terceiro estado, já tem
consciência da sua força e dignidade e já impõe condições para consentir nesse
tipo de governo absoluto. Afinal, o Povo
era a maioria da população. O clero se compunha de cerca de 130 mil membros, a
nobreza em torno de 140 mil nobres e o terceiro estado (o Povo) já era uma
população em torno de 25 milhões ! E o
que era esse povo ? Os burgueses ( do
comércio e indústria), que somavam 250 mil; os artesãos, com 2 milhões e 500
mil; e ....22 milhões de camponeses
! Esse Povo, juntos, pagavam impostos ao
Estado, o dízimo ao clero e as taxas feudais aos nobres. Porque o modo de
produção vigente era o feudalismo e os donos das terras eram os Senhores
Feudais, ou seja, os nobres e o clero. Sim, porque a Igreja era proprietária da
maioria do território europeu, não só na França; desde a época das Cruzadas, quando a Igreja
Romana pode se apoderar de grande parte da Europa.
O que ocorreu então é que a burguesia (
os ricos) lidera a revolução, com a ajuda dos outros
“povos”... e depois de tomar o poder - - que é algo que se precisa conhecer da nossa
História ! (sugiro leitura do 18 Brumário de Bonaparte e Guerras Civis em
França, de Karl Marx e também do Manifesto Comunista, de Marx e Engels) --
trai os camponeses. E essa
parcela(a maioria da nação, sempre...), traída, continua, pelos séculos a fora,
a ser chamada de POVO: os camponeses e
os artesãos, que depois vão se transformando em operários, ou seja, artesãos
assalariados. Com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, cada vez
mais artesãos (e camponeses) se transformam em assalariados e hoje apenas os
camponeses ainda são POVO. Porque os Operários já estão conscientes de que se
constituem numa Classe ( a classe revolucionária) e somente o POVO ainda não se
deu conta da sua força. Bem, aqui no
Brasil, por exemplo, já temos uma minoria desse povo (que ainda é a maioria da
população do País) que já tomou
consciência da sua situação social e histórica e se organiza = já
há 25 anos = em torno do Movimento dos Trabalhadores
Rurais sem Terra ( MST). E o restante
desse Povo Camponês ? O que fazem os
trabalhadores rurais produtivos ?
Se organizam em cooperativas capitalistas...
em regime de economia familiar ( a maioria da produção que nutre o mercado
interno) e na grande parcela do “povo do agro – negócio”,
que servem de mão-de-obra assalariada aos conglomerados transnacionais que
exploram as áreas rurais, com “financiamentos” dos bancos brasileiros.
Esse povo aí é Polvo ... não é Lula.
(Diário do Bardo - Joyce
Pires -
08 abril 2009)
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